Córrego Dantas: depois da tempestade, há calmaria?

Mais de quatro anos depois da catástrofe, algumas obras de reconstrução ainda estão em andamento.
quinta-feira, 09 de julho de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Bairro ainda sofre com marcas da tragédia de 2011 (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)
Bairro ainda sofre com marcas da tragédia de 2011 (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

É difícil não se lembrar de janeiro de 2011 ao andar pelas ruas do Córrego Dantas. Localizado entre Duas Pedras e Campo do Coelho, o bairro foi um dos mais afetados pela catástrofe climática que assolou a região. No entanto, a localidade foi e continua sendo um bairro muito familiar. Para constatar isso basta conversar por poucos minutos com quem ainda reside lá. A tranquilidade e o fato de o local ser lar de muitos desde que nasceram também fazem com que seja difícil encontrar algum morador que queira se mudar. 

Mais de quatro anos depois da catástrofe, algumas obras de reconstrução ainda estão em andamento. Quem passa pela ponte recentemente reconstruída que dá acesso à Travessa Julio Schotz, por exemplo, já pode ver a obra de alargamento do córrego com a instalação de pedras nas margens, mas a questão é controversa. Enquanto a obra foi projetada para evitar mais desastres, a falta de manutenção por parte do poder público tem feito com que a vegetação tome conta do córrego, diminuindo o espaço de fluidez da água. A dona de casa Alzana Rodrigues, de 43 anos, mora no bairro há quatro meses e revela que tem sido cada vez mais difícil conviver com o problema. “Nunca vi nenhum funcionário da prefeitura capinando as margens. Na semana passada vi um cachorro correndo atrás de uma ratazana aqui nesse matagal. O que adianta fazer uma obra para alargar o córrego se não há manutenção? Um absurdo.”

Há poucos metros desta ponte um terreno baldio também tem sido alvo de reclamações. Isso porque o local está sendo utilizado como uma espécie de lixão a céu aberto, que, de acordo com os moradores, além do mau cheiro, tem contribuído para a proliferação de roedores e insetos. Por ali também encontramos um esgoto a céu aberto desaguando no córrego. Sem contar com as casas em ruínas que ainda não foram demolidas. Uma moradora que não quis se identificar diz que muitos já chegaram a fazer queixas sobre os problemas, mas até agora não tiveram uma resposta.

Transporte público e posto de saúde 

Além de ser um bairro residencial, o Córrego Dantas também é conhecido por abrigar dezenas de empresas e fábricas. Sem contar com os diversos estabelecimentos comerciais que oferecem serviços e produtos variados. Dona Maria Niuza de Souza Matos tem 63 anos e mora no Córrego Datas há mais de 40. Ela assume que esta é uma das vantagens de viver no bairro e diz não trocar o lugar onde mora por outro, mas confessa que sente falta de uma unidade de saúde para atendê-los. “Gosto muito daqui, mas não temos um posto de saúde e isso faz muita falta. O mais próximo fica em São Geraldo”, comenta ela.

Para a garçonete Sonia Maria Souza Martins, de 38 anos, o maior transtorno vivido por quem mora no Córrego Dantas é a suspensão da linha de ônibus para a localidade. “Há um tempo atrás, o ônibus passava apenas em algumas ruas do bairro, depois quando as obras das pontes começaram ele parou de circular. Mas agora que as pontes já estão prontas a linha foi extinta. Eles alegam que não tem necessidade de uma linha para cá porque o bairro não tem passageiros o suficiente para isso. Como não tem? Nós vivemos aqui”, reclama Sonia. Maria Rosa Machado mora na parte mais alta do bairro, na Rua João Luiz Fernandes, e afirma que o transporte público nunca passou por lá. “Nossa rua é estreita, talvez seja por isso. Mas ter que descer na pista do outro lado do bairro para andar cerca de 20 minutos a pé é demais. Já fizemos abaixo-assinado e nada aconteceu”, conta ela.
    
Parque Fluvial em fase de aprovação

Os governos estadual, por meio da Secretaria de Ambiente e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), e federal, com verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), estão investindo R$ 195 milhões em projetos, que devem ser concluídos em 2016. Dentre eles estão as do Córrego Dantas. 

Além das obras no córrego também está prevista a criação do parque fluvial. O objetivo, segundo o Inea, é de, além de criar uma área de lazer e reflorestar as margens dos rios, proporcionar uma área de segurança em caso de novas enchentes. De acordo com o superintendente da Suprid (Superintendência Regional Rio Dois Rios) José Wenceslau Junqueira: “A primeira  fase de obras no Córrego Dantas foi de intervenção, a segunda o projeto dos parques fluviais. Agora, estamos aguardando a análise da CEF para aprovação do projeto que será até o dia 30/07, assim que aprovar vamos dar início à licitação do restante das obras que serão feitas em todo o bairro”, pondera ele.

O A VOZ DA SERRA entrou em contato com os demais órgãos envolvidos nas queixas apresentadas pelos moradores do Córrego Dantas, mas até o fechamento desta edição não obtivemos respostas.

  • Sem manutenção, mato está tomando conta de córrego que corta o bairro (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

    Sem manutenção, mato está tomando conta de córrego que corta o bairro (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

  • Além de casas, muitas carcaças de carros abandonados também podem ser encontradas pelo bairro (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

    Além de casas, muitas carcaças de carros abandonados também podem ser encontradas pelo bairro (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

  • Ruínas demarcadas para demolição permanecem de pé desde 2011 e têm se transformado em esconderijo para usuários de drogas (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

    Ruínas demarcadas para demolição permanecem de pé desde 2011 e têm se transformado em esconderijo para usuários de drogas (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

  • Ruínas demarcadas para demolição permanecem de pé desde 2011 e têm se transformado em esconderijo para usuários de drogas (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

    Ruínas demarcadas para demolição permanecem de pé desde 2011 e têm se transformado em esconderijo para usuários de drogas (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

  • Comunidade também se queixa do uso deste terreno como lixeira (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

    Comunidade também se queixa do uso deste terreno como lixeira (Foto: Lúcio César Pereira / A Voz da Serra)

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