Ágatha Abrahão de Oliveira*
"As crianças estão se tornando miniadultos”, dizem por aí. Escandalizamo-nos com comportamentos que chamamos popularmente de "adultizados”, crianças vestindo-se, falando e portando-se de maneira muito diferente da maneira de "nossa época”.
Mas, já perceberam que nós achamos uma gracinha crianças de 4 anos conseguindo "escrever” seus próprios nomes? Trazendo suas agendinhas com recados copiados por elas próprias? Já observaram, prezados leitores, que, se nossos filhos demoram a ser alfabetizados tachamos as escolas e os educadores de incompetentes?
Bem, vou discorrer neste espaço um pouco a respeito do famoso e polêmico "TDAH”, que divide opiniões no meio "psi”, é supercitado no meio educacional, lota os consultórios médicos e de psicólogos e, verdade seja dita, rende altas quantias à indústria farmacêutica. Longe de pretender desqualificar a atuação de neurologistas e psiquiatras e de querer provocar os leitores a descartarem o uso de medicações a partir de patologias diagnosticadas em crianças, é importante trazer alguns pontos para reflexão:
Retomando a ideia inicial, o que nós, como pais, educadores e cuidadores, esperamos das nossas crianças? Qual é o peso que nossos desejos, crenças e fantasias têm sobre a vida delas? O perigo da entrada do saber científico nas escolas, do acesso que uma parte da população tem a algumas pesquisas divulgadas na mídia, é que nós estamos "patologizando” a infância. Sim, nós "lemos ou assistimos em algum lugar que...” e isso basta para colocarmos lentes no comportamento dos pequeninos e eles não têm mais sossego: Não podem mais se distrair com suas brincadeiras (meus caros, brincar é coisa muito séria e estruturante), se não topam passar longos períodos sentados e dóceis às exigências do ambiente, ou se não raciocinam em ritmo igual, pronto: são "hiperativos”.
A entrada do saber médico/científico na escola, em vez de provocar um espaço de escuta e de compreensão dos fenômenos típicos da infância, em alguns casos, acaba por fazer com que os profissionais não mais sustentem suas funções, não se impliquem, "despedaçando” a criança e dizendo: "Com isso eu não consigo lidar, procurem um profissional”; não se revê o sistema educacional, as práticas utilizadas, não se considera aquela criança como um sujeito único, com uma história própria, dotado de desejos e fantasias; não se escuta os pais, os educadores em suas angústias e expectativas e principalmente: não se escuta a criança! E não pensem vocês que estou "vilanizando” os educadores. Não, mesmo! Eles são vítimas desse nosso sistema, da lógica do "bem viver”, onde as pessoas precisam "render” e "funcionar” a qualquer custo. Não vemos mais espaço para escuta; as crianças precisam se enquadrar em um sistema e precisam funcionar, mas será que quando se trata de seres humanos há UMA única forma de funcionar?
Transtornos existem, o saber médico é fundamental, medicações são (ou deveriam ser) os grandes parceiros dos profissionais de saúde e de seus usuários. Mas acho que vale a pena pensar e repensar o que esperamos, o que estamos impondo e exigindo de nossas crianças, antes de falarmos sobre o famigerado "Déficit de Atenção”.
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