A segunda carta de Temer

quarta-feira, 09 de dezembro de 2015

Querido Cunha,

Corvus oculum corvi non eruit (Um corvo não arranca o olho de outro corvo)

Aqui é o presidente Temer. Presidente do partido, não da nação. Por enquanto.

Tô escrevendo pra contar que acho que a Dilma tá chateada com você. Talvez um pouco mais que chateada, não tenho certeza.

Mas não se preocupe. Eu escrevi pra ela e contei tudo. Disse que ela é feia e boba e que jamais vou perdoá-la por não ter me chamado pro jantar com o Joe. Você se lembra do Joe, o vice-presidente americano, né? Pois é... Vacilo. Também, me vinguei. Liguei pro Eurico e marquei um jantar com ele. E não vou convidar a Dilma. Vou mostrar pra ela o que que é almoçar com um vice de verdade.

Fala pro Picciani que ele tá ferrado comigo. Como pode um filhote de cobra querer engolir uma cobra criada como eu? Tô me matando pra pegar a faixa e esse desgraçado remando contra a maré. Quando eu assumir, diz pra ele que se me vir pode atravessar a rua. Ou o palácio. Ou o continente. E não vai ser líder de nada mais não.

Mas não foi pra isso que eu escrevi. Fiz uma pesquisa aqui na rua (só não votou a minha mulher, que não fala mais comigo) e o resultado foi: manda o Cunha não falar mais o seu nome, nem pra elogiar! Sabe como é, tô pensando em assumir a faixa e cada vez que você me defende, minha imagem despenca. Desde que você elogiou minha cartinha pra Dilma, minha popularidade não dá nem traço no Ibope. Já tem gente dizendo que tô armando um golpe pra assumir o poder. Que bobagem. Qual poder que ainda me falta? A gente já manda e desmanda neste trem e ainda deixa o desgaste pro PT, que pensa que manda... Você já viu em alguma faixa escrito "Fora, Temer"? Gente doida...

Também, o que esperar de um país em que o Mr. Catra é o Papai Noel da Casa &Vídeo e em que você, sendo investigado por corrupção, pode propor a queda da presidente? Tô até pensando se assumo esse troço mesmo... Até pra mim esse país tá fora da curva. E já estão me sacaneando por sua causa. O pessoal do humor tá deitando e rolando. Ontem mesmo publicaram uma montagem minha com a faixa e o vestido da Dilma. Ma-ra-vi-lho-sa! Ampliei e colei no quarto. Minha mulher saiu de casa.

Se encontrar minha mulher nos corredores da Câmara, diga a ela que eu sou um cara adulto sim, porque ela fica me chamando de infantil e birrento só por causa da cartinha que escrevi pra Dilma. Mas não sou. Não sou, não sou e não sou!

Ah! E estão dizendo por aí que eu mesmo divulguei a cartinha da Dilma. Mentira. Imagina se eu ia divulgar uma carta que está me custando o casamento. A verdade é que Dilma não entendeu patavinas da frase em latim que escrevi no início da cartinha dela e teve que pedir a alguém pra traduzir. Aí, vazou. Escrevi em latim só pra sacanear mesmo, mas, cá entre nós, se escrevesse em bom português ela não entenderia também. Ainda bem que você é letrado e entende. Por isso separei pra você uma frase em latim que cai como uma luva para nós dois: obturatio quia turpis est etiam pro nobis* (para, que tá feio! até para nós...*)

P.S. Se minha mulher perguntar, diz que não fui eu que escrevi essa carta.

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Alzimar Andrade

Alzimar Andrade

Alzimar Andrade é Analista Judiciário do Tribunal de Justiça, Diretor Geral do Sind-Justiça e escreve todas as quintas-feiras sobre tudo aquilo que envolve a justiça e a injustiça, nos tribunais e na vida...

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