E assim se passaram cinco anos da tragédia – Parte 2

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Até aproximadamente meados do século 20, a maior parte da população friburguense vivia no campo. No entanto, o emprego gerado pelas indústrias têxtil, metalúrgica e de artefatos de couro, a partir de 1911, passou a atrair a população para o centro urbano. Por outro lado, historicamente, Nova Friburgo se desenvolveu às margens da economia cafeeira de Cantagalo. Com o fim da escravidão, associado a outros fatores, os fazendeiros dessa região faliram. De plantação de café, a maioria das fazendas se transformou em criação de gado, que demanda pouca mão de obra. Cantagalo com o regime republicano é dividida em diversos municípios, todos com uma economia baseada no gado leiteiro. Consequentemente, o desemprego grassa nessa região. A partir de então, a população desses municípios foi migrando para Nova Friburgo em razão dos empregos das indústrias e do desenvolvimento da cidade. Nova Friburgo inchou! No entanto, os sucessivos governos do município não organizaram uma estratégia para recepção dessa população que imigrava continuamente. Morros e encostas foram sendo ocupadas desordenadamente tanto por residências das classes populares como igualmente pela elite. Em razão disso, a catástrofe de 2011tomou maiores proporções em decorrência das ocupações e usos inadequados das encostas no município. A maioria dos deslizamentos ocorreu em áreas com declividade acentuada e topos de morro que ofereciam riscos às edificações.

A tragédia socioambiental de 2011 atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro, mais especificamente os municípios de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Segundo o Departamento Geral de Defesa Civil do Rio de Janeiro, a tragédia apontou 910 mortos e 662 desaparecidos até o dia 18 de fevereiro. Nova Friburgo teve 426 mortos, Teresópolis 382, Petrópolis 74 e Sumidouro 22. São José do Vale do Rio Preto, Santo Antonio de Pádua e Bom Jardim, dois mortos, cada. Segundo a Defesa Civil estadual, as chuvas deixaram 23.315 desalojados (momentaneamente impedidos de voltar para casa) e 12.768 desabrigados (quem perdeu suas casas) em 15 cidades. Plantações, estradas, pontes, rede elétrica, residências, indústrias, prédios comerciais, hospitais, o teleférico e a histórica igreja de Santo Antônio, todos foram objeto do sinistro ambiental. Foram inúmeros os prejuízos materiais. 

Segundo a Secretaria estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, os prejuízos na lavoura da Região Serrana contabilizaram R$ 269 milhões. As enchentes e deslizamentos atingiram com muito mais intensidade as margens dos cursos d’água e encostas com alta declividade.

Segundo o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, os escorregamentos da Serra do Mar acontecem há 60 milhões de anos, e vão continuar acontecendo. Segundo ele, os escorregamentos são parte integrante e natural da Serra do Mar e mesmo sem a ação do homem pode haver deslizamentos. Nesse momento, me recordo do ouro de aluvião de descia dos morros de Cantagalo, ficando depositados nos rios da região, levando a coroa portuguesa a acreditar que havia descoberto uma nova “vila rica”, a exemplo de Ouro Preto. Os deslizamentos cessaram, o ouro esgotou-se, mas esse fato deu origem a ocupação do inviolável sertões do Macacu.

Observando o relevo das montanhas da Região Serrana do Rio de Janeiro percebe-se que ao longo dos anos ocorreram escorregamentos e rolamento de rochas. No entanto, a ação do homem desmatando, fazendo aterros e lixões potencializa essa instabilidade. A tragédia foi provocada não somente por enchentes, mas igualmente por deslizamentos de terra e de rochas. Em Nova Friburgo, a ocupação em encostas com declividade acentuada e nas margens dos rios ocorreu em todo município atingindo todas as classes sociais.

O que causou estranheza na tragédia de 2011 foram dois fatores: o primeiro foi o de ter ocorrido não somente nos bairros de classes populares que sempre foi uma constante, mas igualmente nos de classe alta, a exemplo da Rua Cristina Ziede, no centro da cidade. O segundo fator foi que a catástrofe que atingiu a Região Serrana afetou não somente bairros urbanos, mas igualmente áreas rurais. Continua na próxima semana. 

  • Foto da galeria

    Rua Farinha Filho em 2 de janeiro de 1938 (Cortesia: Janaína Botelho)

  • Foto da galeria

    1940 - Enchente na avenida (Cortesia: Janaína Botelho)

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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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