Em setembro a Prefeitura de Nova Friburgo inaugurou a primeira usina de asfalto a quente do município. Situada na RJ-150, estrada que liga Nova Friburgo a São José do Ribeirão, na altura do alto da Chácara do Paraíso, a nova unidade já contemplou algumas ruas do bairro Nova Suíça e, de acordo com o cronograma da Secretaria Municipal de Obras, neste mês de novembro, o novo asfalto também chegará ao loteamento Parque Santa Luzia. O equipamento tem capacidade para produzir 80 toneladas de massa asfáltica por hora.
O investimento de aproximadamente R$ 11,6 milhões foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através do Banco do Brasil, em 54 parcelas. A ideia é melhorar as condições de ruas de diversas localidades do município, inclusive áreas rurais, já que Nova Friburgo possui cerca de 1.300 quilômetros de estradas não asfaltadas.
Como a maioria das ruas de Nova Friburgo é tradicionalmente calçada por paralelepípedos, a possibilidade agora de a pavimentação asfáltica chegar a muitas ruas do município não está livre de polêmica. Muitos são os que defendem a manutenção dos paralelepípedos — e até mesmo das ruas de terra batida, o que conferiria à cidade um clima mais bucólico e ecologicamente amigável. Por outro lado, o asfalto sempre foi visto como um sinônimo de progresso. E, claro, possui vantagens em relação aos paralelepípedos, especialmente para motoristas.
Para o secretário municipal de Obras, Alexandre Cruz, os benefícios de se pavimentar as ruas do município com o asfalto produzido pela nova usina são enormes. “O asfalto a quente é de qualidade superior ao asfalto a frio, com durabilidade de cinco anos. Essa novidade é muito importante para as comunidades, principalmente as de áreas distantes. Estamos atendendo, primeiramente, essas que estão na lama e na poeira”, comentou Alexandre.
O taxista Ilton Gomes Neves, de 27 anos, engrossa o número daqueles que veem a pavimentação asfáltica com bons olhos: “As ruas estão precárias, cheias de buracos. O Vale dos Pinheiros, por exemplo, é um caos. Nosso trabalho depende dos carros e com as estradas ruins, os gastos só aumentam. Não importa se o veículo é novo, sempre aparece um problema. Nos dias de chuva é ainda mais complicado. Sou a favor do asfaltamento, vai melhorar demais a vida dos motoristas e minimizar o caos do trânsito”, disse Ilton.
Em contrapartida, há quem acredite que os paralelepípedos ainda devem ser a melhor opção, principalmente no que diz respeito à preocupação com o meio ambiente e com as características históricas do município. “Entendo que o asfaltamento das ruas do centro da cidade, além de dar um aspecto horrível no cenário urbano, é um tiro no pé, ou seja, dificulta o escoamento das águas por ocasião do período de chuvas intermitentes. O reflexo dessas ações e dos governos anteriores é visível: Nova Friburgo está cada vez mais feia. Sim, feia, palavra simples, mas que traduz a sua imagem atual, bem distante da mimosa bonina do passado”, opina a historiadora Janaína Botelho.
O geógrafo e ambientalista Thomaz Morett reforça que o asfaltamento sem estudos que analisem o impacto do procedimento na natureza podem prejudicar o meio ambiente. Segundo ele, os prejuízos serão mais facilmente encontrados na parte hídrica, no solo, na atmosfera e até na saúde pública. “Em qualquer projeto de asfaltamento, para se evitar a impermeabilização excessiva do solo, tem que ser levada em consideração a infiltração natural da bacia, pois em áreas já urbanizadas há restrições e avaliações ambientais a serem feitas para a sua implementação. A combinação harmoniosa da microdrenagem com a macrodrenagem na urbanização, a preservação das APPs (áreas de preservação permanente) para margens de cursos hídricos e a recuperação da infiltração natural da bacia devem ser prioridades. A negligência dessas observações poderá ocasionar a potencialização de enchentes e deslizamentos de terras, gerando sofrimentos que poderiam ser diminuídos e, muitas vezes, evitados”, analisa Morett.
Segundo especialistas, é válida a utilização dos dois métodos de pavimentação, que dependem somente das circunstâncias em que serão aplicados. Se for para tráfego rápido e fluidez no trânsito, por exemplo, o asfalto seria o ideal. Já se o intuito for diminuir a velocidade dos veículos, assim como não prejudicar a permeabilidade do solo nem o meio ambiente, então se recomenda o paralelepípedo.
Em recente participação na Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, a jornalista e escritora paulista Natália Garcia, criadora do projeto “Cidade para pessoas”, proferiu palestra sobre aspectos do Plano Diretor do município, alertou para o perigo de se asfaltar vias sem um estudo detalhado e levantou algumas questões como: as ruas e calçadas devem ser mesmo pavimentadas? Concreto permeável ou asfalto impermeável? Natália veio a Nova Friburgo convidada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano Sustentável.
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