A pequena Escola Municipal João de Almeida, que atende a crianças de Prainha, Três Cachoeiras e arredores em Conquista, distrito de Campo do Coelho, tem apenas uma sala de aula, onde alunos do 1º e 2º anos do ensino fundamental dividem espaço no turno da tarde. Pela manhã, outra turma de estudantes tem aulas dos 3º, 4º e 5º anos na mesma sala. As duas refeições que eles consomem por dia, o lanche e o almoço, às vezes faltam, por causa da escassez de água ocasionada nos períodos de estiagem. Os moradores são dependentes das nascentes próximas.
“Quando falta água na escola, a gente pede aos vizinhos, até que a Prefeitura providencie um caminhão-pipa para encher a caixa d’água da escola”, contou a merendeira Telma de Souza, que cuidava dos alunos na tarde de terça-feira, 1º. Como a professora havia faltado e a diretora também não estava naquele momento, os alunos ocupavam o tempo com atividades extraclasse. Além da única sala de aula, a escola João de Almeida tem uma cozinha, dois banheiros e uma varanda vigiada 24 horas por dia por uma câmera de segurança. O equipamento foi instalado depois que a escola foi assaltada por criminosos. Há dois meses, por exemplo, bandidos levaram computadores e a merenda dos alunos.
As localidades Prainha e Três Cachoeiras situam-se em um vale, com acesso pela RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis) e tem esse nome por causa das quedas d’água de um rio que passa pela região, e também por causa do amontoado de terras que formam uma pequena ilha embaixo de uma ponte. Turistas e moradores iam ao local para nadar, mas, depois das chuvas de 2011, a região foi devastada e o interesse diminuiu. A falta de proteção lateral da ponte que dá acesso à escola é uma marca da catástrofe.
“São poucas as pessoas que frequentam hoje porque a prainha foi destruída depois da tragédia”, disse a comerciante Graziene da Silva. A moradora, que vive na localidade há pelo menos dez anos, construiu mais um poço artesiano para evitar ficar sem água. Ela reclama da poeira e da promessa antiga de calçamento e pavimentação das ruas. A localidade rural é cercada por plantações de couve-flor e brócolis, e desde que foi ocupada pelos moradores, as ruas estão em chão batido. “Veja isso!”, disse ao apontar para a poeira levantada por um carro. “Todos os anos, meus filhos e eu sofremos com problemas respiratórios causados por essa poeirada”, reclama Graziene.
Em dias de chuvas, carros e a kombi escolar não passam nas ruas. A linha do micro-ônibus que circulava no local foi desativada em 2011. À noite, alguns trechos da localidade ficam completamente escuros porque em vários postes de energia elétrica faltam luminárias. Apesar disso, Gisele Pereira considera o lugar em que vive seguro. “Agora está mais tranquilo, mas antes da tragédia havia umas pessoas estranhas aqui. Alguns moradores foram embora”, disse a mulher, que vive há três anos na Prainha.
Os moradores não recebem correspondências porque as ruas também não foram devidamente identificadas. “Eu tenho que ir até a agência dos Correios no Centro de Campo do Coelho para pegar as cartas. A conta de luz só recebo porque a empresa faz a medição e imprime o papel na hora”, disse Gisele. Apesar de atrasar, o serviço de coleta seletiva de lixo é considerado bom pelos moradores. A localidade também tem acesso aos serviços de internet.
A concessionária Águas de Nova Friburgo esclareceu que o abastecimento de água nas localidades não é responsabilidade da concessionária. Segundo o contrato de concessão do serviço, a empresa só deve atender a área urbana do município.
Em nota enviada nesta sexta-feira, 4, a Secretaria Municipal de Obras informou que com a inauguração da Usina de Asfalto, a prefeitura iniciará um forte trabalho de pavimentação de ruas na cidade, que começará em Nova Suíça e, depois, Olaria. “Mas, o conserto das ruas será expandido para todo o município”, esclarece o texto.
A Secretaria de Serviços Públicos explicou que está realizando reparos na iluminação já existente. “Porém, será iniciado trabalho de instalação de sistema de iluminação nas localidades dentro de um cronograma estabelecido. Por isso, é fundamental que a associação de moradores do loteamento em questão abra uma solicitação no protocolo da prefeitura para se inserir nesse cronograma.”
E sobre a falta de água na escola, a Secretaria de Educação informou que “quando ocorre, eventualmente, a falta de água, a direção da escola solicita um caminhão-pipa para a secretaria de Educação. Quando não há tempo hábil para que o caminhão chegue no mesmo dia, no máximo, no dia seguinte, é feito o reabastecimento”.
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