A importância de Nova Friburgo na vida pessoal e na obra de Machado de Assis

sexta-feira, 26 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
A importância de Nova Friburgo na vida pessoal e na obra de Machado de Assis
A importância de Nova Friburgo na vida pessoal e na obra de Machado de Assis

Por Daniel Piza


"Machado sentia dores. No final de 1878, sua vista piorou como nunca. A retinite, especialmente do olho direito, seria a causa de seu afastamento do trabalho em dezembro, quando, sob recomendação médica, decidiu se refugiar com Carolina em um hotel de Nova Friburgo, a 140km do Rio, região de clima alpino e águas revigorantes. Não se sabe se o hotel era o mesmo que ficaria em 1904, o Engert. Seu médico era dr. Hilário de Gouveia, cunhado de Joaquim Nabuco. Carolina também estava doente, não se sabe de quê. O casal tinha uma cadela, Graziela (nome de uma heroína do romântico Lamartine), e ela ficou na cidade aos cuidados de Clara, a empregada da casa.

A temporada na montanha foi de três meses, embora durante todo o ano de 1879, Machado tenha se poupado do muito trabalho. Não eram apenas os olhos, com certeza que o afligiam: continuava a ter problemas de ingestão ("Vou caminhando a passos largos para uma tísica mesentérica”, teria dito a Carlos Leopoldo de Almeida, segundo carta deste), insônia e ataques epiléticos; estava magro e atormentado. Mas, para todo o efeito, foi a retinite o motivo de seu retiro.” 

"Um mês depois, Machado teve que partir para Nova Friburgo. Numa carta de 1º de dezembro de 1897, a José Veríssimo, Machado relataria o episódio: "Estimei ler o que me diz dos bons efeitos de Nova Friburgo. A mim este lugar para onde fui cadavérico há uns dezessete anos [eram dezoito, na verdade], e de onde saí gordo, ce qu’on appelle gordo, hei de sempre lembrar com saudades”. 

O retiro em Friburgo, portanto, praticamente salvou a vida de Machado, que por essa época adotou a barba, não mais apenas o bigode. Ali chegou cadavérico. De lá saiu um escritor mais robusto do que antes.” 

"Habituado com remédios que prometiam curar tudo e não traziam mais que alívios, Machado deve ter meditado muito durante a temporada em Nova Friburgo (...)

A decadência de sua saúde e a decadência do Império acentuariam seu humor original e amargo. Da crise física e intelectual, da observação de que seu tempo ia se passando, Machado voltou transformado de Nova Friburgo em fins de março de 1879. Estava decidido a tomar outro rumo na ficção. (...)

Brás Cubas está, portanto, como Machado em Nova Friburgo: entre a vida e a morte, renascido em seu estado cadavérico. (...)”

(PIZA, Daniel. Machado de Assis: um gênio brasileiro. 2ª ed. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005,  p.p. 187-188, 190, 198 e 201)


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