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Notas sobre o nazismo em Nova Friburgo – última parte
Nem todos os alemães estavam de acordo com o rumo político tomado pela Sociedade Alemã de Escola e Culto. Fora criada para manter as tradições do povo alemão, educar as novas gerações, ser um espaço de sociabilidade e de práticas esportivas. Tomara um caminho político que desagradou a alguns provocando a cisão da comunidade alemã. Alguns tinham em suas residências uniformes, bandeiras, enfim toda uma parafernália do partido nazista, e pareciam estar prontos a servir ao Führer a qualquer ordem vinda da Alemanha. Foi o que percebeu o historiador Luiz Henrique da Silva ao entrevistar um ex-membro desse partido anos atrás. Em razão do alto nível de tensão, os que eram partidários de um posicionamento político saíram da sociedade civil e criaram o Lar Alemão. Funcionava na Rua Augusto Spinelli, em um prédio histórico que existe até hoje, onde funciona o atendimento do Hospital Maternidade. Apesar da dissidência, o novo prédio onde se instalaria a Sociedade Alemã de Escola e Culto foi concluído graças às gestões do engenheiro Hans Gaiser, proprietário da metalúrgica Ferragens Haga, de Richard Ihns e do aporte de capital das indústrias alemãs.
A comunidade alemã de Nova Friburgo somente voltaria a ser um grupo coeso a partir da vinda do pastor luterano Johannes Eduard Schlupp, no ano de 1937, que veio justamente para resolver o cisma dessa comunidade. Schlupp conseguiu a união de ambas as facções e seu sucesso foi tal que terminou por se estabelecer definitivamente em Nova Friburgo à frente da igreja Luterana. Com a transferência para a nova sede na avenida da Sociedade Alemã de Escola e Culto a prática esportiva ganha relevo. Introduzem em Nova Friburgo o faustball (punhobol) e o bolão, semelhante ao boliche. Nesse momento passam admitir não alemães ao seleto clube, mormente os integralistas, o que seria providencial no futuro. No entanto, com o advento da Segunda Guerra Mundial a situação dos alemães e italianos em Nova Friburgo fica delicada.
O Brasil toma uma posição política contra a Alemanha nazista e a Itália fascista. Inicia-se a perseguição aos imigrantes alemães e italianos em Nova Friburgo. O prédio da Escola Italiana, um dos mais lindos de Nova Friburgo, é confiscado pelo governo federal e transformado em delegacia de polícia. Temendo a extradição, toda a documentação desse período foi destruída pelos italianos. Com essa atitude perdemos todas as fontes sobre a organização do Partido Fascista em Nova Friburgo. Mas os italianos tiveram uma vantagem sobre os alemães. Contaram com o apoio da liderança política de Dante Laginestra, italiano, que conseguiu depois de passado o período de caça às bruxas que o prédio da escola retornasse à comunidade italiana. Em 1938, a Sociedade Alemã de Escola e Culto, percebendo um clima de animosidade, mudou de nome para Sociedade Teuto-Brasileira. Anos depois, em 1941, muda novamente a denominação para “Sociedade Alemã de 1921”.
Mas nada disso adiantaria. Aquele clima de preito e louvor que antes era tecido aos industriais e industriosos alemães, que tantos empregos diretos e indiretos geravam no município, vira repentinamente. Vários membros da Sociedade Alemã de Escola e Culto foram presos e levados para o Presídio da Alameda São Boaventura, em Niterói. Alguns ficaram detidos por vários meses. A população local hostilizou os alemães que foram proibidos de falar o seu idioma. A sociedade musical de Lumiar, composta em sua maior parte por alemães, teve os seus instrumentos musicais queimados. Até mesmo a Praça Paissandu que levava o nome do poderoso industrial Julius Arp foi retirado.
Os membros friburguenses que faziam parte da outrora Sociedade Alemã de Escola e Culto evitaram o confisco de seu patrimônio pelo governo federal. Foi vantajosa a introdução desses membros não alemães a essa instituição. Por conseguinte, o antigo espaço de sociabilidade alemão passou a ser designado de Sociedade Esportiva Friburguense, nome que mantém até hoje. A história da presença de imigrantes alemães em Nova Friburgo é muito instigante quando nos debruçamos sobre alguns fatos, que somados, tem um desdobramento de grande importância na história local. Os imigrantes alemães mudaram a história de Nova Friburgo. Foram os responsáveis pela industrialização da pacata cidade veranista colocando Nova Friburgo como uma das cidades mais exponenciais do estado na primeira metade do século 20.
Todos esses artigos são baseados no livro de Luiz Henrique da Silva, “Um mundo na sociedade”.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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