Ouro de Minas
Texto e fotos: Arnaldo Luis Miranda
Aproveitamos os feriados de final de ano, dona Márcia e eu, para conhecer Tiradentes e um pouco das cidades históricas do seu entorno. Fomos de carro para maior mobilidade nos deslocamentos. Dirigi algo em torno de 720 km nessa brincadeira. Estradas boas, algumas novas espetaculares ("um tapete”, como disse o Zé Augusto do Charm Country, um big empório à beira-estrada em São Brás do Suaçuí) e outras de terra ou cascalho, conforme adentrávamos as rotas rodies da Estrada Real, um super-circuito turístico-cultural que se estende de Paraty a Ouro Preto e revela ao visitante um fabuloso tesouro histórico e ambiental que está a céu aberto por trás das misteriosas montanhas das Minas Gerais, um lugar onde se respira a formação do Brasil e sua identidade em muitas dimensões.
Com sete mil habitantes, uma infinidade de pousadas, restaurantes e antiquários, Tiradentes é uma pequena joia arquitetônica e gastronômica do circuito mineiro que vale muito a pena conhecer. E desfrutar. Cozinha para todos os gostos, preços para lá de razoáveis, uma população naturalmente acolhedora e educada como é o mineiro em geral de todas as classes sociais, Tiradentes transformou-se em um polo regional da produção artesanal. Para lá afluem as criações em tecido, madeira, estanho, vidro, etc, das cidades vizinhas, expostas em antiquários sofisticados e outros mais simples que reúnem também trabalhos artísticos de muito bom nível, quando não excelentes mesmo.
Uma ida ao Bichinho, distrito da vizinha Prados, é obrigatória (são 4 km apenas) e todos em Tiradentes fazem questão de indicar. Não deixe de ir no Bichinho. Bichinho foi praticamente "inventado” pelo Toti, um artesão que passou a sua técnica à população local, há mais de vinte anos, e construiu assim um espaço de arte e artesania que hoje explodiu em ateliês diversos de artistas e artesãos vindos de todo canto do país. E que igualmente escoam sua produção para todo o Brasil e exterior.
Para os visitantes mais bucólicos, um passeio na Maria Fumaça da Estrada Oeste de Minas, em funcionamento ininterrupto desde 1881, leva à vizinha São João del-Rei, a meros 12 km dali. O interessante, neste caso, é acertar-se com um guia (de preferência o Carlos, que é um mestre) para retornar de van e fazer uma visita guiada a alguns dos principais pontos dessa importante cidade do circuito histórico de Minas. Tancredo Neves está enterrado lá.
Sem o nosso guia, o Carlos, eu não saberia a diferença entre serafins, querubins e arcanjos, e muito menos identificar um crucifixo dos séculos XVII, XVIII e XIX. Com ele, ficamos a par de que o lustre de cristal bacará verde e vermelho (cores da Coroa Portuguesa) do altar da igreja de São Francisco de Assis é um dos dois únicos exemplares no mundo (o outro está na sala 7 do Louvre). São pequenas curiosidades que dão sabor à visita, sem dúvida.
Há muito mais a dizer, o rocambole centenário de Lagoa Dourada (enrola e recheia na hora!), as obras do Aleijadinho (nosso Michelangelo) em Congonhas do Campo (com os Profetas a implorar restauro urgente!), a cachaça (deliciosa!) do alambique Boa Vista, dos descendentes do Alferes (produzida ininterruptamente desde 1755), mas não cabe nesse espaço. Fica, portanto, a dica. Conheça Tiradentes e seus arredores, perca-se por Minas, erre por suas montanhas e campos rupestres. Renove-se com sua memória viva e sua história, que também é nossa.
É claro que friburguense que vai a Minas, ou à serra gaúcha, não tem como deixar de pensar no imenso potencial histórico-artístico-ambiental da Região Serrana fluminense e suas belezas e história igualmente estupendas. Porém, não magnificamente tratadas. Como lá.
Maria Fumaça
São Brás do Suaçuí
São João del-Rey
Congonhas do Campo
Tiradentes
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