Ovos mexidos, camarões, sopinhas: comidinhas pra depois do amor

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A peregrinação constante rumo às missas da Paróquia de Santa Teresinha me reservou boas descobertas gastronômicas numa época em que engordar era a menor das minhas preocupações. Desde o trailer de aparência desleixada, mas misto quente maravilhoso da praça de Conselheiro Paulino até o pão fresquinho da antiga Padaria Matinal. O Fruit Mel, um fandanguinho doce que só encontro numa bomboniere de lá. Até em dias de festa e barracas mais pomposas, como a de Folia de Reis ou a própria festa da santa mais amada do bairro, nossa preferência sempre pesava para o lado do trailer feioso. Era uma predileção econômica, hoje sei; mas na época, parecia o começo de uma tradição em família.

A nós, classe oscilante, que esse mês paga as contas e mês que vem sorteia credores por ordem de dívida mais antiga, cabe a criatividade. Dinheiro de pobre tem asas. Cabe garimpar. Eu mesma me tornei frequentadora assídua de trailers. No Ouro Preto, conheci um que aceitava todos os tipos de vale na vida. No prédio da antiga Nibra, conheci o Quente. Ah, o Quente. Voltei dez mil anos no tempo aqui agora. O trailer dos namorados de fim de noite ou o fim de noite dos frequentadores mais modestos da Mais 1. Na minha época de Mais 1 não tinha a opção de comer yakisoba ali na porta da balada, não: ou era o X-Tudo do Quente ou o cachorro-quente do Paissandu, que embora fosse gostoso, o molho era só água quente com cebola.

Esqueça paisagem, esqueça Cão Sentado, esquece até Lumiar. Bom mesmo em Friburgo é maionese caseira. É andar pelas ruas sentindo cheiro de comida. Eu perco essas referências quando estou fora daqui. Aliás, enquanto escrevo estou num carro imaginário visitando barraquinhas pela cidade inteira, passeando de mãos dadas pelas festas do Suspiro – meu reino por uma cocada das festas de Santo Antônio, juro que vou por ela e não pelas promessas de casamento – e de São João. Estaciono mentalmente para comer na barraquinha que virou shopping em frente à Arp. Sinto o cheiro dos hambúrgueres de Olaria que merecem toda honra e glória para sempre amém. De sobremesa, bombom de morango da Amélia ou churros da Oliveira Botelho. Ou cone de brigadeiro da Nacional. Ou cuscuz em frente ao Fabris. Enfim, felicidade tem nome: comida. E eu sou especialista nessas pequenas felicidades sobre rodas.  

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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