Impressões — 28/11/2015

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Fábula

Proteu – Filho do Oceano e de Tetis. Logo que cresceu foi dotado do conhecimento do futuro, sobre o qual só se explicava quando a isso o constrangiam. Tinha o poder de mudar o corpo e de tomar todas as figuras que queria. Apareceu, como espectro, a Timolo e Telegono, gigantes de inaudita crueldade, e de sorte os amedrontou que desistiram de sua barbaridade.

(Dicionário da Fábula - traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética- Ed. Garnier –Paris)

Linha do tempo

“O respeito às crenças dos outros como o valor maior só pode significar uma de duas coisas: Ou tratamos o outro de forma condescendente, evitando magoá-lo para não arruinar suas ilusões, ou adotamos a posição relativista de vários ‘regimes da verdade’, desqualificando como imposição violenta qualquer posição clara em relação à verdade.”

Slavoj Zizek

Dê uma chance ao mundo

O mês de novembro não foi o primeiro desastroso nem será o último a conter problemas de toda ordem que abalaram o mundo neste século XXI. No plano internacional, a marcha do terrorismo mostrou que a humanidade deverá conviver com este inimigo que não tem fronteiras nem tem apenas um adversário declarado. O risco está em todos os países inclusive o Brasil.

No plano interno, a força da lama, aliada à ganância e a imprevisibilidade humana lançaram no país um dos mais graves acidentes ambientais de nossa história, vitimando pessoas, destruindo cidades e reduzindo drasticamente nossas reservas naturais, como a maior bacia hidrográfica do Sudeste – a do rio Doce. Definitivamente, novembro está marcado pela tragédia e só nos resta torcer para que isto não volte a se repetir.

As atitudes que vivemos repetindo ao longo de décadas estão nos levando a destruir, corromper e criminalizar o planeta. Quando isso vai acabar? Perdemos muitos valores e vitimamos milhares em nome da ganância, da intransigência e do ódio religioso. Quando a humanidade vai compreender que a frase “olho por olho” é sinônimo de violência, um escapismo para justificar ações condenáveis, um motivo para matar? Está cada vez mais difícil ficarmos livres da sujeira do mundo. Qual a saída para o planeta?

Terror na Europa

Antes do Estado Islâmico, também a Al-Qaeda tinha feito vítimas na Europa. O Hezbollah faz igualmente parte desta sangrenta lista do radicalismo islâmico. Neste século isso se confirmou a 11 de março de 2004, na estação de metrô de Atocha, em Madrid. A rede terrorista Al-Qaeda reclamou a autoria dos atentados que vitimaram 191 pessoas. Foi o primeiro e maior atentado daquela organização na Europa. Seguiu-se outro, pouco depois: as explosões no metrô de Londres em 2005. Outro atentado, em 2012, na Bulgária, e que fez sete mortos no aeroporto de Burgas, reivindicado pela organização paramilitar xiita (e sediada no Líbano) Hezbollah.

O autoproclamado Estado Islâmico (EI) só começou a fazer-se reconhecer pelo medo na Europa em meados deste ano. E logo com a invasão da redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo. Mas não sossegou no velho continente: já em outubro, na Turquia, um ataque suicida matou mais de uma centena de pessoas em Ancara. Mais recentemente foi a vez de Paris, a 13 de novembro, com atentados a restaurantes e à boate Bataclan, vitimando 130 pessoas e deixando mais de 350 feridos. 

Matança na Síria

 A Guerra Civil Síria é um conflito interno em andamento que começou como uma série de grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011. Enquanto a oposição alega estar lutando para destituir o presidente Bashar al-Assad do poder para posteriormente instalar uma nova liderança mais democrática no país, o governo sírio diz estar apenas combatendo "terroristas armados que visam desestabilizar o país". Com o passar do tempo, a guerra deixou de ser uma simples "luta por poder" e passou também a abranger aspectos de natureza sectária e religiosa, atiçando, especialmente, a rivalidade entre xiitas e sunitas. Segundo informações de ativistas de direitos humanos dentro e fora da Síria, o número de mortos no conflito passa das 220 mil pessoas, sendo mais da metade de civis. Outras 130 mil pessoas teriam sido detidas pelas forças de segurança do governo. Mais de quatro milhões de sírios já teriam buscado refúgio no exterior, inclusive em direção a Europa, sem paralelos na história do continente desde a Segunda Guerra Mundial.

Lama em Minas Gerais

Na tarde de 5 de novembro, a avalanche de rejeitos gerada em Minas Gerais pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale e a australiana BHP, causou danos ambientais imensuráveis e irreversíveis. Até hoje ainda se desconhece todas as extensões do impacto ecológico liberado na forma de 62 milhões de litros de lama residual da mineração. O barro de rejeitos saiu de Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana, em Minas, percorrendo mais de 850 km até chegar ao mar, no Espírito Santo, deixando um rastro de destruição à fauna, à flora e às comunidades que estiveram em seu caminho. Só é preciso observar a área destruída — seja do leito do rio, seja do espaço — para compreender que é um dos maiores desastres ambientais na história do Brasil.

Fome no mundo

Um estudo do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) mostra que pelo menos 1 bilhão de pessoas sofrem de desnutrição no planeta. A situação é considerada grave na América Latina, especialmente na Bolívia, na Guatemala e no Haiti. A pesquisa mostra que quase metade dos afetados pela desnutrição são crianças. Os níveis mais altos se encontram na África Subsaariana e no sul da Ásia. O estudo aponta também que o número de desnutridos voltou a crescer. A explicação é a crise econômica e o aumento nos preços globais dos alimentos. O IFPRI considera a situação “extremamente alarmante” em três países, todos africanos (Chade, Eritreia e República Democrática do Congo). Outros 26 países vivem situação “alarmante”.

Capitalismo selvagem

Nos dias de hoje, a expressão “capitalismo selvagem” é utilizada para indicar um sistema capitalista de dimensões globais, onde ocorre concorrência ferrenha entre as multinacionais dominadoras de vários mercados ou até mesmo países, com o apoio de seus governos lenientes e corruptos, fruto da ausência de sustentabilidade do modelo capitalista dos dias de hoje. Este significado também é ligado a vários outros conceitos onde o ganho financeiro suplanta o desenvolvimento humano e do planeta como um todo. Assim, o conceito de capitalismo selvagem estará ligado a vários outros temas, como por exemplo a política dos países ricos, que exploram as riquezas da terra sem consideração a qualquer noção preservacionista ou auto-sustentável, ou a banalização da morte a favor do capital, ou da guerra pelo petróleo, pela venda de armas,  a venda de alimentos industrializados com produtos cancerígenos, a utilização dos pesticidas, o superaquecimento do planeta e até mesmo a infância desvalida que acaba atraída para o tráfico de drogas e a criminalidade.

Um desabafo do Papa Francisco

“Estamos próximos do Natal: teremos luzes, festas, árvores luminosas e presépio. Tudo falso: o mundo continua fazendo guerras. O mundo não entendeu o caminho da paz.”

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