A mercantilização da saúde

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Wadih Damous*

Semana passada, a Fiocruz divulgou uma pesquisa sobre partos, realizada a partir de entrevistas com mais de 23 mil mulheres em maternidades públicas e privadas do país. O estudo demonstrou que os partos cirúrgicos (feitos com cesariana), que em 1970 representavam 14,5% do total no país, passaram a ser 52% em 2010. Se forem computados apenas os partos na rede privada, hoje em número cada vez mais expressivo pela quantidade crescente de pessoas que têm plano de saúde, o percentual cresce para 88%.

O aumento do número de partos feito por cesariana representaria uma evolução? A resposta é não.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os partos cirúrgicos correspondam a, no máximo, 15% dos casos. Suécia, Noruega e Finlândia, por exemplo, têm índices abaixo de 20%.

Segundo a coordenadora do estudo da Fiocruz, no caso dos recém-nascidos a cesariana aumenta as chances de infecções e hemorragia. E pesquisas relacionam também o parto cirúrgico com problemas como doenças respiratórias, como asma, diabetes tipo 1 e hipertensão na fase adulta.

Como muitas outras coisas, o aumento de cesarianas no Brasil tem relação com a mercantilização da medicina e o lucro. O parto normal é mais barato e exige mais tempo de presença do médico — em média, oito horas. Daí a opção pela cesariana mesmo em situações em que ela não é necessária.

Essa situação faz com que aumentem os gastos públicos, assim como as mensalidades que os planos de saúde cobram de seus associados, para quem repassam seus custos. Além disso, como visto acima, segundo a OMS não é o melhor em termos de saúde da população.

Eis aí um problema que merece atenção das autoridades.


*Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio


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