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O Centro de Artes faz falta
O Centro de Artes será entregue a população em 2016, para que cumpra as mesmas funções anteriores: servir a pequenos espetáculos teatrais e exposição de artes plásticas em suas dependências. Para quem desconhece o local, o Centro de Artes é o porão do solar do Barão de Nova Friburgo, localizado em frente à Praça Getúlio Vargas. Em razão disso ficou igualmente conhecido como Porão de Artes. Foi duramente castigado com a enchente de 2011, que destruiu todas as suas instalações já que se encontra abaixo do nível da rua. Desde então, vem passando por uma reforma. Quando a fábrica Rendas Arp completou o seu cinquentenário, em 1961, não havia um local em Nova Friburgo para que fosse realizada uma mostra de fotografias contando a história dessa indústria. Para tanto, a empresa Rendas Arp reformou o porão do solar do barão onde funcionava na ocasião a prefeitura municipal, dotando-lhe com um auditório para exibição cinematográfica, apresentação de peças teatrais, audição e conferências. Igualmente três salas de exposição foram feitas para a respectiva mostra. O engenheiro Heródoto Bento de Mello foi contratado para realizar a reforma do Centro de Artes. A cidade ganhou com essa medida um pequeno teatro e salas de exposição. A Rendas Arp ainda doou dois pianos para a realização de audições. Durante décadas foram ali apresentadas muitas peças de teatro, realizados concertos de música, audições dos alunos das escolas de música, exposição de artes plásticas, enfim, era um importante espaço cultural na cidade.
Talvez a existência do Centro de Artes tenha contribuído para a destruição do Teatro Dona Eugênia. A história do Teatro Dona Eugênia se inicia no último quartel do século 19. Manoel Amancio de Souza Jordão, um dos mais importantes fazendeiros do município de Sumidouro, adquiriu o teatro em fase de execução da Sociedade Musical Campesina. Dona Eugênia, foi uma homenagem à esposa do proprietário, Eugênia dos Santos Jordão. Em 1895 foi inaugurado o Teatro Dona Eugênia com a ópera de Verdi, Um Baile de Máscaras, pela companhia italiana Verdini & Rotoli. O teatro em estilo eclético era dividido em dois pavimentos, possuía espaço para 600 pessoas, 212 cadeiras de primeira classe e 17 camarotes, sendo um de honra. Ficava localizado na Rua Augusto Spinelli onde hoje é o Edifício Gustavo Lira. Curiosamente, foi o engenheiro Heródoto Bento de Mello, responsável pela reforma do Centro de Artes, quem coadjuvou na derrubada do Teatro Dona Eugênia. No entanto, Bento de Mello já declarou que o seu maior arrependimento na vida pública foi ter pactuado com a demolição desse teatro. Demolido em julho de 1975, o Teatro Dona Eugênia foi o espaço de exatos oitenta anos de entretenimentos culturais entre o fim do século 19 e metade do século seguinte.
Voltando ao Centro de Artes ou Porão da Arte será bem vinda a sua reabertura em 2016. Foi durante décadas um dos espaços de sociabilidade mais importantes de Nova Friburgo. A existência do teatro municipal Laércio Ventura de nenhuma forma concorre com o Centro de Artes. Sua estrutura e instalações propicia que pequenos grupos teatrais e artistas plásticos tenham oportunidade de expor a sua obra com mais facilidade. A sua localização em frente Praça Getúlio Vargas, local de passagem de quem está no centro da cidade, permite maior frequência da população do que o teatro municipal, ainda que esse igualmente tenha uma boa localização. Fechado por cinco anos, o Centro de Artes faz falta!
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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