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Discursos demagógicos
Dois episódios ligados ao futebol
trouxeram à tona nos últimos dias a questão do patriotismo. Primeiro, as
críticas do ex-jogador Ronaldo, hoje vinculado à Confederação Brasileira da
Futebol (CBF), a seu colega Romário, depois que este apontou irregularidades em
obras para a Copa do Mundo. Depois, a ameaça do presidente da CBF, José Maria
Marin — o que fazia discursos pedindo providências contra Vladimir Herzog — de
cassar a nacionalidade do jogador Diego Costa, que preferiu disputar a Copa
pela Espanha, abrindo mão da participação na seleção brasileira, seu país de
origem.
Os episódios mostraram quanta
bobagem se diz usando em vão o nome da pátria.
No primeiro caso, Ronaldo
considerou as críticas de Romário nocivas à imagem do país. Raciocínio
semelhante, aliás, faziam os militares durante a ditadura, apontando como maus
brasileiros aqueles que denunciavam no exterior torturas e assassinatos de
presos políticos. Ora, questionamentos em relação à lisura das obras
relacionadas à Copa não vêm de hoje.
Ademais, Romário exerce um mandato
de deputado federal. Como tal, tem por obrigação se manifestar sobre assuntos
como os gastos faraônicos para a Copa. Romário já tinha tentado criar uma CPI
para apurar denúncias de irregularidades. Ela foi abortada por gestões da CBF,
que controla, por meio de expedientes vários, a chamada "bancada da bola” na
Câmara dos Deputados.
O segundo episódio envolveu a
decisão do jogador Diego Costa, do Atlético de Madri. Tendo saído do Brasil
muito jovem, Diego construiu sua carreira profissional na Espanha, onde joga há
sete anos. Como disse Tostão, em sua coluna no jornal "Folha de São Paulo”,
tratá-lo como traidor é agir como na época da ditadura.
Tostão
vai adiante e aponta as baterias também contra os cartolas demagogos e afins:
"A CBF quer se aproveitar do fato para exacerbar os sentimentos nacionalistas e
ufanistas, que crescem na Copa. Quando o Brasil fizer um gol, até os corruptos
que roubam o dinheiro público se sentirão patriotas. Vão chorar, copiosamente,
enrolados à bandeira brasileira”.
Como não dar razão a Tostão?
*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da
Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB
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