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O regimento de estrangeiros: A Imigração Alemã - 21 e 22 de abril 2011
Parte 7
Provavelmente, se D. Pedro I não tivesse se preocupado em organizar as Forças Armadas Imperiais, a independência do Brasil não teria se consolidado e as províncias do nordeste teriam se tornado independentes do país. Para tanto, teve que recorrer a mercenários, pois as tropas nacionais tinham em sua base “vagabundos”, delinquentes e mondrongos, recrutados através da violência. Quanto aos oficiais, todos portugueses, não desfrutavam da confiança do Imperador. O Regimento de Estrangeiros foi criado pelo decreto de 8 de janeiro de 1823, mas ficou popularmente conhecido como Batalhão de Estrangeiros. Era constituído, em sua grande maioria, por mercenários alemães. Porém, mercenários irlandeses também integraram o Regimento de Estrangeiros, assim como suíços de Nova Friburgo. Mas foi com a chegada dos mercenários alemães em 1824, enviados por Schäffer, que o Regimento de Estrangeiros ganhou visibilidade e representatividade, já que os soldados alemães em tudo eram superiores aos estrangeiros anteriormente incorporados ao Exército. Podemos afirmar que os ingleses compuseram a Marinha e os alemães o Exército brasileiro. O Regimento de Estrangeiros teve como primeiro Comandante o francês Tenente-Coronel João Augusto Bellard. Segundo cronistas da época, era mais negociante do que militar, envolvendo-se em negócios de terras em Nova Friburgo. Foi afastado do serviço ativo em 1825.
O Regimento de Estrangeiros ganhou uma proporção tamanha que assustou as autoridades brasileiras. O Ministro da Guerra alertou o Imperador quanto ao perigo representado por uma grande unidade de mercenários no coração do Império. A solução seria dividi-lo em batalhões. Logo, o Regimento de Estrangeiros foi dividido da seguinte forma: dois Batalhões Estrangeiros de Granadeiros e dois Batalhões Estrangeiros de Caçadores. No Batalhão de Granadeiros, devido ao peso dos artefatos, eram escolhidos para compô-lo homens morrudos. Com o tempo, esses soldados granadeiros foram agrupados em tropas autônomas, uma tropa de elite, destinadas às missões de choque. O 2° Batalhão de Granadeiros foi escolhido para fazer a guarda do Palácio de São Cristóvão e proteção especial do Imperador e de sua família. Para esse batalhão eram destinados os alemães mais altos, fortes e de melhor aparência. Com os mercenários alemães vindos nos navios Argus, Caroline, Anna Louise e Germânia, organizou-se as primeiras unidades mercenárias alemãs do Exército Imperial. A média de idade desses soldados era de 26 anos. Foram os mercenários alemães que lutaram na Guerra Cisplatina, juntamente com as tropas nacionais, numa interessante passagem de nossa história.
Desde a chegada dos primeiros navios até 1829, foram destinados 3.000 alemães às colônias, 4.000 ao serviço militar e 1.000 cujo destino não há especificação. Sabe-se pelos quadros efetivos das unidades mercenárias alemãs, que apenas 3.000 soldados foram de fato incorporados ao Exército Imperial. Muitos subornaram as autoridades brasileiras e passaram à condição de colonos. No total de homens alemães adultos que imigraram para o Brasil, a proporção foi de, para cada 3 soldados, 1 colono homem adulto. Essa proporção não agradou em nada as autoridades brasileiras que queriam bem mais soldados do que colonos, pois se desejava braços para o Exército e não agricultores para o campo. Somente os soldados tinham suas passagens custeadas pelo governo brasileiro. A princípio, aquele que custeara sua passagem ficava na condição de colono, mas há quem afirme que houve pressão sobre os colonos para que assentassem praça no Exército. Trazendo essa questão para Nova Friburgo, há o registro de que Peter Grieb (Gripp), 26 anos, assentou praça no Regimento de Estrangeiros. Irmão mais jovem do moleiro Balthasar Grieb, não seguiu com o irmão para Nova Friburgo. Teria sido forçado a assentar praça? Possivelmente sim, devido à sua idade e porte físico.
O caso de Peter Grieb é objeto de controvérsia entre os autores Soares de Souza e Saldanha Lemos, que divergem quanto ao livre arbítrio que tiveram os colonos quando chegaram ao Rio de Janeiro. Para o primeiro, os colonos possuíam livre vontade sobre o seu destino, desde que tivessem pagado as suas passagens. Porém, Saldanha Lemos demonstra em “Os Mercenários do Imperador” que, mesmo vindo na condição colonos, alguns foram obrigados a servir nas Forças Armadas. Conhecendo a história do recrutamento no Brasil, a “pau e a corda”, ficamos com Saldanha Lemos, pois o governo brasileiro desejava homens não para segurar uma enxada, mas uma espingarda de pederneira. Até meninos eram aproveitados nas bandas de tambores, pífaros, caixas de guerra e cornetas.
O 26° Batalhão de Caçadores, devido às desordens que provocavam no Rio de Janeiro, ganhou dos cariocas a alcunha de Batalhão do Diabo, pois nas horas de folga tais soldados viviam bêbados, provocando arruaças e sempre envolvidos em pancadarias com a população. Era o terror dos negros e dos donos de bodegas. Porém, o Batalhão do Diabo gozava de uma especial simpatia do Imperador D. Pedro I devido às suas bem-alinhadas evoluções militares e sua lealdade. O Imperador se divertia com as estripulias desse batalhão. Era exatamente esse tipo de homem que ele precisava. Para exterminar um foco remanescente do movimento insurrecional e separatista, conhecida por Confederação do Equador, iniciada no Recife em 1824 e que se espalhara pelas províncias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, o Imperador pensou logo no Batalhão do Diabo. Missão dada, missão cumprida. O Batalhão do Diabo, fazendo justiça a sua alcunha, foi para Pernambuco e acabou com a rebelião, trucidando os rebeldes. Na próxima semana “Os Colonos Alemães por Schlichthorst”.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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