Ponto de encontro de turistas, praticantes de caminhadas e passeios ciclísticos, o trecho conhecido como antiga linha do trem, entre a Ponte da Saudade e o distrito de Mury, está em evidência esta semana. Tudo por conta do impasse quanto ao asfaltamento da via, apontada como alternativa de tráfego enquanto são realizadas obras no acentuado desnível localizado na altura do quilômetro 78 da RJ-116, na Ponte da Saudade, popularmente conhecido como “calombo”. A pavimentação do trecho está gerando um impasse entre a Prefeitura e a concessionária Rota 116, que administra o trecho privatizado da rodovia, e chegou às vias judiciais. No último dia 11, a Justiça derrubou o embargo da prefeitura e as obras foram retomadas no quilômetro 78, conforme reportagem publicada por A VOZ DA SERRA na edição de sexta-feira, 13.
O asfaltamento também levantou outra questão polêmica por vir de encontro a lei municipal 4.107/2012, de autoria do vereador Professor Pierre, sancionada pelo prefeito Sérgio Xavier e publicada por A VOZ DA SERRA no dia 12 de janeiro de 2012. A lei estabelece que a antiga linha férrea seja transformada na Via Parque de caminhada do distrito de Mury, intitulada “Caminho do Trem”. Vários projetos nesse sentido - alguns a cargo da Fundação Dom João VI - foram desenvolvidos mas ainda não saíram do papel nesses quase quatro anos em que a legislação está em vigor. Apesar disso, a pavimentação do trecho é uma determinação que, salvo melhor interpretação jurídica, fere o parágrafo 2º do artigo 1º da citada lei municipal, onde se lê: “O Caminho do Trem, Via Parque de Caminhada, será melhorado e conservado como estrada de terra, à exceção dos trechos asfaltados dos centros comercial, industrial e residencial de Mury entre a Avenida Hamburgo e a Rua Apolônia Pinto, mantendo-se em terra os trechos entre a Rua Prefeito Cezar Guinle, na Ponte da Saudade, e a Usina Hans, e entre a Belvale, no centro de Mury, e Debossan, formada pela Rua Gertrudes Stern”.
Quiosques, pontes cênicas, fontes naturais e mirantes para contemplar o caminho
A legislação também prevê, em seu artigo 3º, uma série de investimentos estruturais na localidade, não apenas com a finalidade de estimular deslocamentos a pé ou a pedal, mas também visando agregar valores turísticos ao caminho. "A Via Parque de Caminhada de Mury será infraestruturada com a instalação de quiosques de alimentação dentro de condições de localização, de operação e de acordo com as exigências fixadas pela Vigilância Sanitária, assim como com a implantação de atrações e equipamentos coletivos para a contemplação da natureza, a prática de exercícios físicos e estímulo à sociabilidade e ao turismo, com recuperação e melhoramento florístico, objetivando à formação de um conjunto cênico ecocultural ao longo dos percursos entre a Ponte da Saudade e Debossan”.
E, para não deixar dúvidas, o parágrafo seguinte lista diversos equipamentos que se enquadram nesta definição, tais como abrigos contra chuva, bicas de fontes naturais, mesas para piqueniques, bancos, pontes cênicas e mirantes.
Os investimentos previstos na lei visam possibilitar que friburguenses e turistas desfrutem com mais conforto e segurança da bela natureza reinante no saudoso caminho do trem. Cercada de espécies nativas da Mata Atlântica, a antiga estrada férrea é um convite para quem quer deixar a pressa de lado, viajar no tempo e passear por seus longos e calmos caminhos de terra. Seu asfaltamento, a primeira vista, tiraria esse clima bucólico e romântico do trajeto, conforme observam alguns leitores que entraram em contato com o jornal. Outros, entretanto, acreditam que a pavimentação contribuirá para tornar o trecho uma movimentada via de caminhadas e passeios nos fins de semana, a exemplo do que já ocorre na Via Expressa aos domingos em que fica fechada ao tráfego.
Em meio a tantas incertezas e possibilidades em torno de seu futuro próximo, o fato é que uma das vias mais bonitas da cidade, como comprovam as imagens de Regina Lo Bianco que ilustram esta reportagem, faz por merecer mais atenção por parte do poder público. Quer seja na condição de rodovia parque, quer seja em sua utilização como via alternativa - sempre de acordo com a legislação em vigor - o mais importante é que a discussão atual possa indicar os melhores rumos para a bela rota de oito quilômetros criada em 1873 e desativada em 1968 pela Rede Ferroviária Federal. Através desses tranquilos caminhos de terra, Nova Friburgo cresceu e se consolidou como cidade polo de toda a região.
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