A história dos cinemas em Nova Friburgo - 11 de agosto 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O século XIX foi um período profícuo para os avanços tecnológicos. Cada vez mais surgiam invenções que impactavam a sociedade oitocentista: Surgiram a fotografia (1839), o fonógrafo (1877) e o aparelho cinematográfico (1895). Nova Friburgo conheceu no fin de siècle 19, o animatógrafo: o cinema de hoje. Segundo a notícia intitulada “O Animatographo”, publicada em A Sentinella de 10 de abril de 1898, o aparelho de projeção consistia em uma bem combinada união da fotografia instantânea, dos efeitos de luz e da passagem dos quadros, que se sucedia com a mesma rapidez dos movimentos naturais, de modo a reproduzir cenas animadas com uma velocidade surpreendente. Inicialmente o aparelho de projeção foi instalado no Cassino Friburguense, pela primeira vez visto na cidade, constituindo “uma novidade do mais vivo atrativo e uma das maravilhas destes tempos de progresso”, dizia um jornal da época. Posteriormente, passou a haver sessões todas as noites, das 18 às 21 horas, no Animatógrafo Joly, localizado na Rua Gal. Argolo, atual Alberto Braune. Entre os filmes vistos pelos friburguenses no século XIX destacavam-se: A Tentação de Santo Antônio, Os Negros de Dackar ao Redor do Vapor, A Briga do Baleeiro com o Passageiro, A Entrada do Czar da Rússia em Paris.

Já no século XX, o português Francisco Leal, da empresa Leal & Cia, inaugura um cinema no final da Praça XV de Novembro, atual Getúlio Vargas, onde hoje se encontra impropriamente a rodoviária urbana. Essa sala de projeção foi inaugurada em 1912 com o nome de Cinema Leal. Como quase todo lusitano influenciado pelos mouros, o Cinema Leal era um prédio de madeira em estilo mourisco. Esse cinema foi posteriormente transferido para o Teatro D. Eugênia, passando a denominar-se Cine Teatro Leal. Muitos cinemas surgiram nessa mesma década: Cinema São João, Cinema Éden, Ideal Cinema, Cine Nacional, Cinema Odeon — sendo que esse último, de propriedade de José El-Jaick e outro sócio, que funcionava na esquina da Rua Farinha Filho, sofreu um incêndio em março de 1915, destruindo todas as suas instalações. No local, inaugurou-se o Cine São José, em 1917.

Já na década de trinta, surgem o Cinema Popular (1929) e o Cinema Império (1931). O Teatro Dona Eugênia, a partir de 1930, passou a chamar-se Cine-Teatro Leal. O D. Eugênia passa a ter essa denominação de “cine-teatro” porque, no decorrer da década de 1920, o “teatro de revista” começou a ser adaptado para divertir as plateias dos cinemas nos intervalos da projeção dos filmes. É sempre bom esclarecer que outrora a projeção era interrompida para se trocar o “rolo” do filme. Foi a era dos cines-teatro e a simbiose entre o cinema e o teatro aumentava ainda mais a plateia. O Cine-Teatro Leal tinha sessões todos os dias, sempre às 19 horas. Nas quartas-feiras, tinha a sessão chic, que ganhou essa denominação porque se cobrava somente meia entrada do “belo sexo” e consequentemente iam muitas mulheres. No domingo, tinha sessões às 13h, farwest, uma espécie de matinée, para o público infantil. A seguir sessões às 15h30 e às 19 horas.

No final da década de 1920, o Cinema Glória, localizado na Praça Dermeval Barbosa Moreira, sofreu igualmente um incêndio. Entretanto, em 24 de julho de 1940, surge no local do outrora Cinema Glória, o Cine Eldorado, e a primeira película exibida foi a Opereta Balalaika. O Cine Eldorado se transforma no meeting da alta sociedade friburguense e a sessão chic passa a ser a das 20:00 horas devido a frequência da high society. De acordo com Leyla Lopes de Mello na crônica “Uma data, muitas recordações”, as mulheres trajavam elegantes tailleurs, vestidos de veludo realçados por colares de pérola e casacos de pele devido ao rígido inverno de Nova Friburgo. Já os homens trajavam impecáveis ternos de casimira inglesa, colete, gravata e chapéus das marcas Mangueira, Prado e Tamenzoni. A propósito, era proibida a entrada de homens sem paletó nos cinemas. Enquanto aguardavam a exibição do filme ouvia-se Glen Miller e outros clássicos. Já as sessões de 15:30, das tardes de domingo, era o rendez-vous da juventude friburguense. Quem não chegasse com uma hora de antecedência, não encontrava mais lugar. Dentro do cinema, os rapazes faziam footing, ou seja, caminhavam pelas aleias em torno das fileiras de poltronas, provocando frisson e o pulsar descompassado no coração das mocinhas. Muito mais importante do que a fita que se exibia, era a oportunidade de um namoro furtivo quando se apagavam as luzes. De acordo com Leyla, “quantos encontros e desencontros, quantos inícios e fins de romances, quantas alegrias e quantas mágoas, ao ver a pessoa amada ao lado da outra”.

Na década de 50, surge o Cine Marabá (1950) na Rua Leuenroth, edificado onde era o afamado Hotel Leuenroth, que hospedava o Imperador D. Pedro II. Já nessa década, os cinemas se expandem para os bairros da cidade: surgem em Olaria o Cine São Clemente (1950), no Cônego o Cine Sant’Anna (1955), em Amparo o Cine Theatro Almeida. Finalmente, na década de sessenta, surgem o Cine São José (1963) e o Cine São Luiz (1967), sendo o Cine São José o último cinema do município, fechando suas portas no ano de 1994.

Nova Friburgo ficou sem a sétima arte durante muitos anos até que surgisse um shopping na cidade com salas de cinema. Nesse ínterim, o Country Clube chegou a oferecer exibições de filmes em seu teatro, mas não chegou a atingir o grande público, até porque as pessoas achavam que somente os sócios poderiam frequentar esse espaço. Mas a crise dos cinemas foi estrutural. No Brasil inteiro, fecharam-se os tradicionais cinemas e muitos se transformaram em igrejas evangélicas. Esse fato indignou a população de tal maneira, que surgiu uma lei proibindo que esses estabelecimentos se prestassem a tal finalidade. Mas o cinema nunca deixou de ser um importante espaço de sociabilidade, mudando-se apenas o seu formato. Atualmente são pequenas salas de cinema e os recursos audiovisuais, com alta tecnologia, fazem com que continuem a ser um local de atração para as novas e antigas gerações. Concluindo, pode-se atribuir o auge do cinema em Nova Friburgo, na década de 40 do século 20, com o Cine Eldorado, que funcionou durante 36 anos, fechando suas portas em 31 de maio de 1976. Foi uma época em que assistir a um filme no cinema era, simplesmente, algo secundário. O cinema era um local para ver e ser visto.

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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