Santa Dorotéia continua na luta para o reconhecimento do curso de secretariado

Enquanto decisão do MEC não chega, faculdade não pode ser encerrada definitivamente
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
por Eloir Perdigão
Corredores, outrora movimentados, agora vazios (Foto: Amanda Tinoco)
Corredores, outrora movimentados, agora vazios (Foto: Amanda Tinoco)

Alunos não existem mais, professores também não, os corredores estão vazios, o nome foi retirado da fachada, mas a diretora, irmã Celma Calvão, continua em plena atividade tentando resolver as últimas pendências da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia (FFSD), que funcionava na Rua Monsenhor Miranda, no Centro. Assessorada pela irmã Marilda Casalechi, ela luta, desde 2010, pelo reconhecimento do curso de secretariado executivo junto ao Ministério da Educação (MEC). Enquanto esse reconhecimento não chega, quem fez o curso não pode trabalhar na profissão, pelo menos oficialmente.

A diretora explica que as atividades acadêmicas estão encerradas. Foram oferecidas aos alunos todas as condições para que completassem os cursos, o que ocorreu no final de 2014, com direito à cerimônia de formatura e envio dos diplomas para registro na Universidade Federal Fluminense (UFF). Isto porque a FFSD, como instituição de ensino superior isolada, não tinha o direito de registrar os diplomas de seus alunos. Durante os mais de 50 anos de funcionamento da FFSD, os diplomas de seus alunos foram registrados pela UFF. Esse procedimento era o mesmo de outras faculdades isoladas Brasil afora.

SECRETARIADO EXECUTIVO – A irmã Celma ainda não pode requerer ao MEC o fechamento da FFSD porque o curso de secretariado executivo ainda não recebeu desse ministério o reconhecimento definitivo. E todas as documentações exigidas para comprovar a legalidade do curso foram encaminhadas ao ministério.

Na tentativa de acelerar esse processo, a FFSD mantém um representante em Brasília, continuamente visitando o MEC para saber os motivos de tanta demora. O pedido de reconhecimento foi feito ainda em outubro de 2010. Enquanto o  reconhecimento do MEC não chega, a FFSD não pode ser encerrada definitivamente porque ela é responsável pelos diplomas dos alunos desse curso. E não há previsão para isto. Depende do governo federal. E a irmã Celma cita que há um grande número de outras instituições de ensino que também aguardam esse tipo de resposta.

O PRÉDIO – A prioridade para ocupação do prédio onde funcionou a FFSD é do Colégio Nossa Senhora das Dores (CNSD), que funciona anexo, também sob orientação das irmãs doroteias. Isso foi definido pela irmã superiora residente em São Paulo. Caso o colégio não tenha contingente de alunos suficiente para assumir todo o espaço deixado, deverá haver uma reunião para saber que medida tomar, podendo prevalecer a perspectiva de alugar-se o espaço. Porém, essas possibilidades ainda não foram estudadas. São apenas hipóteses. A venda do imóvel, no entanto, foi descartada.

DIRETORA DO CNSD – As irmãs Celma e Marilda utilizam o tempo agora disponível para rever documentações, o que será guardado para arquivo e para o futuro memorial da FFSD. Todos os dias as duas religiosas investem nesse trabalho. Tão logo as atividades acadêmicas foram encerradas, a irmã superiora, residente em São Paulo, determinou que a irmã Celma voltasse a assumir a direção do Colégio Nossa Senhora das Dores, como antigamente. A irmã Celma foi nomeada outra vez diretora geral do CNSD e a professora Jean Beatriz, que ocupava a direção geral, passou a ser a diretora executiva. “Nós trabalhamos juntas”, frisa irmã Celma, salientando que o entrosamento das duas é perfeito.

ATIVIDADES RELIGIOSAS – As irmãs doroteias já foram muitas em Nova Friburgo. Atualmente são apenas 17. E não há perspectivas de que deixem a cidade. Elas continuam ligadas ao Colégio Nossa Senhora das Dores. A redução no número das religiosas da Congregação das Irmãs Doroteias foi um dos motivos do fechamento da FFSD. Mas não foi o único. As dificuldades financeiras e a pouca procura pelos cursos oferecidos foi crescente. A procura para formação de professores — que era o forte da FFSD — caiu demais, provocando um desequilíbrio nas atividades da faculdade. A irmã Celma não tem como saber se tratou-se de um problema local ou do Brasil ou até mesmo do mundo inteiro. “Hoje nós conversamos com um grande número de jovens e não encontramos quase ninguém que queira seguir a carreira do magistério”, afirma.

Apesar dos esforços, as turmas foram ficando tão pequenas que não valia mais a pena continuar. Equipes chegaram a ser organizadas para visitar as escolas que tinham ensino médio a fim de mostrar os cursos oferecidos, a grande importância dos professores na sociedade, mas não obtiveram êxito.

A regressão da procura pelos alunos foi acompanhada pelos professores e acabou não havendo mais condições financeiras de manter os cursos. Insistiu-se o que foi possível até que se chegou à decisão de encerrar as atividades, o que ocorreu no final de 2014.

EDUCADORAS ATÉ MORRER - Essa decisão foi difícil para as irmãs doroteias que trabalharam na FFSD durante tantos anos. “Nós também estamos vivendo um momento difícil com a perda da escola”, diz irmã Celma. Essa situação acabou agravando o estado de saúde da grande líder da faculdade, a irmã Sania Cosmelli, uma das doroteias residentes em Nova Friburgo.

Atualmente as recordações dos bons tempos de sala de aula na FFSD podem ser resgatadas na missa dominical das 11h na capela do Colégio Nossa Senhora das Dores. Ali, religiosas, professores e ex-alunos podem matar saudades mutuamente. “Vamos nos encontrando por aí”, diz a irmã Celma. Ela ainda frisa que permanece na equipe de religiosas o papel de educadoras, conforme proposta da Congregação das Irmãs Doroteias. “Pode ser em um colégio, numa paróquia, em qualquer lugar. É um compromisso permanente de levar às pessoas alguma coisa boa para a vida delas. Nós somos educadoras até morrer”, finaliza irmã Celma.

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As irmãs Marilda Casalechi e Celma Calvão continuam na luta pelo reconhecimento do curso de secretariado executivo (Foto: Amanda Tinoco)
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