Começaram as aulas. E com elas, aumenta o problema da alimentação dos filhos: como controlar o que eles comem fora de casa? As tentações são muitas: biscoitos recheados, balas, chocolates, salgadinhos fritos, refrigerantes, enfim, a quantidade de opções pobres, nutricionalmente falando, é muito grande.
Formada em Nutrição pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pós-graduada pela Gama Filho em Nutrição Desportiva, a friburguense Cynthia Lamblet conversou com o Light sobre esse problema que aflige os pais. E se não aflige, deveria, pois é de uma boa alimentação, inclusive na escola, que depende a saúde dos filhos. Cynthia lembra que atualmente os pais têm pouco tempo sobrando, já que a maioria tem seus afazeres fora de casa.
Mas é fundamental que se equilibre esse pouco tempo, com o gosto da criança e merendas saudáveis. "É uma questão de costume. Realmente é difícil convencer uma criança a levar uma fruta para a escola em vez de biscoito recheado. Principalmente se frutas não fazem parte do cardápio de maneira rotineira em casa. Se os pais comem mal, a criança também vai comer mal”, diz a nutricionista clínica e esportiva. "A criança precisa saber que tem hora para tudo. Por exemplo, pizza nas noites de sábado, pipoca no cinema aos domingos, doces nos almoços semanais na casa da vovó e vai por aí. Não dá para comer essas coisas todos os dias. Durante a semana, comida saudável. Isso tem que ser um hábito familiar.”
"A criança age por imitação. Se os pais comem, ela vai comer. O exemplo vem de casa”
Rótulos, lanches e lancheiras
Montar um cardápio gostoso e saudável para a merenda das crianças não é tarefa fácil, mas seguindo algumas dicas, é possível conciliar as duas coisas. A primeira dica de Cynthia é saber os componentes dos alimentos. "Os pais precisam se habituar a ler o rótulo dos alimentos, ver quanto tem de sódio/sal, açúcar e gordura de má qualidade, as trans ou hidrogenadas. Uma dica é que esses dados vêm sempre na quantidade maior para menor, ou seja, o primeiro item descrito no rótulo é o que tem mais na composição do produto”, explica ela.
Encontrar opções que substituam os alimentos de má qualidade é fundamental: "Os biscoitos recheados e bisnaguinhas de saquinho, por exemplo, têm muita gordura trans, então, o ideal é substituí-los. Pode-se fazer sanduíches com pão de forma comum ou integral. Mas vale lembrar que queijos e embutidos são perecíveis, e podem se deteriorar facilmente na lancheira. Ainda mais com este calor. Uma boa opção é usar geleia no pão, que não estraga e é muito gostosa. Mas o ideal é comprar lancheira térmica. A dica é congelar a água — filtrada — da garrafinha. Assim, a merenda ficará refrescada e a criança ainda poderá beber água geladinha na escola.” Consideradas saudáveis por muitos, as barras de cereais precisam ser "investigadas” antes de irem para as lancheiras. Uma boa parte tem muito xarope de glucose, o que não é bom. Dê preferência àquelas em que os primeiros itens do rótulo sejam ingredientes integrais, como aveias e grãos.
As cantinas
Muitos estudantes, principalmente os maiores, não querem levar lanche de casa, preferindo as cantinas dos colégios. E aí está um dos maiores problemas da alimentação escolar. Salgadinhos, produtos industrializados, chocolates, balas e, claro, refrigerantes, estão todos ali, tentando as crianças e adolescentes. A dica de Cynthia é convencer o filho a optar por salgadinhos de forno, como esfirras e pães de queijo. "Não sei como é em Friburgo, mas boa parte das cantinas são arrendadas. Mas mesmo assim, acho que tanto as escolas quanto os arrendadores, deveriam se preocupar com essa questão e oferecerem opções saudáveis, como frutas, saladas de frutas, sucos naturais, alimentos com menos corantes, açúcar e sódio etc”.
A bebida
A nutricionista alerta que levar sucos naturais para a escola é muito melhor do que os de caixinha. "Os sucos de caixinha costumam ter muito açúcar, sódio e corante. Os fabricantes costumam usar muito sódio nos alimentos, não só nos sucos, porque esse elemento é um conservante mais barato. Mas já tem alguns sucos que usam a vitamina C como conservante, o que é bem melhor. São um pouco mais caros, mas vale a pena optar por eles. Mais uma vez, é preciso ler o rótulo”, explica Cynthia.
Ela diz que é preciso evitar também os achocolatados em caixinha. "De preferência, faça em casa e coloque na garrafinha. Mas é preciso lembrar do bom acondicionamento, já que leite é perecível. Achocolatado em caixinha, só de vez em quando.” Uma ótima dica de Cynthia: água de coco como opção de bebida. Alguns sucos de uva integrais (leia o rótulo) também podem estar na lista. Refrigerante, nem pensar.
Bons hábitos, boa saúde
Cynthia ressalta que a boa alimentação, incluindo a merenda escolar, passa pelos bons hábitos alimentares de toda a família. "A criança age por imitação. Se os pais comem, ela vai comer. O exemplo vem de casa”.
Ela concorda que não é fácil fazer com que as crianças, principalmente as mais crescidas, deixem de ingerir alimentos de baixa qualidade nutricional. Mas ressalta que, quando a criança já está habituada a alimentos saudáveis desde bem pequena, ela terá mais facilidade para levar para a escola uma fruta, por exemplo.
Cynthia dá dicas também para que a criança se interesse por alimentos "do bem”: "Leve a criança à feira ou ao hortifruti para que ela escolha seus próprios legumes, frutas e verduras. Libere um dia da semana, quarta-feira, por exemplo, para ela escolher o que levar de merenda, mas nos outros dias, a regra são os alimentos saudáveis. Outra dica é oferecer um alimento que ela não queira comer preparado de várias formas. Uma cenoura, por exemplo, pode ser oferecida um dia na salada, no outro como suflê, no suco etc.”, aconselha a nutricionista.
"Outra coisa importante: coloque sempre uma fruta na lancheira. De preferência uma maçã ou pêra, que demoram mais a estragar. Uma hora a criança vai comê-la”, garante.
"E converse com a criança, mostre as vantagens de se comer bem. Mesmo aquelas que têm alguma intolerância a algum alimento, com a explicação dos pais, vão acabar se controlando. Conversa é fundamental. E tem outra coisa, muita gente, até adultos dizem que não gostam de determinados alimentos que, às vezes, nem provaram. Eu sempre cito a comida japonesa: na maioria das vezes as pessoas dizem que não gostam. Comem uma vez, a segunda e daqui a pouco se apaixonam”, afirma Cynthia.
Frutas: sempre uma boa opção em casa e na escola
Gostosa e saudável, a água de coco é um ótimo substituto do refrigerante
Lancheiras: as opções são muitas, mas o ideal é que sejam térmicas
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