Em Foco - Um parágrafo de felicidade

David Massena davidmassena52@gmail.com
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Minha vida está cheia de livros que ainda não foram lidos. O criado-mudo, quase uma prateleira, agora guarda uma pilha deles, ávidos para serem folheados ao menos. Mas prometo que arranjarei tempo, que os lerei sim, com sede e fome das palavras agrupadas que me seduzem e convidam a viajar.

Adoro livros. Necessito ler como um alimento. É vício dos bons. É néctar. É ar!

Os livros me são bens de consumo. Trato-os com esse olhar. Partilho, compartilho, passo para frente, sempre que percebo outros olhos gulosos sobre eles. 

Livros guardados, trancados em armários, esquecidos e empoeirados são denúncias do quão egoístas somos com aquilo que, certamente, poderia salvar, mudar, melhorar os que não têm acesso a esses bens.

Quando menino sonhava ter uma biblioteca. Nada mais. Estantes altas que tocassem o teto e largas, lotadas de livros de todas as cores, texturas e temas. Brochuras distintas. De todas as épocas. Clássicos, populares, técnicos e até desimportantes. Era um sonho de menino, compreendo hoje.

A riqueza do conhecimento me seduzia, como se os livros reunissem todos os de que necessitava para seguir em frente. Em alguns casos sim. Em outros, os livros são atalhos. São pontes que nos ligam a nós mesmos. E se nos entendemos, ao menos refletimos sobre nós, nos tornamos melhores e convivemos melhor.

Abrimos estradas. Novos caminhos que descobrimos e que nos levarão a outros tantos que nos proporcionarão felicidades. Às vezes felicidade que não dura mais do que um parágrafo. Uma frase. Uma lembrança, uma coincidência, identificação. Mergulho na nossa alma! Arrepio. Lágrimas que descem por um instante e desenham medalhas na folha de papel.

Fração de segundos e a vida segue em frente. A história continua, novo capítulo se abre.

Quando leio é como se falasse comigo mesmo. Como se descobrisse um mundo novo repleto de emoções e sensações desconhecidas. E me torno tão íntimo. Tão perto. Inserido num mundo que me vem pelos olhos. Muitas vezes acompanhado de tantos novos amigos no silêncio solitário da leitura.  

E o meu sonho de menino talvez fosse o de reunir esses muitos mundos e personagens sempre por perto. Confesso que o tempo realizou parte desse sonho. Mas não os guardo mais. Restam apenas os fundamentais para projetos que tenho em mente e que me serão úteis. Livros poucos que me são caros. 

E fico pensando nos personagens ricos em detalhes, nos frágeis, nos épicos, nos gloriosos, todos aprisionados em armários sem ventilação, solitários e carentes de olhos e mentes. Esquecidos nas estantes de egoístas como já fui. Empoeirados, comprimidos e apertados em prateleiras, quando poderiam estar circulando por aí. Promovendo uma riqueza inimaginável, construindo novos seres e melhorando esse mundo real a partir do imaginário. 

Dividir a leitura é fazer o bem. Possibilitar que outros acessem as mesmas oportunidades que temos é um gesto de justiça e igualdade. E o livro é um instrumento poderoso para tal.

E como diz a cronista Martha Medeiros: "A leitura faz eu mirar em mim e acertar no que eu nem sabia que também sentia e pensava. E, por outro lado, me ajuda a matar tudo o que pode haver em mim de limitante: preconceitos, ideias fixas, hipocrisias, solenidades, dores cultuadas. Lendo, eu caço a mim e atiro em mim”.

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