A recente visita da presidente Dilma Rousseff para a entrega de 300 apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida no condomínio Terra Nova repercutiu bastante entre os friburguenses. Afinal, o município serrano não costuma receber com frequência a visita da figura política mais importante do país que celebra neste domingo, 15, os 126 anos da proclamação da República. Porém, além de Dilma, Friburgo recebeu ao menos seis outros presidentes da República, seja em exercício, seja ainda em campanha política.
Confira:
Nilo Peçanha - esteve na cidade em 1910
Esta seria a primeira visita oficial de um presidente a Nova Friburgo. Nilo Peçanha visitou o município em 30 de junho de 1910 para a inauguração do Sanatório Naval. Com o presidente veio uma grande comitiva que incluía ministros e oficiais militares. Como era de se esperar, houve uma grande recepção festiva, com flores e bandeiras. A carruagem do presidente em seu percurso pela cidade foi acompanhada por um piquete de cavalaria de atiradores. Os alunos do Colégio Anchieta, formados em batalhão, se estenderam em linha e acompanharam também o presidente. Foi servido para o presidente e a comitiva, nas dependências do sanatório, um jantar. O capitão de fragata e médico Joaquim Ignácio Bulcão, o primeiro diretor do Sanatório Naval, brindou o presidente dizendo: “Exmo. Sr. presidente: Coube a V. Exa. a glória de dotar a Marinha de Guerra de um sanatório, instalado em belo edifício, em local salubre, clima ameno, necessidade essa há muito reclamada e agora de pronto e sem vacilação realizado por V.Exa....”.
A presença na cidade do presidente fora considerada como uma estratégia para referendar o sanatório em Nova Friburgo, já que muitas pessoas eram contra sua instalação em Friburgo, contando com nomes da proeminência de Rui Barbosa.
(colaboração de Janaína Botelho)
Getúlio Vargas – esteve na cidade em 1932 e em 1943
Famoso por ser um homem com personalidade política forte, o presidente Getúlio Vargas esteve em Nova Friburgo por duas vezes. A primeira foi em 1932, apenas dois anos após a chamada Revolução de 30 e ainda como chefe do Governo Provisório.
A segunda visita aconteceu 11 anos mais tarde. Em 1943, o presidente veio acompanhado por sua filha, Alzira Vargas do Amaral Peixoto - esposa do então interventor estadual, Amaral Peixoto – e por uma grande comitiva.
No início da Avenida Euterpe, foi montado um arco com letreiros saudando Getúlio. As bandas Euterpe e Campesina Friburguense receberam o presidente com o hino "Salve, Getúlio Vargas". Em seguida, ele desfilou pela cidade em carro aberto, acompanhado pelas bandas e pelos estudantes do Ginásio Modelo e da Irmãs Doroteias.
Após o desfile, Getúlio seguiu para a sede da Prefeitura, no antigo casarão do Barão de Nova Friburgo, onde da janela assistiu a um grande desfile popular. Quase toda a população da cidade foi às ruas para ver o presidente. Getúlio, ao lado do então prefeito Dante Laginestra e com sua comitiva, visitou o Colégio Anchieta, as fábricas de Filó e Rendas Arp e o Sanatório Naval.
No retorno, passou pela Rua Oito de Janeiro (atualmente, Rua Padre Roberto Sabóia de Medeiros), no Paissandu, seguindo pela Rua Umbelina (atual Augusto Cardoso). A pedido de Getúlio, foi realizada uma parada na Rua Umbelina, onde o presidente avistou a sede da Sociedade Humanitária, criada pelos operários da cidade. Ali, os diretores da instituição lhe entregaram uma cópia do estatuto da entidade e, ao folhear o documento, Getúlio teria dito: "Isso me é interessante". Meses depois o governo cria a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Coincidentemente ou não, o documento é semelhante ao do estatuto da Sociedade Humanitária.
Gaspar Dutra – esteve na cidade em 1950
O então presidente da República, marechal Eurico Gaspar Dutra, veio a Nova Friburgo em março de 1950, acompanhar as obras do Colégio Nova Friburgo (que viria a ser chamada de Fundação Getúlio Vargas). Podendo ser visto em fotografias com o então prefeito de Nova Friburgo, César Guinle, a visita do presidente Dutra é utilizada como prova da importância da fundação desta instituição de ensino e a releviancia que teria como centro de referencia educacional em toda a América Latina a partir de então.
Juscelino Kubitschek – esteve na cidade em 1955
Na famosa campanha com o slogan “50 anos em 5”, Juscelino Kubitschek realizou o último comício à presidência em Nova Friburgo, no dia 27 de setembro de 1955. A filha de Getúlio Vargas, Alzira Vargas do Amaral Peixoto, retornou à cidade com seu marido para promover a candidatura de JK, dizendo inclusive que “este seria o único candidato que teria apoio de meu pai”.
A edição do jornal A VOZ DA SERRA de 2 de outubro de 1955 contou que “incalculável multidão compareceu ao monumental comício organizado pelo deputado Dante Lagisnestra e que teve por palco a ‘Catedral dos Eucaliptos’. Presentes, no palanque, oito deputados federais, 14 deputados estaduais, 21 prefeitos fluminenses e delegações numerosas representativas de 39 diretórios municipais do PSD e PIB do estado do Rio.”
Ainda segundo a edição do jornal, “a população enfrentou uma noite fria ficando até meia-noite em volta do palanque para ouvir a oração de Juscelino, abraçá-lo, levar-lhe a solidariedade do povo friburguense e carregá-lo em triunfo”. O presidente nacional do PSD, Amaral Peixoto, enviou telegrama para A VOZ DA SERRA dizendo que ficou “emocionado pela vibração e sinceridade das homenagens prestadas na cidade”.
Juscelino, durante seu discurso na cidade, prometeu pensar em Friburgo e nos friburguenses. “No Palácio do Catete, após 31 de janeiro, terei o prazer de manter contato com este povo ímpar e advogar as reivindicações de suas classes sociais. Já notei a grande aspiração desta comunidade, que é a estrada asfaltada para o Rio de Janeiro. Prometo solenemente que o farei e saliento que não falto com o prometido.”
Por fim, Juscelino enviou uma nota manuscrita para A VOZ DA SERRA contando ter se encantado com o povo e com a cidade. “Estive encantado com o povo desta belíssima Cidade dos Cravos. A imponência desta insuperável praça, que este semanário que recebo semanalmente tão bem classifica como a Catedral dos Eucaliptos, constitui um verdadeiro monumento, uma beleza que extasia. Arbustos vetustos que se encaminham para as nuvens como que a suplicar bênçãos para o povo acolhedor que tem a grande ventura de viver nas serras onde os suíços plantaram as que exuberantemente frutificaram resultando no que ora podemos constatar. Friburgo é uma dádiva de Deus.”
Jânio Quadros – esteve na cidade em 1960
A campanha política de Jânio Quadros mexeu com o país. O “homem da vassoura” esteve em Friburgo em 1960 e realizou discurso no coreto da Praça Presidente Getúlio Vargas. Infelizmente, algumas edições de A VOZ DA SERRA, de 1959 e 1960, foram destruídas durante a enchente de 1997 e por isso, não temos os relatos da época.
Jânio toma posse em janeiro de 1961. Em seu mandato reatou com o Fundo Monetário Internacional (FMI), iniciou o combate à inflação – criada, em grande parte, pela construção de Brasília - mas acabou por irritar conservadores ao condecorar Che Guevara, herói da revolução comunista em Cuba.
Fernando Collor de Mello – esteve na cidade em 1989
Ao oposto da decisão de JK, Collor escolheu Nova Friburgo para começar sua campanha presidencial, no dia 13 de julho de 1989, assim como fez um de seus rivais para a presidência, o ex-governador do Rio, Leonel Brizola, que abriu sua campanha para o governo do estado na cidade serrana em 1982.
A visita do candidato atraiu cerca de três mil pessoas para as ruas da cidade. Na ocasião, Collor almoçou com empresários, teve um encontro com o então prefeito Paulo Azevedo, e fez um comício seguido de caminhada pela Avenida Alberto Braune. Apesar de alguns protestos de simpatizantes dos candidatos do PT e PDT, Lula e Brizola, a assessoria de Collor avaliou a visita como positiva e um de seus membros chegou a dizer que “o povo Colloriu”.
Em um inflamado discurso de 30 minutos, Color prometeu “caçar os marajás” e “defender os fracos e oprimidos”. Terminou seu discurso urrando a sua frase de praxe à época: “Não me deixem só”, que foi usada para estampar a capa do jornal A VOZ DA SERRA no dia 15 de julho de 1989, e posteriormente, soaria como um prenúncio do que estaria por vir na sua conturbada passagem pela presidência da república culminando no seu processo de impeachment e afastamento.
Dilma Rousseff - esteve na cidade em 2011 e 2015
Em seu primeiro mandato, recém-empossada em 2011, a presidente Dilma Rousseff veio a Nova Friburgo acompanhar pessoalmente os momentos posteriores da maior tragédia natural da história do Brasil: na madrugada de 12 de janeiro de 2011, uma forte chuva afetou severamente as cidades de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. O cenário era de guerra, e só quem presenciou o momento pode descrever a tristeza.
Dilma, pela primeira vez, visitou no dia seguinte à cidade de Nova Friburgo, onde não mediu esforços para ajudar aos desabrigados. A cidade, em especial, teve um grande suporte do governo federal e estadual.
Um episódio curioso em relação à presidente é constantemente lembrada por alguns políticos da cidade. Dilma vendo o então vice-governador, Luíz Fernando Pezão, trabalhando em Nova Friburgo em meio à lama com seus sapatos sociais se sensibilizou e conseguiu providenciar rapidamente um par de botas tamanho 48 para ajudar o atual governador do Estado do Rio de Janeiro, que passou 40 dias em Nova Friburgo.
A segunda visita de Dilma, na última terça-feira, 10, encerrou mais um passo do processo da construção e entrega das moradias aos desabrigados da tragédia.
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