Por uma estrada cercada pelo verde das montanhas e beleza das flores, vê-se um vale por onde passam as águas que formam o Rio Grande. Observando com um pouco mais de atenção, inúmeras e frondosas árvores e cachoeiras nos convidam a explorar ainda mais o lugar. O cenário impressiona pelas belezas naturais de tirar o fôlego; a localidade de Fazenda da Laje nos dá a sensação de estar num daqueles lugarejos longe da cidade, onde o barulho dos carros e buzinas é graciosamente substituído pelo silêncio da natureza. Mas não estamos falando de um lugar tão afastado assim. O bairro fica a cerca de 15 km do Centro, entre os distritos de Conselheiro e Riograndina. Talvez seja esse um dos motivos que chamam ainda mais atenção e atraem famílias em buscam do sossego, mesmo bem pertinho da cidade.
No entanto, a tragédia de 2011 deixou marcas que parecem irreversíveis. A Ponte dos Ingleses, conhecida como Ponte de Ferro, é uma delas. Construída no fim do século XIX por ocasião da construção da linha do trem que ligava as cidades de Sumidouro, Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu, a estrutura foi destruída por um desmoronamento de terra que atingiu uma de suas vigas de sustentação. Além de ponto turístico, a ponte era caminho muito utilizado por moradores de localidades mais distantes, como Mariana e Janela das Andorinhas.
Muitos nem acreditam que haverá reconstrução, já que segundo eles a obra custará muito para os cofres públicos, levando-se em conta que a estrutura despencou por completo e a via de acesso do outro lado não existe mais. Outros, como o morador Tião Guerra, ainda alimentam esperanças: “Esta ponte precisa ser refeita, os agricultores que vivem em lugares afastados como Janela das Andorinhas ficaram isolados depois que ela caiu. Para que eles possam chegar ao centro da cidade agora é preciso dar um volta que leva o dobro do tempo”, afirma.
Além de residir na localidade, Tião é um dos responsáveis pelo Vale de Luz, espaço que abrigou uma escola comunitária que já chegou a atender 180 crianças e adolescentes durante 20 anos. O colégio mudou de sede, mas o espaço amplo e de vista invejável continua aberto, e agora se tornou, como o próprio Tião faz questão de frisar, um centro de desenvolvimento humano e social com seminários e oficinas que recebem participantes de vários cantos do país.
Rica em mananciais, localidade quer também fontes de lazer e infraestrutura
As nascentes espalhadas pela Fazenda da Laje ainda são responsáveis pelo abastecimento de água na localidade. Mas essa realidade vai mudar, pelo menos, para boa parte da população local. Isso porque, a Águas de Nova Friburgo, começou, em abril deste ano, as obras de instalação de uma tubulação que levará água tratada a mais de 200 imóveis da região. A obra deve ser concluída no próximo mês. Já o esgoto passa por uma fossa criada pela própria comunidade e recebe o auxílio da EBMA, que recolhe o lixo sólido gerado.
As ruas são bastante estreitas e, segundo um morador, por falta de atenção do poder público, são eles mesmos que cuidam da manutenção de muitos trechos da estrada de chão. Surpreendentemente estes não são empecilhos para que o serviço de transporte público seja oferecido em todo o bairro. No entanto, os pontos de parada dos ônibus são precários. O que está localizado em frente ao mercadinho de Aryvaldo Ribeiro
Coimbra, conhecido pelos vizinhos como Ary, é um deles. “Montaram um novo ponto de ônibus depois que o antigo foi derrubado acidentalmente por um caminhão, mas esse que está ali agora sempre foi como vocês estão vendo. Nunca acabaram de colocar as telhas de cobertura”, reclama o comerciante.
Outra queixa dos moradores da Fazenda da Laje é quanto à falta de um espaço de lazer para as crianças. Um campinho improvisado de terra batida com tocos de madeira simulando traves de futebol foi o único lugar disponível para a comunidade se divertir que nossa equipe encontrou. “A alternativa para as crianças é andar de bicicleta ou jogar bola”, conta a auxiliar de costura, Cintia Vieira, de 34 anos, que ainda ressalta outra situação: “Não temos um posto de saúde por aqui, o mais próximo fica em Conselheiro Paulino. Se alguém passar mal e não tiver carro só resta esperar pelo socorro”.
Apesar dos problemas, que infelizmente são comuns em muitos bairros da cidade, quando perguntamos ao autônomo Delacir Rangel da Silva, que trocou o centro de Conselheiro Paulino para viver na Fazenda da Laje, por que ele fez essa mudança, a resposta foi rápida e parece ter traduzido o sentimento de muitos: “Aqui a gente ainda consegue respirar um ar puro e viver em paz”.
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