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Leitores - 11 de março 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Que tragédia!
O que nos atingiu naquela fatídica madrugada de 12 de janeiro foi algo surreal, algo nada visto ou sentido pelo já sofrido povo friburguense; uma coisa terrível que ficará guardada para sempre em nossa memória. Tenho visto os esforços de nossas instituições para tentar resolver, ou pleno menos diminuir o sofrimento de nossos irmãos, de nosso povo, sem pessoal, sem estruturas, todos trabalhando com afinco e dedicação para ajudar nossos irmãos que perderam bens, perderam vida, perderam entes queridos. É uma triste situação que se prolongará por muitos anos ainda e seus efeitos por muito ainda sentiremos - Deus que nos ajude e proteja. Apesar disso, algumas instituições ainda teimam em dificultar a vida deste povo tão sofrido e carente. Neste caso especificamente, a Caixa Econômica Federal pra mim não é novidade, afinal, os bancos, mercenários que são, só visam o lucro e o dinheiro; você pode ser um bom cliente a vida toda, mas num vacilo você passa a não valer nada, torna-se desacreditado. É verdade.
Sabe gente, tenho mais de mil fotos desta minha cidade, estive em todos os lugares possíveis e ainda tenho que visitar muitos. Dá pra chorar mesmo, e acho, pela desgraça que vi, que morreram muito mais pessoas do que o anunciado. Ninguém me tira isso da cabeça. E em todos lugares que fui, ouvi pessoas, conversei com moradores, os mais antigos preferencialmente, e o que esta gente passou... nem tento explicar. Ouvi cada relato, cada situação. Nossa, que horrível. Mas vamos ao que interessa - e é o motivo de minha indignação.
Estava na sede da Receita Federal aqui em Friburgo, resolvendo problemas particulares, quando adentrou a esta agência um rapaz, jovem, com aparência sofrida, de olhar vazio; retrato de um sofredor. Senti-me penalizado e iniciei uma conversa com ele; que triste, que sofrimento, e ele então começou a me contar sua via crucis: estava de posse de todos os documentos exigidos para ter direito ao aluguel social - um monte de documentos, ele mostrou-me -, e então foi à Caixa Econômica, pois o aluguel social já estava depositado em seu nome. Ele só não pode receber porque havia um problema com seu CPF. Sabemos que o aluguel social é por um ano. Ora: por que que a caixa não pagou este aluguel? Poderia avisar para este infeliz para procurar regularizar sua situação perante a receita ou não receberia o segundo mês, por quê?... Ainda mais numa situação desesperada com essa,. Disse-me o rapaz que morava no Alto do Floresta, havia perdido tudo, perdeu sua casa, perdeu sua filha de 6 meses, perdeu sua esposa; enfim, estava desesperado, desiludido, dormindo na rua, totalmente perdido. Disse que estava com a visão de um olho perdida e perdendo gradativamente a visão do outro olho. Veja que situação: desesperado, falava que a qualquer momento perderia a razão e acabaria por matar alguém - isto me assustou, mas numa situação qualquer um de nós seríamos um assassino em potencial. Gente, que situação. E entristeço em saber que idêntica situação passa dezenas de nossos irmãos... Não sei como uma história destas não consegue sensibilizar uma instituição - não sei -, ainda mais para receber um dinheiro que faz falta, que é necessário, mas que ninguém gostaria de precisar receber. Que se abram precedentes, que se ajudem a estas pessoas que perderam o amor pela vida, perderam a autoestima, que estão no fundo do poço, que não tem mais sequer estímulo para viver... Pelo amor de Deus, gente: sejam mais humanos, mais coerentes, sejam mais gente, estamos vivendo uma situação atípica, todos que estão tentando receber este aluguel social com certeza gostariam de estar agora junto de sua família, em sua casa; dói saber que possam até não existir mais... Sejam menos mercenários, sejam humanos, sejam gente, sejam flexíveis...
Jorge Plácido Ornelas de Souza
Resposta ao senhor Paulo Mattos
Caro senhor Paulo. Agradeço os elogios feitos às minhas mensagens enviadas para a redação da AVS. Entretanto, você alega que eu não deveria ter enviado a mensagem em que falo sobre a situação na Líbia. Conforme você disse: “Desculpe-me senhor Wilson, mas o assunto que nos interessa é Nova Friburgo. Essa é a nossa terra, a nossa vida...”. A tragédia que aconteceu no dia 12 de janeiro aqui em Friburgo me abalou muito. Escrevi sobre o assunto em um texto que foi publicado aqui na AVS, acho que no dia 25 de janeiro, com o título de “A natureza devastada resolveu protestar”. Devo dizer que esta casa onde moro foi construída pelo meu pai em 1960. Aliás, foi a primeira a ser construída no Debossan. Naquela época eu morava no Rio, mas adorava vir passar os feriados aqui em Friburgo e fazia questão de vir de trem, enquanto o mesmo existia. Lembro que passei muitos carnavais no Clube de Xadrez e em outros clubes. Sou um carioca friburguense, ou um friburguense carioca. Mas as pessoas não podem focar essa tragédia 24 h seguida sem parar. As pessoas que perderam seus parentes, suas casas, precisam reagir e lutar. E eu sinto que essas pessoas estão fazendo isso com muita coragem. Entretanto, elas precisam abrir uma brecha na tragédia do seu dia-a-dia para ver, ler e ouvir algo diferente da tragédia que enfrentam. Se não for assim, acabarão todos loucos. Sem dúvida nenhuma, elas precisam do apoio das autoridades. O papel dos governantes é estar ao lado do povo nas horas amargas. Se não estiver é porque está tudo errado. Para terminar, meu caro Paulo, eu remeto os meus textos para AVS, mas não existe obrigação da publicação dos mesmos. Acho que AVS tem um grupo competente de editores que sabe avaliar perfeitamente o que deve ou não ser publicado. Um grande Abraço, Wilson.
Wilson Gordon Parker

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