E assim se passaram cinco anos da tragédia – Última parte

quarta-feira, 03 de fevereiro de 2016

A vegetação nativa das áreas de preservação permanente foi ao longo dos anos sendo retirada para dar lugar a culturas agrícolas no cinturão verde que compreende Nova Friburgo, Sumidouro e Teresópolis. A erosão das margens dos cursos d´água e a perda do solo nas áreas de preservação permanente ocupada pela agricultura acarretou o assoreamento dos rios potencializando os efeitos das enchentes.

Com a frequência cada vez maior dos eventos climáticos extremos, atingindo inclusive regiões que se julgavam livres de tais fenômenos da natureza, as áreas de preservação permanente adquirem uma importância ainda maior no plano diretor. O município de Nova Friburgo foi o mais afetado pela tragédia ocorrida em janeiro de 2011. As enchentes e milhares de pontos de deslizamentos provocaram centenas de mortes, além de grande número de desabrigados e desalojados. Grande parte das áreas afetadas por deslizamentos haviam sofrido algum tipo de intervenção humana como a construção de estradas, edificações diversas, desmatamento ou queimadas. Escavações para construção de casas ou de estradas na base de morros ou montanhas com solo instável potencializam de forma significativa o risco de deslizamentos, visto que se retira total ou parcialmente a sustentação que ajuda a segurar o solo no restante da elevação.

O centro da cidade de Nova Friburgo foi bem mais afetado em relação a Teresópolis e Petrópolis, com inundações, deslizamentos de terra e de rochas das montanhas em consequência das chuvas. A canalização dos rios resolve o problema? Não, afirmam os especialistas. Em Nova Friburgo, em toda a extensão da cidade, muitos cursos d’água foram canalizados, com suas margens próximas ocupadas por estradas, pontes, calçadas e por edificações. Os defensores da canalização dos rios geralmente justificam a medida para retificar os cursos e acelerar a velocidade do escoamento da água para evitar ou minimizar o impacto das enchentes.

No entanto, na canalização de cursos d’água são desconsiderados alguns fatores que acabam transformando esses canais em bombas relógio. Um destes fatores é o crescimento das cidades, gerando cada vez mais áreas impermeabilizadas. Em caso de chuvas torrenciais, aumenta o volume de água e acelera a sua chegada ao canal fazendo-o transbordar. No caso de Nova Friburgo, observa-se ainda a existência de curvas em ângulo de 90 graus no canal, representando um verdadeiro barramento em caso de aumento do nível do rio. Da mesma forma que um carro precisa frear nas curvas, a água dos rios também teria que diminuir a velocidade nas curvas, e não o fazendo, projeta-se sobre as “áreas de escape”, gerando transbordamentos maiores nestes pontos. Num canal com ângulos de 90 graus potencializam-se os efeitos das enchentes, pois um grande volume de água ao chegar nestes pontos de estrangulamento, tende a se espalhar e procurar outros caminhos de escoamento, alagando áreas adjacentes muito maiores.

Para resolver os problemas anteriormente criados, as novas soluções de engenharia apontam no sentido de ampliar e acelerar a vazão alargando-se os canais. Conforme o relatório da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, do total de deslizamentos ocorridos, 92% estavam associados a algum tipo de intervenção como estradas, terraplanagens, desmatamento de encostas e topos de morro e degradação da vegetação nativa. O que merece destaque é que nas áreas com a vegetação nativa conservada, mesmo quando localizadas em áreas com alta declividade ou topos de morro ou montanhas, a quantidade de deslizamentos e rolamentos de rochas foi inferior a 10% do total dos sinistros.

Os cientistas alertam que os fenômenos climáticos extremos aumentarão em frequência e intensidade. Em razão disso, cabem aos governantes e a sociedade civil ocupar-se cada vez mais com o planejamento das cidades.

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    Praça Demerval Barbosa Moreira Enchente em janeiro de 1938 (Cortesia: Janaína Botelho)

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    Praça Getúlio Vargas. Enchente de 1920. (Cortesia: Janaína Botelho)

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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