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Retorno à barbárie
sábado, 22 de fevereiro de 2014
"Uma imagem vale mais que mil palavras”, diz um provérbio chinês. A foto publicada nos jornais de um jovem morador de rua nu e preso a um poste pelo pescoço por uma tranca de bicicleta numa rua do Flamengo chocou muita gente. E com razão. Até pela cor da pele do adolescente, foi impossível não associá-la a imagens de escravos negros supliciados por feitores. O rapaz tinha sido espancado por jovens de classe média, autodenominados "justiceiros”, que o tomaram por ladrão.
A foto fez com que fosse aberto um debate na sociedade sobre formas de combate à violência e a conveniência de cidadãos se organizarem autonomamente para combatê-la.
Houve pessoas bem intencionadas que, se não chegaram a aplaudir, pelo menos demonstraram compreensão com o gesto dos tais "justiceiros”.
Essas pessoas merecem ser ouvidas e com elas é preciso estabelecer um diálogo, para mostrar-lhes que tentativas de fazer justiça pelas próprias mãos não acabam bem.
Vale lembrar que, quando surgiram as mal chamadas milícias no Rio, há quase uma década, antes que ficasse claro que elas eram uma nova versão das antigas máfias, desavisados chegaram a saudar a sua aparição, afirmando que seriam um mal menor e que serviriam para o combate aos traficantes de drogas. Até um ex-prefeito da capital, hoje vereador pelo DEM, chegou a escrever artigos louvando sua aparição.
Ora, é preciso ter claro que, numa sociedade civilizada, cabe ao estado o monopólio da força. E essa força tem que ser limitada pelo que determina a lei.
Se a polícia e a Justiça mostram-se ineficientes no cumprimento de suas funções, devem ser pressionadas pelos canais democráticos para que exerçam seu papel.
Fora disso é o retorno a práticas do Velho Oeste.
Em outras palavras, é um retorno à barbárie.
*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB
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