A história da praça dos eucaliptos - Última parte

quarta-feira, 18 de março de 2015

 A Praça Getúlio Vargas possuía dezoito mil e quinhentos metros quadrados. Era formada em três praças distintas e um largo: Praça de São João, Praça d’El Rei Dom Manuel, Praça do Príncipe Real Dom Pedro e Largo do Mercado. Foi dividida por Glaziou em três segmentos proporcionais, cortadas por continuações das ruas que eram perpendiculares à praça, sendo que dois córregos capeados serviram como limites naturais nessa divisão. A primeira parte, com cinco mil e seiscentos metros quadrados, localizava-se em frente à casa do segundo barão de Nova Friburgo, começando na Rua General Pedra (atualmente as ruas Farinha Filho e Dante Laginestra), por onde passava um córrego, e estendia-se até as ruas do Conde d’Eu (atualmente Ruas Monsenhor Miranda e Ernesto Brasílio), onde igualmente passava um córrego. A segunda parte da praça estendia-se do limite do segmento anterior até a Rua Gal. Andrade Neves (atualmente Ruas Luiz Spinelli e Galeano das Neves). Finalmente, a terceira parte começava do limite do segmento anterior até a Rua do Riachuelo (atualmente Rua Francisco Miele). Glaziou plantou eucaliptos nos três segmentos da praça, cada um com dois renques laterais. Utilizando o mesmo alinhamento dos eucaliptos, plantou do lado direito bougainvilles e do lado esquerdo outra fileira de árvores, de espécie desconhecida. 

As obras da praça foram concluídas em 1881. O projeto de Glaziou teve direção técnica de Carlos Engert, outro grande hoteleiro, que possuía o Hotel Engert e o Hotel Leuenroth, ambos próximos à praça. Luís Pires de Farinha Filho seria o sucessor de Glaziou no paisagismo das demais praças da cidade. O traçado original da Praça Getúlio Vargas foi mantido até aproximadamente a década de 1890, ou seja, até nove anos após executado o projeto. No entanto, até o ano de 1918, nas comemorações do centenário de Nova Friburgo, em linhas gerais, o projeto de Glaziou ainda mantinha-se intacto, apresentando somente problemas relativos à sua conservação. 

Durante a gestão de Galdino do Valle Filho, a praça passou a ser denominada de Praça 15 de Novembro. Ele prolongou a praça até em frente à Catedral São João Batista, até então um espaço vazio.  Esse prolongamento da praça apresentou a mesma linearidade das alamedas do projeto de Glaziou, mas com uma vegetação de menor porte, um coreto, a estátua comemorativa do centenário da cidade e quatro estátuas das estações do ano. Baseando-se nos referenciais dos jardins românticos, com características orientais de construção, como o estilo chinês e mourisco, foram edificados na terceira parte da praça um cinema em estilo mourisco e um coreto em estilo pagode chinês. Tempos depois, um rink de patinação. Edifícios como a casa dos Salusse, Hotel Salusse, Pensão Nascimento, Hotel Cassino Turista, a igreja Matriz de São João Batista, o solar do Barão de Nova Friburgo e o Grupo Escolar Ribeiro de Almeida emolduravam a praça em 1920. 

A Praça Getúlio Vargas foi tombada pelo Iphan em 1972, pelo seu conjunto arquitetônico e paisagístico. Além do aspecto material, existe ainda a imaterialidade que essa praça possui. Além de constituir patrimônio cultural de natureza material, devido ao seu conjunto arquitetônico, é igualmente imaterial, lugar onde se concentram e se reproduzem as práticas culturais coletivas. Uma miríade de histórias gira em torno dela, como a divisão de classes sociais nas quais suas alamedas eram demarcadas para passeios dos ricos e dos pobres; por onde passavam o trem vassourinha, que varria as moças decentes ao cair da noite e os passeios depois do cinema. A Praça Getúlio Vargas acompanhou os acontecimentos políticos alterando o seu nome conforme os ventos revolucionários: foi monárquica, chamando-se Praça Princesa Isabel; a seguir republicana, sendo chamada de Praça 15 de Novembro. Com a Revolução de 30, passou a denominar-se de Praça Getúlio Vargas. 

A tragédia ambiental de 2011 derrubou prédios na cidade, mas os eucaliptos da Praça Getúlio Vargas resistiram. Ainda que sob protestos da população, grande parte dos mais que centenários eucaliptos foi derrubada por determinação do governo municipal na gestão 2015. Esse acontecimento vem sendo visto pela população friburguense como a segunda maior tragédia em Nova Friburgo, depois da ocorrida em 2011. Com a derrubada de grande parte dos seus mais que centenários eucaliptos, inúmeras pessoas vêm buscando fotos antigas da praça arborizada para resgatar a sua memória. Será somente dessa forma que daqui por diante poderemos reconstituir a sua outrora pujante beleza: através de antigas fotografias? (Baseado na obra de Luiz Fernando Dutra Folly, "A História da Praça Princesa Isabel em Nova Friburgo: O projeto esquecido de Glaziou”.)


Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora

de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook "História de Nova Friburgo”


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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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