Ana Borges
Colecionar videogames é o hobby do nosso colega jornalista Marcio Madeira, nascido em 1978, quando o Atari inundava os lares americanos, um sucesso absoluto nos EUA. Não demorou muito e chegou ao Brasil. Ele faz parte da primeira geração que cresceu junto com a evolução dos games. A infância de Marcio foi marcada por autoramas, trenzinhos elétricos e videogames. Hoje, aos 36 anos, casado, morando em sua própria casa, ele fez questão de criar um ambiente agradável e atraente o bastante para nem ter vontade de sair. Curtir a vida junto com a mulher Heidy, em casa, é o seu programa favorito, onde fez questão de criar um cantinho para instalar o seu mundo particular de menino que guardou todos os games que marcaram a sua infância. Agora, eles estão disponíveis para os amigos também que costumam se reunir uma vez por semana em sua casa para se divertir, e, os mais jovens, conhecer como eram os jogos há 20 ou 30 anos. Essa particularidade na vida de Marcio é muito mais comum do que possamos imaginar. Cada vez mais pessoas se interessam por videogames. Confira.
Light – Como você faz para incrementar a sua coleção já que se trata de um produto em constante evolução?
Marcio Madeira - Existe um mercado grande de videogames novos, mas de antigos também. Não em lojas, mas em mercados paralelos, feiras de antiguidades, até em antiquários. Em sites, inclusive. Há também uma enorme procura por cartuchos antigos. Hoje é tudo em CD, mídias digitais, ou em memórias de HD. Mas, antigamente, tinha o formato de cartuchos que eram encaixados num aparelho. Hoje é possível conseguir esses jogos em computador, através dos emuladores, que são programas que emulam o hardware do videogame antigo. Há muitas maneiras de se chegar ao mundo antigo dos games.
Como é juntar peças antigas com as novidades que são diárias?
Apesar dos emuladores, muitas pessoas continuam interessadas em comprar consoles, ligar na televisão e jogar como antigamente, no original. Eu mesmo, depois de casado, comprei uma televisão ainda com tubo de imagem, nova, que seria praticamente inútil para as tecnologias atuais, mas serve à perfeição para os jogos de antigamente. Comprei os melhores cabos disponíveis daquela época, juntei os games antigos que tinha com outros que não cheguei a ter na infância, e agora tenho meios de comprar, e num cantinho da casa reservado pra minhas "brincadeiras”, pude recriar uma época que nunca esqueci. E curto muito até hoje e acredito vou continuar curtindo, principalmente quando vierem os filhos.
Quer dizer, esse mercado é bem valorizado...
Sem dúvida, é um mercado grande, com jogos raros, difíceis de encontrar. Eles estão disponíveis em feiras, quiosques, sites de internet. E o público não para de crescer. A meninada de hoje tem curiosidade em saber como foi o começo, conhecer os primeiros equipamentos. E querem acompanhar a evolução. Aqui mesmo no jornal, o Lucas [Vieira, repórter, 21 anos], é um dos que frequentam a minha casa para jogar e conhecer os games antigos, como os de 20 anos atrás. Ele se amarra em videogames, ficou alucinado quando viu a minha coleção. O Lucas joga desde os três anos e também guarda tudo. O meu irmão participa até hoje, brincamos com as mesmas coisas que jogávamos quando éramos crianças. Acredito que o interesse pelos games está em franca expansão.
Tem assim um jeito de terapia também, não acha?
Acho que sim. Tudo que remete a bons tempos, que desperta as melhores sensações, recordações boas, te relaxa e te deixa leve, descontraído, resulta numa terapia com resultados positivos. Pelo menos, é assim que vejo.
O que a Heidy pensa disso?
Eu brincava com ela sobre a ideia desse meu canto. Quando fomos montar nossa casa, pensamos num ambiente não apenas agradável, é claro, mas também divertido. Queríamos um casamento que resultasse numa união prazerosa, em todos os sentidos, no qual tivéssemos uma relação que respeitasse as expectativas de cada um, nossas particularidades. Uma casa com alto astral, que nos desse o prazer de chegar. Ela pensava do mesmo jeito e curtiu essa arrumação. Portanto, conseguimos o que queríamos: temos muita diversão proporcionada pela tecnologia. Mas, principalmente pelo nosso casamento, pelo amor. Foi por isso, essa base, que tudo o mais deu certo.
O Atari foi o começo pra você?
Foi com ele que eu comecei. O Atari dominou o mercado mundial completamente, até 1983. E conseguiu perder esse mercado por falta de planejamento. O interessante é que essa empresa era tão poderosa que ameaçou destruir qualquer possível concorrente. Eles produziram oito milhões de consoles, e um número muitas vezes maior de cartuchos, na onda do filme ET, do Spielberg. Foi uma quantidade tão absurda de cartuchos, pra época, que não houve demanda suficiente. Aí, pronto, quebrou. O mercado caiu em descrédito porque eles surfaram nessa onda de sucesso e perderam a noção. Até hoje surgem notícias de cartuchos do ET que foram encontrados em escavações.
E como conseguiram reverter esse descrédito?
Bem, o Brasil continuou comercializando o Atari depois de 83, até 85, 86. Depois vieram os aparelhos da Nintendo e da Sega. Eram as gigantes japonesas, com jogos mais refinados, controles de dois ou três botões, telas mais coloridas, e o mercado foi recuperando a confiança do consumidor. Minha infância foi com o Atari e a adolescência com o Mega Drive. Foram a segunda geração de consoles, em 2D, já com equipes trabalhando para programar de maneira mais complexa. Eu ainda tenho tudo isso em casa.
Quer dizer, a Nintendo recuperou o mercado.
Recuperou totalmente. A partir dos jogos que eles lançaram em 8 e depois 16 bits. A Sega veio logo em seguida e as duas dominaram entre meados dos anos 80 e a primeira metade da década de 90. E então vieram os jogos em CD, com uma quantidade incrivelmente maior de memória. Os jogos tornaram-se muito maiores, e também mais fáceis e amigáveis.
E a transição pra CD, você acompanhou?
Foi a época de ir para a faculdade e não pude acompanhar direito. Vi à distância a geração do Playstation, com 32 bits, com a entrada da Sony no mercado em 1995. Ela entrou no mercado dos videogames com muita força, mas não acompanhei com o mesmo empenho por causa da universidade. Era tanta novidade que eu comecei a me sentir velho (muitos risos). Achei que se tentasse me inteirar novamente não ia conseguir.
Como assim?
É que eu via as crianças dominando toda aquela alta tecnologia com tanta facilidade, que eu não me via ali no meio delas. Meu cérebro se adaptaria aos novos tempos? Tive minhas dúvidas. Eram jogos com 20 funções, a mente tinha que ser ágil, rápida no raciocínio, na tomada de decisões.
Pelo visto você superou o trauma (risos)...
Eu tenho jogos novos também, e consigo jogar sim (risos). Mas é tudo tão complexo e tão bem feito, que acabo gostando mais de ver alguém jogando, e prestar atenção na história, do que assumir o controle. Me sinto em casa mesmo é com os jogos de antigamente, 2D e 16 bits, que me acompanharam na infância e envelheceram junto comigo.
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