Apreço à democracia

sábado, 01 de junho de 2013

Quando o Poder Público dá o nome de um personagem de nossa história a uma escola, rua ou praça, está prestando-lhe uma homenagem e enviando à população a mensagem de que aquele indivíduo contribuiu, de alguma forma, para o desenvolvimento ou bem-estar da coletividade em certa época, e por isso merece reconhecimento.

Não havendo dúvidas a esse respeito, é incompreensível que uma rua em São Paulo ostente o nome de Sérgio Fleury, um delegado torturador, responsável direta e indiretamente por assassinatos e atrocidades cometidos contra opositores políticos da ditadura militar brasileira.

Da mesma forma, é absurdo que uma escola do Rio, local de formação de crianças felizmente nascidas já sob a égide do Estado democrático de direito, seja batizada com o nome de Garrastazu Médici, o general que presidiu o país na fase mais dura dos anos de chumbo. Ou a ponte Rio-Niterói seja, oficialmente, chamada de Presidente Costa e Silva.

Não se está negando a importância histórica de tais personagens, ainda que relacionada ao retrocesso institucional e ao vilipêndio dos direitos humanos. Devemos, claro, lembrar de quem foram e o que fizeram. Mas homenageá-los em espaços públicos ou perpetuar a mensagem equivocada de que foram heróis é coisa muito distinta, um desserviço.

Como nação democrática, ainda com feridas abertas pelo tardio resgate da memória e da verdade escamoteadas durante décadas, devemos incentivar o apreço pela democracia e o respeito aos direitos humanos. Principalmente ensinando estes valores aos jovens, para que o autoritarismo e o arbítrio fiquem no passado, definitivamente.


Wadih Damous, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e conselheiro federal pelo Rio de Janeiro

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