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O destino do prédio da Fundação Getúlio Vargas
quarta-feira, 25 de março de 2015
Particulares, governo municipal e sociedades civis se reuniram na Câmara Municipal para debater o futuro do agonizante prédio da "Fundação”, como foi durante muitos anos conhecido, propriedade da Fundação Getúlio Vargas. Até a tragédia ambiental de 2011, serviu para a instalação da Uerj, mas por questão de inviabilidade de acesso e danos ao prédio, a universidade encontra-se alocada em outro estabelecimento. A iniciativa da discussão do destino do complexo da Fundação Getúlio Vargas partiu do vereador Marcelo Verly. Na última reunião, as propostas mais significativas apresentadas para o local foram um Centro Olímpico ou um Núcleo de Criação de Novos Empreendimentos Tecnológicos. Ambas as propostas dependem de outros órgãos e instituições para viabilizarem os projetos. Traduzindo, o município não tem como "andar com as próprias pernas” e resolver a questão. Considerando a crise econômica e moral pelo qual passa o governo federal atualmente, o complexo esportivo irá deitar em berço esplêndido na gaveta do Ministério dos Esportes. Fundações e universidades estão igualmente sucateadas e a mídia é prenhe de notícias nesse sentido. Logo, a criação de um polo tecnológico nos parece muito difícil de viabilizar. Segundo a imprensa, o encontro foi produtivo, rendeu boas ideias e diversos compromissos. Por parte do governo municipal, de trabalhar pela recuperação do acesso ao complexo, dependendo para tanto do governo estadual no "Programa Somando Forças”, que inclui a região da Vila Nova, onde abrange o complexo da Fundação Getúlio Vargas. Aguardemos a próxima reunião no início do segundo semestre para ver "a quantas andam” as ações desses setores e ver qual é a resposta do Ministério do Transporte e a posição da Uerj e da Fundação Getúlio Vargas.
Esse prédio tem uma história longa e se inicia quando o médico Dermeval Barbosa Moreira e seu cunhado resolveram edificar no local, conhecido como Cascata, um hotel cassino, em parceria com o Cassino da Pampulha, o Cassino da Urca e do Quitandinha. Como o jogo de azar foi proibido no país, o cassino ficou inviabilizado. Dermeval Barbosa Moreira ofereceu ao Hospital de Tuberculosos de Corrêas, em Petrópolis, o prédio do Cassino Cascata para a instalação de um hospital. A população friburguense protestou com a instalação de mais um sanatório na cidade para tratamento de tísicos, pois já havia o Hospital de Tuberculosos do Sanatório Naval. Augusto Spinelli, César Guinle, José Eugênio Muller, entre outros, adquirem o prédio a fim de instalar um estabelecimento educacional, a Empresa Educacional Fluminense. Como não conseguem viabilizar o colégio entram em contato com a Fundação Getúlio Vargas. Na aquisição do prédio do Cascata, a população friburguense fez uma subscrição para arrecadar dinheiro, a Prefeitura desembolsou alguns milhões de cruzeiros e a Fundação Getúlio Vargas, entrando com muito pouco, se tornou proprietária do prédio. Como no "bife a cavalo”, o município de Nova Friburgo entrou com a carne e a fundação com o ovo. Dá para perceber a diferença? O Cascata passou a abrigar, a partir de 1949, o Colégio Nova Friburgo e o período letivo se inicia no ano seguinte. Os alunos das primeiras turmas eram de classe alta e na primeira década de funcionamento praticamente todos os discentes vinham de diversos estados. Até aí nenhuma novidade, pois o Colégio Anchieta desde a sua fundação, em fins do século XIX, recebia filhos da elite política e econômica de diversas províncias do país. O Colégio Nova Friburgo foi um estabelecimento de ensino secundário com práticas pedagógicas inovadoras. Diferenciava-se largamente dos rígidos padrões empreendidos pelos tradicionais colégios católicos da cidade.
Em tempos mais remotos, a vila de Nova Friburgo abrigara o Colégio São Vicente de Paula, do pedagogo alemão Barão Tautphaeus, tutor de Joaquim Nabuco, e posteriormente o Instituto Colegial Freese, do inglês John Henry Freese, ambos estabelecimentos da primeira metade do século XIX. Passados vinte anos da fundação do termo de Nova Friburgo, a vila já possuía um grande estabelecimento educacional formador da elite do Império, como foi o caso do Colégio Freese. Bem, tudo isso para dizer que as coisas não acontecem por acaso. A vinda do Colégio Nova Friburgo seguia uma linha de tradição e representação do município: a vocação na Educação. Aguardemos o desenrolar do destino desse prédio que bem que poderia ser um museu, já que sucessivos gestores públicos municipais há muitos anos se descuram da história e da memória de Nova Friburgo.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora
de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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