Segunda-feira blues

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Hoje é a segunda-feira mais triste do ano e embora tenha sido um dia triste como um todo eu só fui saber que é reconhecida oficialmente como tal agora à noite. Daí deu vontade de despejar em qualquer uma rede social da vida um manifestozinho de ódio às nações, de clamor aos patrões, de dane-se aos espertalhões. Sei lá. Em que momento, exato, entre o passado e o presente, entre as crianças fofas que éramos e este adulto sem explicação que somos hoje, nos tornamos este ser que precisa postar vídeo, letra, música e poesia inconveniente para atingir aquela outra pessoa, entidade, nação? Eu sinto isso o triplo. Se um ser humano normal, razoavelmente conectado, nascido nessa geração escrota que foi do mimeógrafo ao touch, já sente meio que naturalmente essa vontade de atingir, imagina eu, que consigo a palavra e a imagem exata para definir todo e qualquer sentimento meu? Eu só perco oportunidades pra não ser deselegante. Não falar demais. Mas ah, que vontade. Tem coisa que grita na cabeça da gente. Tira uma foto e mostra que está feliz. Posta aquela música que é pra ele ficar ligado. Se o patrão chateia, esconde. Se não é bom exemplo pro filho, restringe. Se for foto de casal, facebook; se for decotão, instagram. Solta a fumacinha contra a luz e clica, que é pro povo ver que tu é diferentão e fuma maconha. Cara, nós, deliberadamente, estamos permitindo fritação eterna do nosso cérebro e não é na Air Fry não, é óleo quente em frigideira velha. Mas não adianta nem a gente fazer pose e mandar vir quente que a gente tá fervendo. Não, cara. A gente tá é morno. Não vive mais. Só faz pose. Cérebro frito de tanto pensar, cabeça doendo querendo postar. E coração, frio demais pra sentir. Nem morno a gente é... até que explode. Aí, danou-se, deu-se a desgraça. A gente mandou aquela mensagem. A gente revelou aquele amor que não devia. A gente xingou o patrão. A gente fez qualquer uma dessas bostas que a mídia vende como liberdade, mas é só a involução do respeito. Não adianta brigar com o amigo que pensa diferente. Não adianta enfiar amor na goela dos outros abaixo, à força, como alguém fosse obrigado a aceitar. A gente escreve textão porque está triste. Entra no facebook pra posta indireta, na esperança de atingir o alvo. Atinge quatro mil e setenta e cinco pessoas, menos quem você quer. Mas antes de ir deitar frustrado, vai stalkear. De stalk em stalk descobre que hoje é a segunda-feira mais triste do ano. Poxa. Isso não dá só indireta. Isso dá uma crônica.

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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