A redução nos recursos repassados ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e ao Serviço Social da Indústria (Sesi), anunciados há mais de uma semana pelo governo federal como parte do pacote fiscal, pode reduzir pela metade os atendimentos oferecidos à comunidade e também pode prejudicar a formação de estudantes e de profissionais em Nova Friburgo, com a redução de vagas e até o fechamento de unidades e de cursos importantes para a mão de obra de indústrias da região. Além disso, atrapalhará os demais investimentos do Sistema S (Sesi, Senai, Sesc e Senac) em áreas como cultura, por exemplo, e também pode gerar desemprego.
“Se o governo se apropriar de 30% da contribuição que as empresas do setor privado fazem ao Sistema S, isso acarretará uma redução nos nossos atendimentos em até 50%”, disse a gerente executiva do Sesi/Senai em Nova Friburgo, Kátia Polo. “Na educação profissional de Friburgo e de cidades vizinhas, formamos, em média, cinco mil alunos por ano e, apesar da recessão, o índice de alunos empregados é de 60%. No Sesi, pelo menos 150 mil atendimentos médicos e odontológicos, com valores baixos e de alta qualidade, serão comprometidos. A redução do orçamento também afetará as atividades de lazer e os investimentos culturais”, detalha a executiva.
A notícia sobre os cortes não foi bem recebida por alunos e ex-alunos da unidade do Senai, no centro de Nova Friburgo. “No momento em que o país mais precisa de mão de obra, o governo faz essa mudança, num setor estratégico para o país como a indústria? Não faz sentido”, critica o técnico em eletricidade João Vitor Freitas.
A dona de casa Rejane de Souza também lamenta: “Vai ser uma perda muito grande para a população, porque o atendimento no Sesi é ótimo e os preços são justos”, disse, depois de comentar que precisou dos serviços de um médico da unidade, na Vila Amélia, durante uma fase de dificuldades financeiras.
Somente na região, famílias de 13 municípios são atendidas pelos cursos e programas do Senai, do Senai Espaço da Moda, na Avenida Conselheiro Julius Arp, a Padaria Escola, em Duas Pedras, o Ginásio do Sesi, no Prado, e o Sesi da Vila Amélia. “A gente estima que em todo o estado 200 mil alunos deixarão de frequentar a sala de aula nas unidades do Senai, o que acabaria afetando a vida de um milhão de pessoas, se consideradas as famílias. Isso nos preocupa muito, uma vez que o país precisa se desenvolver. Nesse momento, mexer com o Sesi e o Senai vai causar uma mudança onde todos vão sair perdendo”, lamenta a gerente executiva Kátia Polo. Só em 2014, o Sesi fez mais de 2,2 milhões de atendimentos na área de saúde, cultura, esporte e lazer.
Os empresários também estão insatisfeitos com a medida, porque o corte vai mexer com a produtividade das indústrias, que receberão menos profissionais qualificados. “Nós estamos bastante preocupados. Essa é uma ação indevida do governo, que vai de encontro a um princípio constitucional, porque está na lei que esses recursos são destinados das indústrias, exclusivamente, para o Sistema S. Ou seja, o governo está fazendo uma apropriação indébita”, critica o presidente do sindicato das indústrias metal-mecânica de Nova Friburgo (Sindmetal), Cláudio Tângari. “Nossas indústrias dependem de capacitação e o Senai tem um papel fundamente nesse processo, além de promover a inovação e o empreendedorismo da nossa juventude. E o Sesi é uma alternativa para a comunidade e para as empresas que não podem pagar planos de saúde. A gente espera que alguém reveja isso”, disse o empresário.
Abaixo-assinado e mudanças
Para tentar reverter a situação, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) lançou na última segunda-feira, 21, um abaixo-assinado on-line sobre os cortes no orçamento do Sesi e do Senai. O manifesto diz que os cortes irão “atacar quem pode ajudar o país a voltar a crescer: a indústria e o trabalhador”. O link para mais informações e para assinaturas é www.firjan.com.br/defesasesisenai.
Diante das pressões, o governo federal sinalizou nesta semana que pode baixar o valor dos cortes no Sistema S de 30% para 20%, para cobrir parte do rombo na Previdência Social, mas os dirigentes da Firjan e também da Fiesp e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) não consideram a mudança suficiente.
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