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Figa, figa, figa, para os que não foram ao baile!
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Como foi o final do século XIX, o fin de siècle, como se dizia à época, e a chegada do século XX? O século XIX foi um período histórico de grandes transformações tecnológicas e científicas. A urbanização e a vida social ganham impulso nas principais capitais da Europa, como em Paris e Viena, o que lhe valeu o título, ao final do século, de Belle Époque. No século XIX, inventou-se o estetoscópio (1816); o navio a vapor (1819); o revólver (1835); o fogão a gás (1837); o código Morse (1838); a fotografia, a borracha e bicicleta (1839); telégrafo (1844); a anestesia e a máquina de costura (1846); o elevador (1852); a refrigeração para produção industrial de gelo, daí os sorvetes (1860); identificou-se os germes como causadores de doenças (1862); o efeito estufa (1863); a pasteurização de alimentos e a cirurgia antisséptica (1865); o chiclete (1872); o telefone (1876); o fonógrafo (1877); a vacina (1879); a causa da tuberculose (1882); o automóvel e a vacina contra a raiva (1885); a Coca-Cola (1886); o cinema (1889); a psicanálise (1893); o raio-x e aparelho cinematográfico (1895) e a causa da febre amarela (1900). Foi ainda o século da imprensa!
Nova Friburgo conheceu muitas novidades no fin de siècle. Além do trem, que teve o maior impacto no seu cotidiano, conheceu o raio-x, o telefone, a fotografia, a bicicleta e a eletricidade no Hotel Central. Nova Friburgo, ainda no final do século XIX, conheceu o fonógrafo. Cobrava-se entrada para se ouvir árias, monólogos, bandas, solos de pistão, flauta, piano e discursos. Segundo o reclame, "era a mais maravilhosa descoberta deste século (...) prodigiosa máquina que fala, que canta e que ri...”. A população friburguense se vislumbrou com o cinema, denominado à época de animatógrafo. No Cassino Friburguense e no Animatógrafo Joly havia sessões de cinema, constituindo "uma novidade do mais vivo atrativo e uma das maravilhas destes tempos de progresso”, dizia o jornal.
Na virada do ano, Nova Friburgo já estava repleta de veranistas e transformava-se em prestimosa cortesã. Na comemoração, os friburguenses brindavam desejando entre si saúde, fraternidade, alegria e felicidade. Os hotéis como Central, Salusse e Engert e igualmente o Teatro D. Eugênia promoviam animadas soirées regurgitando de veranistas. Numa comemoração de final de ano de 1895 para 1896, foi concorrido o baile à fantasia do Teatro D. Eugênia, com premiação da mais bela indumentária. Às nove horas da noite, "à inglesa”, a dança no salão foi executada por duas bandas que se revezavam na execução das peças musicais. Quando uma delas finalizava o seu "terno”, a outra iniciava sua apresentação com intervalo que não excedia a cinco minutos. Após os brindes da virada de ano, um orador tomou a palavra e discursou para o público licencioso. Não era de bom tom perorar por mais de meia hora, sob pena de apupos. Depois, seguia o baile dançando-se quadrilha até o romper da aurora. Às quatro horas da manhã, cavalheiros e damas saíam do teatro, seguidos pelas duas bandas. Percorrendo a cidade, despertavam as pessoas, cumprimentando-as, desejando-lhes "bons anos” e num divertimento inocente, fazia-lhes figa aos gritos de: "Figa, figa, figa, porque não foram ao baile”. A todos os leitores de A VOZ DA SERRA um feliz 2015!
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora dediversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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