O café, o trem e o clima

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Na semana do aniversário de Nova Friburgo, a historiadora Janaína Botelho publica, a pedido de A VOZ DA SERRA, detalhes da história do município, desde a sua fundação, há 197 anos, até os dias atuais. Neste artigo, ela destaca a cultura cafeeira da cidade.

-

Na medida em que avançamos nas pesquisas sobre Nova Friburgo, percebemos que não foi somente um lugar de passagem das tropas de café de Cantagalo, beneficiando-se com o comércio e serviços ao dar rancho aos tropeiros. Foi igualmente um município produtor de café, embora modesto se comparado com a Magna Cantagalo. Faltam pesquisas com uma análise econômica desse período em Nova Friburgo, mas há indícios, pelo número de escravos, que algumas freguesias prosperaram nessa atividade agrícola. Cantagalo experimentou um surto de progresso sem paralelo em sua história na cultura cafeeira. O cultivo do café se impõe como cultura dominante a partir da terceira década do século XIX. As construções toscas e modestas dos antigos fazendeiros foram substituídas por belos sobrados. Surge uma aristocracia rural, os barões do café, a exemplo de Antonio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Quando o Governo Regencial procedeu, em 1833, a reestruturação judiciária da província ampliando para seis o número de comarcas, Cantagalo — devido a sua importância econômica e política — passou a figurar como cabeça da comarca, ficando sob sua jurisdição Nova Friburgo, Paraíba do Sul, Vassouras, etc. Mas quais seriam as áreas disponíveis para plantação de café em Nova Friburgo?

Nova Friburgo possuía duas freguesias, a de N.S. da Conceição do Paquequer (hoje município de Sumidouro) e a de São José do Ribeirão (hoje distrito de Bom Jardim), que apresentavam condições favoráveis para o desenvolvimento do café: altitude ideal, clima ameno e terras novas. O povoado de São José do Ribeirão, a quarta sesmaria adquirida para formar o termo de Nova Friburgo, em razão do crescimento de suas plantações de café, de curato ganhou status de freguesia, em meados do século XIX, se tornando a mais importante delas economicamente. Por outro lado, a vila de Nova Friburgo era muito procurada por indivíduos que vinham se curar da tuberculose, devido ao seu clima salubre. Essa circunstância iria desencadear o surgimento de uma rede hoteleira, com o desenvolvimento de comércio e do setor de serviços. Ainda assim, seria o café o grande propulsor do desenvolvimento econômico da região. Para vencer os tortuosos caminhos da Serra da Boa Vista, que causavam enormes prejuízos com a perda do café e de animais, o Barão de Nova Friburgo, em meados do século XIX, investe no ramal ferroviário. Em 1873, a linha férrea chega a Nova Friburgo para seguir rumo às plantações de café da Magna Cantagalo. O transporte ferroviário passou a servir não somente aos cafeicultores, mas igualmente à população. Foi criado o trem de passeio para o transporte de passageiros. Em decorrência da facilidade desse meio de transporte, uma viagem a Nova Friburgo de quatro dias passou a ser realizada em quatro horas. As belezas naturais, o clima salubre, a qualidade de suas águas, a cordialidade de seu povo e a diversidade da rede hoteleira incrementaram o turismo na cidade, inicialmente um turismo da saúde, para a convalescença da tuberculose. 

  • Foto da galeria

    Plantação de café, possivelmente em Nova Friburgo

  • Foto da galeria

    O trem passando por Sumidouro, antiga freguesia de Nova Friburgo

  • Foto da galeria

    Nova Friburgo, 1897, plantaçao de café

  • Foto da galeria

    Estação de trem no século XIX

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.