O descarte indevido de garrafas de vidro de cervejas e refrigerantes conhecidas como long necks nas ruas de Nova Friburgo despertou no estudante Marcos Tavares, de 18 anos, uma ideia que pode contribuir para o combate ao mosquito transmissor da dengue, no momento em que pelos menos sete estados do país enfrentam uma epidemia da doença, segundo o Ministério da Saúde. O projeto desenvolvido por ele e por mais três estudantes dos cursos técnicos de eletrotécnica e segurança do trabalho do Senai está em fase inicial e propõe às empresas transformar as garrafas que não podem ser reaproveitadas em armadilha que atrai os mosquitos e aprisionam os ovos do Aedes Aegypti com borra de café.
A ideia de transformar garrafas em “mosquiteiros” fora criada pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maulori Cabral, usando-se garrafas PET. Qualquer pessoa pode construir a armadilha seguindo orientações disponíveis na internet. “Mas na long neck o sistema funciona melhor, porque o calor dura mais nesse tipo de garrafa. A gente sabe que o mosquito é atraído pelo vapor. Inclusive, as garrafas de vidro escuras atraem os mosquitos para a desova, pois comprovadamente o mosquito evita claridade”, explicou Marcos.
Seu projeto — em parceria com os estudantes Gleison Lima, Igor Lotufo e Marcio Barbosa, todos de 19 anos — pode ser uma solução para o setor empresarial de bebidas, que precisa reaproveitar ou dar uma destinação ambientalmente adequada às garrafas. “É a chamada logística reversa, uma forma de retirar parte desse material do meio ambiente, seguindo determinação da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, explicou o arquiteto e instrutor do Senai, Roberto Pagnoncelli, um dos orientadores do projeto.
A sugestão dos estudantes para a indústria pode beneficiar o meio ambiente com a redução do descarte inapropriado das garrafas — e, é claro, a saúde pública. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, estudos científicos comprovam a eficácia dos mosquiteiros.
No primeiro trimestre deste ano, o número de casos de pacientes infectados com o vírus da dengue aumentou no Acre, Tocantins, Rio Grande do Norte, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás — esses estados brasileiros estão em situação de epidemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou que o Brasil registrou 745,9 mil casos de dengue entre 1º de janeiro e 18 de abril deste ano. O total é 234,2% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o relatório, 229 pessoas morreram por causa da doença nas 15 primeiras semanas do ano, um aumento de 44,9% em relação ao mesmo período de 2014. No estado do Rio de Janeiro, o governo registrou 22.484 casos. Em Nova Friburgo, 33 pessoas contraíram a doença neste ano.
A iniciativa dos quatro estudantes faz parte de um projeto que estimula alunos dos cursos técnicos do Senai, em todo o Brasil, a desenvolveram soluções para a sociedade e a indústria, em quatro áreas: resíduos industriais, energia renovável, mobilidade urbana e otimização da água. “O projeto funciona numa plataforma na internet que conta com a contribuição de alunos do Senai e de qualquer pessoa que se cadastra no site. São quase 600 ideias na plataforma. No final, serão escolhidos quatro ideias vencedoras do projeto”, explica a pedagoga Catarina Wermelinger. Em Nova Friburgo, outros nove projetos de alunos do Senai estão participando do desafio nacional.
Na primeira etapa do concurso, os estudantes publicaram um escopo da ideia no site www.inovemaispr.com.br. Cada projeto possui uma página exclusiva na plataforma com informações sobre a ideia, que registra as visualizações e também possibilita a interação, por meio de comentários e “curtidas”. Esses fatores são considerados da avaliação. Em maio, os alunos devem aprimorar a ideia e desenvolver um protótipo, que será apresentado em junho a uma banca de avaliadores. Os estudantes dos quatro projetos vencedores do desafio ganharão uma semana de imersão em uma grande empresa que atue na área de pesquisa dos projetos.
Reaproveitamento de garrafas de vidro descartáveis como armadilha para mosquito
A garrafa é recolhida e cortada mecanicamente na altura do gargalo. Uma tela de microtule é presa à boca da garrafa, que ficará submersa na água com borra de café, dentro da outra parte da garrafa. “A gente sabe que o mosquito se adapta bem a vários recipientes e que ele detecta o local ideal pelo vapor da água. Ele será atraído, vai depositar os ovos, mas eles não sobreviveram por causa da cafeína”, explicou Marcos.
De acordo com Pagnoncelli, “a borra de café inibe o processo final do desenvolvimento do mosquito. Ele desova na garrafa e a cafeína altera enzimas dos ovos dos mosquitos, enzimas responsáveis por processos fisiológicos fundamentais, como o metabolismo hormonal e o da reprodução do mosquito. Esse procedimento mata a larva e impossibilita seu desenvolvimento em pupa, que posteriormente vira o mosquito”, disse o instrutor do Senai.
Na segunda fase do desafio, o grupo realizará pesquisas sobre os custos do projeto para as empresas. Eles acreditam que o valor investido pelas indústrias não será tão alto, considerando o benefício que a destinação adequada das garrafas pode trazer para a economia, o meio ambiente e a saúde da população.
Saiba mais sobre o projeto Bioação, o “mosquiteiro” criado pelos estudantes com garrafas long neck, no link http://goo.gl/8UKsmd.
Deixe o seu comentário