Colunas
Impressões — 18/07/2015
Fábula
Oráculo – Dava-se este nome às respostas que davam os sacerdotes e sacerdotisa dos falsos deuses àqueles que vinham consultar sobre o que deviam fazer ou sobre o que devia suceder. Estas eram ordinariamente ambíguas e quase sempre capciosas. Também se dava o nome de oráculos nos diferentes lugares onde se proferiam, como o Oráculo de Delfos, o Oráculo de Gumas, etc.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)
Linha do tempo
“Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.”
Camões
Palavras, palavras, palavras
Não existe o Dia da Palavra, como o Dia das Mães, dos Pais, da Criança, da árvore e do índio. E nem é preciso uma data para homenageá-la. Ela está espalhada em todas as bocas em todos os lugares, sob qualquer condição climática, em qualquer regime, autoritário, democrático, monárquico, na tribo africana, nas avenidas, palácios, nos bares e nos lares, entre ricos e pobres.
Neste universo de homens justos e injustos ela é o elo que une idéias, conceitos e preconceitos, acusa, defende condena e liberta. Neste universo ilimitado, algumas se sobressaem pela virtude de suas idéias, pelo acalanto da alma, pelas mensagens otimistas, pelo incentivo a um mundo mais justo. Outros, contudo, usaram-na para a discórdia, para a enganação, para o mal. A última palavra é a que fica.
Sábios, religiosos, poetas, cancioneiros, visionários, pacifistas, escritores usaram a palavra para comunicar, para externar sentimentos, para educar e fazer história. Impossível enumerá-los. Desde a antiguidade mais remota à atualidade tecnológica, ela sobrevive e continua nos encantando, guardando ensinamentos em suas letras.
A língua portuguesa é muito rica. É uma das línguas oficiais da União Europeia, do Mercosul, da União de Nações Sul Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e dos Países Lusófonos. Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português é a 5ª língua mais falada no mundo, a 3ª mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul da Terra.
Brasil e Portugal são os dois únicos países cuja língua primária é o português. Entretanto, o idioma é também largamente utilizado como língua franca nas antigas colônias portuguesas de Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, todas na África. Além disso, por razões históricas, falantes do português são encontrados também em Macau, no Timor-Leste e em Goa.
Luiz de Camões, Fernando Pessoa, José Saramago, Olavo Bilac, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e o moçambicano Mia Couto são algumas figuras da literatura lusófona de valor reconhecido mundialmente. Para exemplificar o valor da nossa língua, mostramos abaixo três destes expoentes que encantam milhões de leitores em todo o mundo.
Fernando Pessoa - Portugal (1888-1935)
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Olavo Bilac – Brasil (1865-1918)
Um beijo
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto...
Mia Couto – Moçambique (1955)
Para Ti
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário