Selma Ferro*
Professor: uma profissão que precisa de se dizer e de se contar, conforme nos diz o professor e pesquisador português António Nóvoa, para compreendê-la em toda sua complexidade humana e científica. Ser professor obriga a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de ser com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser.
Em meu trabalho em educação, na rede pública na Educação Básica ou na rede particular no Ensino Superior, muito aprendi com profissionais que fizeram/fazem de seus espaços/tempos cotidianos um tecer de fazeres e saberes que deram/dão vida e coloridos especiais aos locais pelos quais transitaram/transitam, tornando-os ricos, através de um permanente reinventar da prática diária, de reflexões, questionamentos e propostas de soluções.
Nesses anos de travessia nessa profissão, tenho muito do que me alegrar e não me lembro do que me arrepender. As lembranças dos cotidianos vividos e dos desafios quase nunca recusados ativam minhas emoções e renovam a minha paixão por esse campo de luta — a educação — cuja escolha feita em tempos de ingênua juventude tem sido permanentemente confirmada ao longo do caminho trilhado.
Enfrentando desafios, concretizamos sonhos e renovamos as esperanças de muitos de nossos alunos e de suas famílias. Os encontros com ex-alunos são momentos de alegria e emoção ao percebermos em seus sorrisos e olhares um misto de satisfação e saudade ao relembrarem os tempos escolares. Como professora da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia (FFSD) por longos anos, tenho vivido momentos comoventes ao reencontrar ex-alunos e identificar seus filhos como atuais alunos.
Ao longo de minha trajetória, fiz o possível para aproveitar as oportunidades de crescimento pessoal e profissional que me foram apresentadas. O estudo acadêmico e a participação em inúmeros eventos educacionais foram constantes em minha vida.
Embora considere o trabalho em educação, em minha experiência, como positivo e recompensador, não posso deixar de apontar as condições, às vezes precárias, existentes em muitas escolas — quanto às instalações ou quanto ao apoio pedagógico — e na pouca valorização financeira do trabalho do professor pelas políticas públicas até então praticadas no Brasil. O crescimento da violência no ambiente escolar é outro fator que, atualmente, desestimula o professor.
O profissional da educação deve ter presente que a atualização e o aperfeiçoamento profissional não podem ser negligenciados. A leitura da realidade escolar, à luz dos avanços da ciência e da tecnologia, coloca-o frente ao desafio de entender uma clientela cada vez mais antenada com as conquistas midiáticas.
O enfrentamento de novos desafios e as permanentes indagações do cotidiano escolar instigam a renovação da prática docente e provocam o surgimento de soluções para atender aos interesses e necessidades dos alunos atuais, ratificando a dinâmica, o comprometimento social e a beleza da profissão.
Selma Ferro dos Santos* - Mestra em Educação, professora da FFSD e professora aposentada da rede de ensino estadual.
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