Quem nunca chegou em casa, depois de ter caído na folia, com os pés pretos,descabelado(a) e maquiagem derretida, parecendo mais uma personagem saída do "Thriller” de Michael Jackson? Pois é, acredito que ninguém escape dessa verdadeira derrocada do visual depois de passar pelos blocos. O carnaval consegue fazer o engomadinho suar, desfazer a chapinha ou desmanchar a maquiagem sem nenhum sinal de crise. Tudo é muito natural e faz parte desse enredo: samba, suor e cerveja. Nos carnavais de Nova Friburgo essa mágica transformação também acontecia e ainda acontece, sobretudo quando o assunto é o ‘Bloco das Piranhas’.
Segundo Juan Fernandes, naquela época, ele e mais dois amigos, Babá e Roberto, saíam vestidos de mulher, com perucas ‘canecalon’ e muito bem maquiados. Éramos "piranhas chiques”, relembra rindo. Juan também recorda do ‘sangue do diabo’, feito por ele e Regininha, que deixava a roupa vermelha (mas que logo desaparecia), preparado secretamente para a brincadeira – e diz que não revela a fórmula de jeito nenhum. Logo no começo da década de 80, relata Juan, Cláudio Chaloub criou o bloco ‘Maluco Beleza’, formado por médicos e pacientes da Clínica Santa Lúcia, com a intenção de inseri-los no carnaval friburguense, e até hoje são eles que abrem o carnaval da cidade, sinalizando que a ideia deu muito certo, não é mesmo? O carnaval tem dessas coisas!
Os carnavais de Nova Friburgo também marcaram a vida da friburguense Ângela Schuabb, que revirou seu baú de lembranças e descreve o seguinte: "Carnaval, para mim e para minha família, sempre foi muito esperado. Família carnavalesca”, enfatiza. "Dos pequenos aos mais velhos, todos amavam e amam o carnaval até hoje. Na época, comprava-se sacos de confetes e serpentinas. A casa ficava enfeitada os quatro dias e o ano todo era possível encontrar confetes entre os tacos, além do cheiro de lança-perfume nas roupas. Lembro que, quando pequena, meus primos e eu íamos para esquina da rua Oliveira Botelho, para ver os blocos e os mascarados, com fronha cobrindo os rostos, para podermos espirrar nossas lanças com água! Por isso, carnaval para mim tem cheiro, cor e alegria”, constata. "Para ir às matinês no Clube Xadrez e aos bailes noturnos, na adolescência, íamos sempre com fantasias iguais, formando um grande grupo de meninas. Aí encontrávamos com outro grupo de rapazes, muito conhecidos na época, chamado "Os Mexicanos”. Mais tarde, esses mesmos grupos fundaram a "Banda do Galeria”. Que delícia!
Galeria União, rua Portugal, a praça... Era folia o dia todo! O carnaval era tranquilo e, no último dia da festa, as bandas dos clubes se encontravam na praça Getúlio Vargas, onde tocavam até amanhecer, fechando a folia com: "Ai ai ai ai tá chegando a hora...” e "Cidade maravilhosa cheia de encantos mil...”. Tempos bons e encantamento que não existem mais”, completa.
E por falar em ‘Mexicanos’ – grupo formado em 1969 por 30 membros frequentadores da Galeria União –, não se pode esquecer de citá-los, já que durante 11 anos eles fizeram parte do carnaval friburguense. Eles tinham apenas uma regra que era: ‘diversão sem confusão’. Segundo um dos idealizadores, Renato Cortes Teixeira, os integrantes se reuniam dois meses antes da folia para combinarem os detalhes de como seriam as mantas e os sombreiros, cuidadosamente bordados pelas respectivas namoradas. As fantasias eram diferentes a cada ano e, antes de irem para o Clube de Xadrez, eles passavam pela rua Portugal, avenida Alberto Braune e praça Getúlio Vargas, sem nenhuma banda tocando. "Apenas uma vez”, diz Renato, "o grupo saiu na escola de samba ‘Terreirão’, que depois se transformou na Imperatriz de Olaria”. Para ele, o carnaval se fazia quando se reuniam os blocos de rua que vinham de Duas Pedras, Olaria e Lagoinha para o batuque na praça. Ele lembra ainda da ‘Banda do Galeria’, da qual o grupo também participou, mas sem a fantasia de mexicano. Folião é folião,né não?
As memórias do carnaval de Mônica L. Jácome nos levam imediatamente à sua infância e, com requinte de detalhes, nos faz lembrar o quanto essas indumentárias eram preciosas e inesquecíveis. Ela conta: "As lembranças mais marcantes que tenho do carnaval em Nova Friburgo compreendem duas fases: a primeira, que chamo de ‘primário da minha formação carnavalesca’ e a segunda, a fase da minha ‘graduação’ na área (as pós, fiz todas em Pernambuco, ao longo dos quase 30 anos em que lá morei). Do primário, lembro das fantasias que minha mãe, Dona Mariazinha, carnavalesca fanática, mandava fazer para mim e meu irmão, Eduardo. Eram lindas, como se pode ver pela foto. Um ano foi essa de portugueses, noutro de alsacianos (na época eu nem conseguia falar essa palavra direito), em outro de holandeses. Todas muito elaboradas, porém desconfortáveis. Faziam um calor, mas um calor de enlouquecer! E em sua obsessão pela perfeição, da última vez nos fez calçar autênticos tamancos holandeses (aquele de biquinho pra cima, saca?) de madeira! Já tentou brincar o carnaval com um desses? Nem tente... Por fim, tínhamos lindos sacos de confete confeccionados com tule da Fábrica Filó (é isso mesmo) e aviamentos da Fábrica de Rendas Arp: bordados ingleses, sianinhas, fitas variadas que sobravam daqueles utilizados no bordado das ditas fantasias e ganhávamos lindos lança-perfumes dourados que, junto com as das outras crianças que iam às matinês do Country Club, eram responsáveis por aquele cheirinho maravilhoso no ar”.
E você, qual a sua lembrança de carnaval mais marcante?
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