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A salubre Nova Friburgo: novo mercado para os suíços
quinta-feira, 01 de novembro de 2012
Em 1851, o distrito da colônia de Nova Friburgo possuía 1.496 colonos, sendo 857 de origem suíça e 639 de alemães. A religião era o que diferençava esses colonos. A grande maioria dos suíços era composta quase que exclusivamente de católicos, exigência entre as condições do contrato. Já os alemães eram em sua grande maioria protestantes. Os colonos não tiveram barreiras físicas nem morais que os circunscrevessem dentro do distrito colonial, e antes, todos os estímulos de facilidade para tresmalhar-se. Transpuseram os limites coloniais migrando para outras regiões da província fluminense. Os que emigraram venderam ou arrendaram as benfeitorias que tinham feito aos colonos que permaneceram, usufruindo esses igualmente das datas de terras abandonadas, já que não poderiam ser vendidas por força do contrato.
Duas pessoas concorrem para melhorar a sorte dos colonos: o coronel João Vieira de Carvalho (marquês de Lajes) e o capitão-mor de Cantagalo, Manoel Vieira de Souza. O primeiro, diretor da colônia, constatando serem fundadas as queixas dos colonos relativas à má escolha das terras distribuídas, obteve autorização do príncipe regente para conceder melhores terras aos colonos que tinham sido mal aquinhoados. Foi-lhes concedido novas datas de terras nas cabeceiras do rio Macaé. Vieira de Souza, encarregado de distribuir terras aos alemães, fora pressionado por Monsenhor Miranda para estabelecê-los nas datas de terras abandonadas pelos suíços. No entanto, conhecendo a má qualidade destas terras e igualmente minguados os quinhões concedidos a cada família para os misteres da agricultura, estabeleceu-os próximos a serra do Macaé, onde a terra era mais fértil e produtiva. De posse de maiores extensões de terras, os colonos ampliaram suas plantações e criação de animais de pasto. Como o café não medrasse no clima frio de Nova Friburgo, os colonos abandonaram essa plantação e se dedicaram a cultura do milho, batata, feijão, arroz e da mamona. Além do milho, o mais importante artigo da produção colonial, plantava-se batata e produzia-se toucinho. Generalizou-se a criação de vacas, porcos, carneiros, galinhas, patos e perus por toda a colônia.
A melhoria das condições materiais do termo de Nova Friburgo deve igualmente a prosperidade da produção de café em Cantagalo. Numerosas tropas carregadas de café saíam de Cantagalo rumo ao embarque em Porto das Caixas. Diariamente transitavam tropas pela vila fomentando a economia local. Os tropeiros adquiriam o excedente do milho produzido na colônia e no regresso de Porto das Caixas a Cantagalo traziam mercadorias por módicos fretes, ao alcance das forças de consumo dos habitantes do lugar.
Depois de finda a administração colonial, passaram para o domínio da Câmara Municipal os bens que lhe pertenciam, como as casas que haviam servido de alojamento para os colonos. Em 1836, as casas dos colonos foram vendidas em hasta pública e particulares que as adquiriram as melhoraram ou reedificaram, aproveitando os terrenos em que se achavam vantajosamente colocadas. De miseráveis instalações foram convertidas em prédios cômodos e mais confortáveis. Muitas dessas habitações abrigavam pessoas doentes que procuravam a salubridade do clima de Nova Friburgo para cura de doenças (tuberculose) ou hóspedes que fugiam da canícula da Corte, procurando a vila de Nova Friburgo para respirar o ar puro e temperado das montanhas. A beleza da vila de Nova Friburgo e sua merecida reputação de salubridade, atraindo todos os anos um crescente número hóspedes, movimentou a economia local. Os colonos forneciam a vila leite, manteiga fresca, ovos, galinhas, patos, perus, batatas, frutas e hortaliças. A alimentação cotidiana dos colonos consistia em carne de porco, feijão, batatas, pão de milho, leite, ovos, hortaliças e café. Plantavam árvores frutíferas junto às casas e cultivavam um jardinzinho.
Aos domingos havia feira na vila. Os colonos para lá se dirigiam, vendiam os seus produtos, adquiriam objetos de que careciam, assistiam a missa e retornavam ao distrito colonial. Colonas alemãs, conservando hábitos tradicionais de seu país, trabalhavam tanto ou mais que os homens. Deslocavam-se de suas remotas habitações até a vila, sozinhas, para vender suas mercadorias. Os colonos comercializavam seus produtos como o milho, a batata e o toucinho em Santa Anna e Porto das Caixas. Os que se estabeleceram nas vertentes do rio Macaé, como as famílias Jaccoud, Poubel, Boechat, Magnin, Bersot, Miserez, Wermellinger, Tardin e Marchon, cultivavam café e viviam na posse de boa fortuna. Eram, outrossim, remediados, os que plantavam milho, batata, fabricavam toucinho e exerciam atividade comerciais a exemplo dos Curty, Monnerat, Sanglard, Frossard, Clerc, Grandjean, Balmat, etc. No entanto, os colonos que se estabeleceram em Cantagalo granjearam fortuna muito maior, como os Ludolf, Egdorn, Lemgruber, Luterbach, Monnerat e Ubelhard. Os pouco remediados viviam em boa situação financeira. Apenas viviam na miséria os colonos muito idosos e sem filhos para lhes prover; os que se entregaram as bebidas espirituosas; contrariedades da vida ou revezes da fortuna, mas não passavam de uma dúzia. Fora esses casos, não havia no distrito da colônia indivíduo que mendigasse ou carecesse dos socorros da caridade. A embriaguez fora um vício generalizado entre os primeiros colonos, desaparecendo apenas com a segunda geração, os nascidos no Brasil. Nas relações com as autoridades, a população local, e, entre eles, os colonos, eram obedientes, respeitadores e viviam pacificamente. Mas houve momentos de tensão entre a população luso-brasileira e os colonos interrompendo a traquilidade de Nova Friburgo. A exclusão dos alemães nas eleições para a Câmara Municipal de 1844 e 1847, excitou ódio e inimizade entre a população local e os colonos, mas tal animosidade foi superada ulteriormente vivendo em harmonia e fraternidade. Foram muito frequentes os casamentos entre nacionais e colonos, sendo o maior número de casos de moços brasileiros com raparigas da colônia. Os colonos trajavam-se decentemente e no interior de suas casas havia o asseio e limpeza que não possuía um fazendeiro abastado nacional.
Na próxima semana a matéria “A escravidão e a degradação do trabalho”.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora do livro “História e Memória de Nova Friburgo”. historianovafriburgo@gmail.com
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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