A importância da reconciliação

sábado, 05 de outubro de 2013

Semana passada estive no local em que, nos anos 70, funcionou o DOI-Codi, o principal centro de torturas de presos políticos do Rio, integrando uma comitiva de representantes de comissões da verdade, parlamentares e Ministério Público. A iniciativa foi o primeiro passo de uma campanha para transformar o local num centro de memória. Fomos bem recebidos pelos militares.

Cicatrizes dos tempos de ditadura existem e é necessário que esse período seja passado a limpo. Mas isso tem que ser feito com maturidade. As Forças Armadas de hoje nada têm a ver com os crimes daquele período. Seus integrantes não podem ser confundidos com os que torturaram e assassinaram presos políticos.

Elas são instituições permanentes, fundamentais para uma nação soberana. Quem mira o futuro sabe que não interessa à sociedade vê-las enxovalhadas. Ao contrário, é bom que sejam respeitadas e valorizadas, integradas à construção de um futuro democrático para o País.

Por isso, não pode ser aceita qualquer tentativa de estigmatizar as Forças Armadas. Por seu lado, elas precisam também rever comportamentos. Não é admissível que continuem mantendo versões insustentáveis sobre certos acontecimentos do passado. Wladimir Herzog não se suicidou, pendurando-se pelo pescoço numa grade da cela, estando ajoelhado no chão. E o episódio do Riocentro não foi obra da esquerda.

Não é, também, aceitável que questões relacionadas com as Forças Armadas — como, por exemplo, a formação dos futuros oficiais — sejam assunto exclusivo de militares. Num país democrático, a questão militar é de toda a sociedade, e não apenas dos militares.

A construção de um futuro democrático implica o desarmamento de espíritos e a compreensão de que ambos os lados terão que superar rancores passados.


*Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão de Direitos Humanos da OAB federal


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