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O sumidouro do Rio Paquequer
As fronteiras geográficas mudam no decorrer da história e municípios outrora com maiores dimensões passam a ter o seu território diminuído, a cavaleiro das picuinhas políticas. Assim ocorreu com Nova Friburgo que perdeu vasto território no último quartel do século 19. Um dos territórios que Nova Friburgo perdeu foi o município de Sumidouro, sua outrora Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer. O povoado de Sumidouro pertencia anteriormente a Cantagalo. Por doação de um fazendeiro local foi erigida uma capela denominada de Nossa Senhora da Conceição. O nome Conceição não é o de uma santa, mas, um dogma do cristianismo significando concepção. Em razão de sua constante ocupação e consequente aumento da população ganha posição de curato, com a presença de um cura, eclesiástico que realizava registros de batismos, casamentos, testamentos, entre outras funções administrativas. Por gozar de um significativo crescimento populacional e importância econômica devido ao cultivo do café, adquire o status de freguesia. Nesse caso, em vez de continuar vinculado a Cantagalo, passa a pertencer a Nova Friburgo. Logo, em 1843, a vila do Morro Queimado ganha uma importante região: a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer. Incorpora o nome Paquequer por ser o nome do rio que irriga as terras férteis da região, de grande importância para a atividade agrícola.
No período do Império, quando pertencia a Nova Friburgo, vale destacar, Sumidouro gerou uma nobreza da terra, como o Barão de Aquino. Além desse barão, que fizera investimentos na vila de Nova Friburgo, igualmente o fez Manoel Amancio de Souza Jordão, um dos mais importantes fazendeiros de Sumidouro. Em 1892, Souza Jordão adquire o teatro Victor Hugo, ainda em construção, da sociedade musical Campesina e passa a denominá-lo Dona Eugênia, preito à sua esposa. O jornal é confuso declarando que foi adquirido por João Amâncio do Prado Jordão. De qualquer forma, fica o teatro na propriedade dos Jordão, cafeicultores e usineiros de Sumidouro. Uma de suas propriedades em Sumidouro era a Fazenda Santa Cruz, que vem sendo restaurada por seu atual proprietário. É um dos mais belos sobrados da região. Existem atualmente aproximadamente mais de quarenta sobrados do tempo do Império em Sumidouro. A imensidão dos terreiros de secagem de café nessas propriedades denota a grandeza econômica dessa região. Igualmente engenhos de cana guardam vestígios nessas fazendas. A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer fica anexada a Nova Friburgo até o ano de 1881, quando então passa a pertencer ao Carmo. Em 1890, elevou-se essa freguesia à categoria de município, passando a denominar-se Sumidouro. E por que tão bizarro nome? Porque o Rio Paquequer em uma determinada altura desaparece por entre as pedras, sumindo durante aproximadamente 300 metros e passa a surgir novamente adiante. Daí o sumidouro do rio dar nome ao município. Esse fenômeno atípico da natureza desapareceu em razão da intervenção do homem na região. Nos últimos anos, dois sobrados das fazendas de Sumidouro foram totalmente desmontados e transportados para propriedades rurais no interior do Estado de São Paulo, para gáudio dos paulistas. Em algumas fazendas vendeu-se uma escada de pedras do antigo sobrado e em outras o proprietário foi procurado por um paulista para vender o muro de pedra e o portão de ferro de um antigo cemitério localizado na fazenda.
Em Sumidouro, nenhum desses sobrados foi tombado pelo patrimônio histórico e nem sequer a sua igreja matriz, de meados do século 19. O descaso das autoridades com a riqueza histórica dessa região é surpreendente. Enquanto vemos o Iphan na sua luta insana em destruir os nossos centenários eucaliptos deveria ocupar-se com essa região que assiste impotente os seus sobrados históricos serem levados, pedra por pedra, para propriedades rurais em São Paulo. Não é só a história de Sumidouro desaparecendo, mas igualmente a de Nova Friburgo. Ao dono o seu, ditado antigo que reflete nossa indignação em ver a nossa história sendo levada para outras paragens, ficando nós a ver navios.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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