“Bani-los não é a solução”
De acordo com Rosane, o mesmo vale para professores, que só podem usar celular “como plataforma auxiliar de conteúdo escolar, ou nos intervalos na sala dos professores. Aos alunos está vedado o acesso ao Facebook, WhatsApp ou Twitter”. Essas orientações são passadas para os pais e/ou responsáveis no ato da matrícula.
A diretora da Escola Espaço Livre, Sônia Ganem, informou que a instituição proíbe o uso de celular dentro da escola. Para ela, esses aparelhos dispersam a atenção do aluno, atrapalhando o raciocínio e o pleno aproveitamento da aula. “Em dias de prova os celulares são colocados em local definido, dentro da sala de aula, e são devolvidos após o término da prova”. No entanto, como em qualquer ambiente de trabalho ou residencial, a escola está conectada aos principais serviços digitais oferecidos pela tecnologia disponível. O que permite ao professor dar aulas através de datashow ou smart quadro.
No Colégio Nossa Senhora das Dores, os alunos guardam os celulares desligados em suas mochilas durante as aulas, e são liberados na hora do recreio. Os alunos são devidamente orientados e incentivados a interagir uns com os outros, no “mundo real”. Segundo a psicopedagoga Carmen Lúcia Göbel Coelho, é preciso dimensionar o uso desses aparelhos. “Eles podem ser usados em salas de aula, em determinadas ocasiões para fazer pesquisas e desenvolver trabalhos junto com o professor. Já o WhatsApp, por exemplo, é um aplicativo que desconcentra e interfere no aprendizado. Resumindo, tem que haver um acompanhamento cuidadoso em relação ao grau de envolvimento dos alunos com as mídias digitais”, disse Carmen Lúcia.
Orientação e regras bem definidas para o uso de equipamentos digitais fazem parte das normas do Colégio Anchieta. A orientadora educacional Maria Bernadete Villas Boas de Jesus, responsável pelos alunos do 6º ao 8º ano (faixa etária entre 11 e 13/14 anos), esclareceu a determinação da direção: “Os celulares ficam desligados nas mochilas durante as aulas e não liberamos o wi-fi no recreio. Em sala de aula o professor tem autonomia para decidir quando determinada atividade dirigida por ele pode ser desenvolvida com a ajuda de instrumentos tecnológicos”, disse Bernadete.
Geração “touch screen”: futuro já começou
Quais são os limites para a geração “touch screen”, melhor dizendo, geração “toque na tela”? Em Nova Friburgo, pais e professores estão de acordo quanto ao controle do uso dos aparelhos digitais dentro das escolas, mas redes sociais — principalmente o Facebook — ainda ficam do lado de fora de seus muros. E naturalmente, além deles, na vida particular cabe aos pais ou responsáveis a tarefa de controlar o uso que a garotada faz dessa interatividade virtual, desde que nascem. E especialistas não se cansam de alertar os pais: “Atenção e orientação, sempre”.
Para a geração do século 21 o mundo virtual é uma realidade, não há limites. Uma criança de dois anos não sabe como virar as páginas de uma revista na versão impressa porque ela só conhece o toque na tela. A cena costuma ser motivo de orgulho para os pais, mas causa espécie em muita gente que não vê com bons olhos esse mundo tão virtual assim para crianças ainda bebês. Por outro lado, tem-se como irreversível a comunicação via mídias sociais. Chegou às escolas e pelo visto, para ficar. E para a comunidade educacional, de modo geral, trazendo muitas vantagens. Recentes seminários internacionais de educação no Brasil apresentaram casos sobre o bom uso de redes como o Facebook na prática educacional.
É o que pensa o diretor do Educandário Miosótis, Ricardo Lengruber. Para ele, o uso de celulares em sala de aula é um dos grandes desafios na rotina das escolas. Ele diz que bani-los não é a solução, até porque especialistas da área da educação o apontam como uma ferramenta útil no aprendizado, que aproveita, de forma mais intensa e integrada, o ensino tanto dentro quanto fora da sala de aula.
“Mas é preciso criar regras para que os eletrônicos não dispersem a atenção dos estudantes e para garantir a segurança dos menores e demais envolvidos. Pensando numa proposta mais abrangente, o Miosótis criou uma espécie de manual ‘virtual’ com regras para o bom uso de celulares”, revela Lengruber.
A iniciativa partiu da própria coordenação pedagógica da escola, após ouvir queixa dos professores sobre o fato de o uso indevido do celular durante as explicações de conteúdos atrapalharem o bom andamento do processo ensino-aprendizagem. Segundo o diretor, para resolver esse impasse, a escola propôs a criação de regras, com sugestões vindas dos próprios professores e estudantes. Os aparelhos devem ser deixados sobre a mesa do professor durante a aula, desligados. A utilização dos mesmos é requerida pelo professor para uma pesquisa na internet acerca do tema trabalhado em classe ou mesmo para trabalhos artísticos e culturais, ligados a fotografia, vídeos, música, etc.
“Recomenda-se que os aparelhos fiquem guardados durante o recreio. Afinal, esse é um momento destinado à socialização, brincadeiras, esportes e outras atividades de entretenimento e alimentação. No mais, as famílias são orientadas a não pedirem que os filhos liguem para os pais desde a escola e nem o contrário. A ideia é que os contatos entre aluno e família sejam mediados pela escola, quando necessários”, acrescentou.
Outra preocupação da direção do educandário é com a segurança das crianças e adolescentes. Lengruber revela que há um cuidado especial com acesso a pornografia, salas de bate-papo com desconhecidos e, ainda, vazamento de imagens de colegas. “Enfim, o desafio está posto: não há como retroagir na evolução tecnológica e ninguém quer isso, mas é urgente reinventar formas de convivência saudável na escola e incluir novas ferramentas no processo de ensino”, encerrou Ricardo Lengruber.
Ricardo Lengruber, Educandário Miosótis
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