Combate à dengue e ao zika vírus: todos contra o Aedes Aegypti

Fiocruz planeja soltar mosquitos infectados por bactéria para combater doenças
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Pneus abandonados são criadouros de Aedes Aegypti
Pneus abandonados são criadouros de Aedes Aegypti

O governo do estado do Rio já realiza uma força-tarefa para combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, a febre chikungunya e agora também do zika vírus, capaz de provocar microcefalia. Um exemplo é a campanha “Dez minutos salvam vidas”, que incentiva o cuidado diário para impedir a formação de larvas, especialmente dentro de casa e em ambientes de trabalho, que respondem por 80% dos criadouros. Só na primeira semana de dezembro o número de denúncias de focos do mosquito na capital do estado deu um salto: foram feitas 1.300 notificações pelo telefone 1746, da prefeitura carioca. Normalmente ocorrem 890 ao longo de um mês inteiro.

Corrida por repelentes

Das três substâncias de repelentes consideradas eficazes contra o Aedes — icaridina, Deet e IR3535 —, a primeira, embora mais cara, tem sido a mais procurada por oferecer proteção prolongada, de até dez horas. No laboratório Osler, que fabrica o repelente à base de icaridina, a produção aumentou 700% em relação a 2014. Desde que o Ministério da Saúde confirmou que o zika pode provocar a microcefalia, a procura pelo produto foi tamanha que o estoque que a empresa tinha para todo verão se esgotou.

O laboratório havia programado uma demanda 40% maior do que em 2014, porque acreditava que haveria um surto de dengue maior. Só não contava com o zika. A empresa, que importa icaridina da Alemanha, teve que intensificar a fabricação. Com a icaridina líquida, fábricas terceirizadas no interior de São Paulo produzem o repelente. O preço sugerido para o consumidor final é de R$ 55, cerca de 85% do valor é por causa do componente ativo.

Fiocruz planeja soltar mosquitos infectados

A Fundação Oswaldo Cruz soltará, em janeiro, mosquitos Aedes aegypti infectados com uma bactéria que impede a transmissão do vírus da dengue. A informação é do vice-presidente Rodrigo Stabeli. Segundo ele, esta operação, discutida em recente reunião com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, terá os detalhes definidos no próximo dia 18. Por enquanto, ainda não se escolheu o município e não se sabe se serão espalhadas larvas ou mosquitos adultos.

A ação faz parte do projeto “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil”, no qual, desde 2009, pesquisadores inserem no Aedes uma bactéria chamada wolbachia, com uso de uma agulha. Não há mudança genética. Ao portar essa bactéria, o mosquito não transmite o vírus da dengue às pessoas que ele pica. A esperança é que esse mesmo mecanismo também funcione para bloquear o vírus zika. Países como a Austrália e o Vietnã fizeram isso e tiveram bons resultados no controle da dengue e chikungunya. A Indonésia teve resultados satisfatórios também para o zika.

Já a bactéria wolbachia está presente em mais de 60% dos insetos, como grilos, baratas e moscas. No entanto, os insetos que transmitem doenças infecciosas não possuem naturalmente essa bactéria. O interessante é que a wolbachia é passada da fêmea para os filhotes, até um ponto em que a grande maioria dos mosquitos existentes não sejam mais transmissores.

Semanalmente esse tipo de mosquito tem sido liberado na natureza. O primeiro lugar a recebê-lo foi a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, em setembro de 2014. Os mosquitos foram soltos por 20 semanas consecutivas e depois a ação foi interrompida. Os pesquisadores voltaram a ilha após um ano e desde então fazem a soltura a cada semana. A segunda cidade a participar do projeto foi Niterói.

O principal problema da primeira ação na Ilha foi que os mosquitos com a bactéria demonstraram-se mais sensíveis a inseticidas do que os Aedes comuns. Isso colaborou para que eles morressem muito rapidamente. De início, os pesquisadores conseguiram que 65% da população de mosquitos da região fosse formada pelos insetos infectados, mas pouco depois da interrupção das solturas, essa taxa caiu para 10%. O coordenador da equipe de entomologia do projeto, Rafael Freitas, garante que isso não acontece mais.

Para o especialista em parasitologia da Unesp, Paulo Ribolla, modificar o mosquito não é a solução. “Há grandes chances de que o Aedes desenvolva mutações e consiga se adaptar, continuando a transmitir o vírus. O caminho deve ser acabar com criadouros e não manter os insetos”, acredita.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Dengue | Zika
Publicidade