Je suis Marianá ou Eu sou Paris, uai

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Em condições normais, seria uma idiotice discutir qual tragédia é maior, qual dor é maior, qual problema é mais grave ou qual bandeira devemos abraçar em solidariedade. Em condições normais... mas não vivemos em condições normais... então impera a idiotice no mundo.

Vivemos dias em que o verdadeiro objetivo da vida não é ajudar, mas divulgar; trocamos salvar vidas por salvar arquivos e não lutamos por solidariedade, mas por visibilidade.

Que importa discutir se as vidas que se perderam em Mariana são tupiniquins enquanto as vidas francesas são europeias? Quando Deus criou o mundo, Ele nominou Brasil e França? Éramos somente humanos naquela época. Vida é vida, não importa se fala oui ou uai... e se você não crê em Deus, o argumento é o mesmo: quando o nada explodiu do nada e gerou tudo, não havia França e Brasil. Havia um mundo habitado por seres vivos. Alguns, humanos, o que se perdeu com o tempo.

O curioso é que enquanto discutimos qual bandeira devemos hastear, as pessoas continuam em Mariana esperando água e em Paris esperando que as grandes potências parem de fornecer armas para malucos e passem a fornecer uma vida digna e compatível com as riquezas que os governos de lá, tal qual os de cá, amealham.

E, neste samba sem pé nem cabeça em que se transformou o mundo, duas perguntas não querem calar, do tipo “perguntar não ofende".

A primeira é sobre a tragédia brasileira: Qual a dificuldade de o governo mandar aviões, helicópteros, caminhões, carros, bicicletas ou qualquer outro meio de transporte com bastante água para as cidades atingidas? Por que precisamos de campanhas nacionais de doações particulares, se o governo tem bilhões para gastar com Olimpíadas e Copa do Mundo e helicópteros/jatinhos aos montes pra carregar políticos pros seus balneários de fim de semana?

A segunda pergunta é sobre Paris: No dia seguinte ao ataque, a França bombardeou campos de treinamento, destruindo jihadistas, armas e munições. Mas, se os radicais surtados vêm matando, explodindo e assassinando mulheres, idosos e crianças e jogando homossexuais do alto de prédios há tempos (com transmissão pelas redes sociais, inclusive) e se todos sabiam onde ficam esses campos de treinamento, bases militares etc, por que não se enfrentou esses sujeitos antes?

Enquanto não temos respostas, vamos fazendo a nossa parte, que não é, acredite, discutir se o Cristo Redentor deve ficar vermelho e azul em homenagem ao atentado na França, ou marrom em homenagem à lama do Brasil. Lama real, sem trocadilhos. Ou lama política, também sem trocadilhos.

A nossa parte é ajudar, já que os governos que não fazem nada. E aí cada um ajuda como pode e como quer. Sem patrulhamentos ideológicos. Sem exibicionismos. Sem discussões inócuas sobre bandeiras, cores e religiões. Como humanos. Só isso. Não adianta discutir se a culpa aqui é da Dilma que não fiscaliza ou do FHC que privatizou a Vale a preço de banana; tampouco debater se lá a culpa é dos Estados Unidos, que armaram esses malucos até os dentes. Isso não muda a sorte das vítimas. Não neste momento.

A culpa é da estupidez humana. Sempre. Aliás, o mundo seria perfeito se não fôssemos nós, os humanos.

 

 

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Alzimar Andrade

Alzimar Andrade

Alzimar Andrade é Analista Judiciário do Tribunal de Justiça, Diretor Geral do Sind-Justiça e escreve todas as quintas-feiras sobre tudo aquilo que envolve a justiça e a injustiça, nos tribunais e na vida...

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