O solar do Barão: um lugar memória

quinta-feira, 03 de dezembro de 2015
Foto de capa
Em 1921, o solar foi vendido pela Baronesa de São Clemente à Prefeitura Municipal de Nova Friburgo

O solar do Barão de Nova Friburgo, um dos mais importantes patrimônios históricos do município, foi sempre subaproveitado pelo governo municipal. Desde que esse imóvel passou a ser de propriedade da prefeitura serviu a diversos órgãos: foi sede da Câmara Municipal, biblioteca e nos últimos anos sofreu uma de suas mais vertiginosas depredações. Por abrigar oficinas de arte em que ocorriam cursos de dança e artes cênicas, a exemplo de malabares praticados sob o lustre de cristal da sala principal, colocou suas instalações em um estado de degradação de onerosa reparação. Mas uma boa notícia: o solar do Barão de Nova Friburgo será finalmente a sede de um Museu, do Centro de Documentação Histórica e de muitos outros projetos idealizados pela Fundação D. João VI. Antonio Clemente Pinto, imigrante português, futuro Barão de Nova Friburgo, depois de trabalhar no comércio do Rio de Janeiro, obteve a concessão de terras, as denominadas sesmarias na região de Cantagalo, poucos anos depois de instalada a vila de Nova Friburgo. De um simples sesmeiro torna-se proprietário, com o passar dos anos, de várias fazendas de café em Cantagalo. O Barão de Nova Friburgo, na realidade, se tornou um dos homens mais prósperos no Segundo Reinado com o tráfico de escravos, sendo fornecedor de cativos para as lavouras de café da região. Era proprietário de três fazendas em Nova Friburgo: a Fazenda de São Lourenço, a Fazenda do Cônego e a Fazenda Córrego D’Anta. Duas dessas fazendas estão representadas em um quadro a óleo na sala de jantar do solar do barão. Era proprietário da chácara do Chalet, casa de campo edificada aproximadamente em 1860, hoje pertencente ao Country Clube, e igualmente do atual prédio do Sanatório Naval, seu pavilhão de caça. A importância de Antônio Clemente Pinto, o Primeiro Barão de Nova Friburgo, ultrapassa a nossa região, já que foi um dos homens mais importantes durante o Império. A maior parte de seu patrimônio se concentrou em suas inúmeras fazendas no município de Cantagalo. Para se ter uma ideia de sua fortuna, o seu palácio no Rio de Janeiro, na Rua do Catete, denominado Palácio Nova Friburgo, é o que melhor ilustra o seu rico patrimônio, além é claro de ter sido proprietário de uma estrada de ferro. O Palácio Nova Friburgo passou a ser posteriormente sede da presidência até a construção de Brasília e atualmente abriga o Museu da República. Além de outras propriedades no centro da vila, é o seu solar, de meados do século 19, a de maior expressão.

É impressionante como os friburguenses desconhecem o que representa o solar do Barão, localizado no coração da cidade. A maior parte da população igualmente sabe muito pouco do que representou o Primeiro Barão de Nova Friburgo. Janelas arqueológicas abertas nas paredes do solar mostram a pintura do artista italiano Martignoni que realizou outros trabalhos em Nova Friburgo, a exemplo da catedral São João Batista. Outra conquista foi a volta dos leões ao seu lugar original. Fabricados em 1840, na França, foram adquiridos pelo Barão em uma de suas viagens ao exterior. Na parte externa do solar está instalado o Centro de Documentação, outrora Pró-Memória. O Centro de Documentação Histórica, que faz parte da fundação, abriga a correspondência da Câmara Municipal e periódicos do século 19. Igualmente jornais do século 20, fotografias, cartografia, além de outros documentos. Pesquisadores, estudantes do ensino fundamental e médio, professores e curiosos, todos costumam consultar o acervo de documentos históricos da Fundação D. João VI. Muitos livros, monografias, teses de mestrado e doutorado foram escritos com pesquisas extraídas desse acervo. Em 14 de novembro de 1921, o solar foi vendido por D. Georgina Darigue Faro Clemente Pinto, Baronesa de São Clemente, proprietária do imóvel, à Prefeitura Municipal de Nova Friburgo. Tombado em 1989 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro, somente quase um século depois deixou de ser utilizado como simples prédio administrativo do governo municipal para ser finalmente reconhecido como um lugar de memória. 

Foto da galeria
A Cascata Pinel representada em um dos quadros no solar do Barão
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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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