Dúvidas pertinentes

sábado, 10 de maio de 2014

A tese da polícia para explicar a morte do coronel Paulo Malhães, que teria sofrido um infarto quando era vítima de um roubo em sua casa, traz dúvidas.

E elas aumentaram quando pude visitar o caseiro preso e ouvir dele que, ao contrário do que dissera a polícia, ele não tinha confessado participação no crime.

Em depoimentos recentes, Paulo Malhães confirmou torturas, assassinatos e ocultação de corpos de presos políticos na ditadura, dando informações inéditas e relevantes à Comissão da Verdade. A sua morte, em seguida, torna inevitável a desconfiança de queima de arquivo e tentativa de intimidação de outros envolvidos naqueles crimes.

Além disso, há outras questões. Como explicar que a morte de Malhães tenha sido noticiada numa página na internet mantida por pessoa ligada a militares que participaram da repressão ("A verdade sufocada”) antes de a grande imprensa informá-la em seus sites? Quais foram as fontes da página dos militares? Como explicar que bandidos da periferia de Nova Iguaçu tenham se preocupado em retirar discos rígidos de computadores do coronel, informação publicada em jornal do Rio de Janeiro?

Há mais. Também segundo os jornais, os ladrões usaram luvas cirúrgicas para não deixar impressões digitais, o que é estranho caso eles fossem mesmo pés de chinelo, como afirma a polícia. 

Além disso, por que entraram na residência e ficaram esperando a chegada do coronel e sua mulher? Depois, ficaram oito horas com Malhães num cômodo. Por quê?

Enfim, muita coisa parece não fechar. Por isso, a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão da Verdade do Rio, juntamente com integrantes da Comissão de Direitos Humanos do Senado estão pedindo a entrada da Polícia Federal no caso.

A providência seria oportuna, ajudando para que não pairassem dúvidas sobre o caso.


*Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio

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