A Casa de Madame Santana e outros prédios

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Algumas residências no centro de Nova Friburgo deixam saudades, como a “Casa de Madame Santana”, a “Casa de Dona Vitalina” e finalmente a “Casa de Rui Barbosa”. Ainda hoje essas residências estão no imaginário daqueles que viveram uma época mais remota. Até princípios do ano 2000 a Casa de Madame Santana ainda não havia sido demolida. Atualmente no local existe um estacionamento, no coração da Rua Alberto Braune. A casa tinha três salões, duas salas, oito quartos, além de outras dependências, com um amplo jardim de camélias e um majestoso pomar. Na realidade, quem construiu esse belíssimo palacete foi a família Dumans, entre os anos de 1892 a 1894. A família tinha negócios como torrefadores de café. Há informações de que foram residir em Nova Friburgo devido à tuberculose de um de seus filhos, Otávio que, no entanto, acabou falecendo em dezembro de 1898. Nos primeiros anos do século XX, o palacete foi alugado e no local passou a funcionar a Pensão Marinho. Em 1908, foi vendido ao casal Luiz Ferreira de Souza Moraes Sant’Anna e Catarina Iracema Valentim, sendo que essa última ficou conhecida em Nova Friburgo como Madame Sant’Anna. Era uma mulher aristocrática, loquaz, solene e excêntrica. Tinha cabelos negros e vestia-se com sobriedade e elegância mesmo na intimidade, de acordo com Leila Alves Lopes de Mello, que gozou de sua privacidade. No casarão foram criadas as oito filhas do casal. Luiz Ferreira de Souza Moraes Sant’Anna, conhecido como Seu Guarany, era um rico comerciante português, proprietário de vários imóveis, falecido em 1940. No entanto, Madame Sant’Anna não ficou viúva por muito tempo.

Casou-se com Genésio Rocha, funcionário da Estrada de Ferro Leopoldina, com ele vivendo durante mais de vinte anos. Madame Sant’Anna faleceu em 3 de janeiro de 1967. Sabe-se que até a década de 1980 Dora Valentim, uma das filhas do casal, foi a última moradora desse imóvel. Usando quase sempre roupas pretas e vagando solitária pelo palacete, foi residir com as irmãs em Niterói. De acordo com A Voz da Serra de 16 de maio de 2000, na matéria “A história nos prédios e casarões”, na calada da noite os proprietários foram gradativamente destruindo a estrutura do palacete até que desabasse, evitando assim um possível tombamento, que era eminente, do histórico imóvel. Uma grande perda na outrora elegante Rua Alberto Braune. 

Semelhante destino teve a “Casa de Dona Vitalina”, que de repente ruiu, não obstante sua sólida estrutura. No local, o shopping da Praça, deixando saudades aquela patriarcal residência dos Galeano das Neves. A “Casa de Rui Barbosa” era outro lindo palacete no centro da cidade. Atualmente encontra-se edificado o Rosa Marchon, quase em frente à rodoviária urbana. Na realidade, o imóvel era de propriedade da família Salusse, que alugara para Rui Barbosa, amigo da família e veranista habituée em Nova Friburgo. E daí o vulgo a apelidara de “Casa de Rui Barbosa”. Anna Maria Siqueira se recorda das lareiras dessa residência, em mármore de carrara rosa, e dos espelhos de cristal que iam até o teto. 

Mas nos restaram outros belíssimos imóveis históricos no centro da cidade, como o Colégio N. S. das Dores, um lindíssimo prédio em estilo neoclássico. Fora anteriormente o pujante Hotel Central, que pertencera ao médico Carlos Éboli. Esse hotel servia para hospedar os pacientes que se tratavam no Estabelecimento Sanitário Hidroterápico, igualmente de propriedade de Éboli. O prédio foi arrematado em leilão, em 21 de novembro de 1895, pela Ordem Religiosa Doroteia. Logo em frente, o histórico prédio da Mitra Diocesana. Foi construído em 1889 para ser uma residência.

Posteriormente foi adquirido pela Empresa Brasileira de Hotéis e em seguida passou a ser de propriedade da diocese. No centro existe ainda o belíssimo prédio em estilo normando, onde funciona o Ienf, outrora Escola Ribeiro de Almeida. Foi inaugurado em 1933 e tem-se notícia de que marceneiros vieram da Europa especialmente para o serviço de carpintaria do prédio. Ainda no centro da cidade, há indícios de que o sobrado em cima do “Pão da Praça” seja contemporâneo do solar do Barão de Nova Friburgo, da década de 1860. Em relação ao solar do Barão de Nova Friburgo, me surpreendi em uma recente palestra que fiz a alunos secundaristas, que por ali circulam diariamente, desconhecerem a origem do prédio. Por fim, não podemos deixar de mencionar o magnífico edifício em art dèco da família Spinelli, edificado no local do outrora Hotel Salusse, na década de 1930. Apesar da fúria destruidora de nosso patrimônio histórico por omissão de gestões municipais passadas, ainda nos restaram alguns imóveis, testemunho de nosso passado. 

 

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.