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Notícias do Morro Queimado – última parte
Quando da chegada dos colonos suíços ao Brasil, o rei Dom João VI determinou algumas providências para o seu transporte do Rio de Janeiro até a Fazenda Morro Queimado, em Cantagalo, futura Nova Friburgo. O eclesiástico Pedro Machado de Miranda Malheiro, inspetor da colônia, estaria incumbido de cumprir as providências determinadas pelo rei de traslado dos suíços desde o Porto do Rio de Janeiro até o seu destino final. Conforme vimos no artigo anterior publicado aqui na última quinta-feira, 7, as determinações do rei foram cumpridas pelo inspetor da colônia.
A correspondência que os colonos trocaram com os seus parentes na Suíça, pesquisadas por Pierre Georges Bauer nos jornais Der Schweizer-Bote e Le Journaldu Jura, assim confirmam. Conforme as recomendações, de Tambi seguiriam até a vila de Macacu [Itaboraí] e daí seguiriam até a Fazenda do Colégio, depois para a povoação de Santa Ana e finalmente para a fazenda do coronel Francisco Ferreira. Essa fazenda seria hoje o município de Cachoeiras de Macacu.
Continuemos descrevendo as cartas que os suíços escreveram aos seus parentes sobre esse trajeto: “No dia seguinte partimos em cima de carroças bem feitas e cômodas contendo seis a oito pessoas cada uma. Alguns colonos andaram também a cavalo. Outros de mula, mas vários preferiam ir a pé, por lazer, o que não fazíamos mais faz tempo. De lá continuamos a pé por três horas até a Fazenda do Colégio, onde existe uma plantação de cana. As pessoas que não conseguiram andar foram colocadas em carroças pesadas, tiradas por oito bois, com guias pretos. Estes pretos tratam os pobres animais como os brancos aos pretos, quer dizer, desumanamente rude. (...) Chegamos ao Colégio que pertence a um particular enormemente rico que tem mais de 300 negros e moinho de açúcar, onde cada colono podia beber caldo de cana à vontade. Descansamos mais um dia e chegamos à plantação do coronel Francisco Ferreira (...) Entre estes diferentes lugares ou etapas não se encontra nenhum asilo, nem cidade, nem vilarejo, somente habitações frágeis na maioria desabitadas. Tambi, Colégio e Ferreira são três fábricas de açúcar. (...) Quando chegamos à moradia do coronel Ferreira, nas cachoeiras do Macacu, encontramos já prontos negros e mulas para carregar na serra as mulheres, crianças e debilitados, além da bagagem. Ferreira [se refere à fazenda] é ao pé da montanha que se precisa atravessar inteiramente para chegar ao Morro Queimado, a 12 léguas daqui. As carroças e os bois foram enviados de volta e somente os cavalos e as mulas ficaram. As crianças foram carregadas por escravos pretos. (...) De lá subimos a serra (...) pessoas idosas, mulheres, crianças e bagagens foram colocadas sobre mulas e cavalos até o registro da serra (...) Chegamos finalmente ao Morro Queimado, na região de São Pedro de Cantagalo, que se encontra numa distância de cerca de 27 horas portuguesas da capital.”
Com relação às casas nos quais os colonos foram instalados na vila, mesmo se queixando de suas precárias condições, na realidade, era como residia o homem médio brasileiro ou o português naquela época. Mesmo um abastado fazendeiro naquela região vivia com modéstia e sabemos que a vida material desses fazendeiros somente melhorará a partir do Segundo Reinado. Com relação às datas de terras distribuídas aos colonos, tendo como modelo a concentração dos mesmos em uma mesma área, de fato, foi um erro estratégico. Com tantas terras devolutas na região, se lhes fossem destinados sítios teriam evitado a evasão dos colonos e o projeto colonial possivelmente lograria êxito. Essa correspondência joga luz sobre um aspecto importante: havia intenção da Coroa que essa embrionária colônia lograsse êxito para abrir caminho a outras levas de colonos. Buscaram todas as formas de prover os colonos, mas subestimaram algo. Os colonos não deixaram suas terras para serem modestos agricultores e trocar “seis por meia dúzia”, conforme o jargão popular. Suas ambições ultrapassariam as do projeto colonial.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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