Não tem uma história dos bichinhos de estimação de Maria Sueli Ferreira da Silva que não seja emocionante. Cada uma delas leva muita gente – inclusive ela – às lágrimas, toda vez que é contada. Ela optou por sempre adotar os animais em piores condições: doentes, amputados, famintos. Desde a infância é assim, provavelmente por influência do pai, que vivia pegando os bichinhos nas ruas. Não raro ela aparecia no trabalho – A Voz da Serra – com um animalzinho abandonado. Não raro também se mobilizava para conseguir ajuda para os casos que envolviam sofrimento de um animal, qualquer que fosse.
Atualmente Sueli e o marido Paulo têm quatro gatos, um deles cego, quatro tartarugas, uma delas sem pata, e a cadela Mel.
A história de Pedro Augusto mostra bem como Sueli age. Ao passar pela antiga linha férrea, na Ponte da Saudade, indo para o trabalho, ela se deparou com uma caixa com quatro gatinhos dentro. A mãe tentava resgatá-los da lama que havia acumulado por causa de uma forte chuva. Sueli foi trabalhar, mas sempre pensando nos bichinhos. Voltou lá e acabou levando os cinco gatos para casa. Conseguiu doá-los, mas ficou com um, o que tinha perdido uma pata, o Pedro Augusto. Ela sabe até a data da adoção: 17 de março de 2004.
O gato Jatobá também foi encontrado na antiga linha do trem. "Nunca venho a pé de casa para o trabalho na hora do almoço. Mas naquele dia, foi o que fiz e encontrei o Jatobá, com uma bicheira muito feia na cabeça. Ele fedia à carniça quando o levei ao veterinário, que, inicialmente, não me deu muitas esperanças. O caso era muito sério. E ainda por cima era cego. Vim trabalhar e pedi para meu marido ir à clínica e decidir o que fosse melhor para o gato. Mas avisei que eu não queria saber. Quando ele veio me pegar no fim da tarde, não aguentei e perguntei sobre o destino de Jatobá, já temendo o pior. Ele me disse: "Um gato lindo, com aqueles olhos verdinhos e se esfregando em mim, o que você queria que eu resolvesse? Ele ficou lá pra ser tratado”, conta ela, emocionada. Jatobá é completamente cego de uma vista e só tem 10% da outra, o que lhe permite andar, subir as escadas da casa. "Depois ele teve um câncer, também na região dos olhos, mas se curou”, conta ela, que, além de Pedro Augusto e Jatobá, tem as tartarugas Tatá, Rosinha, Tadeu e uma sem pata (ainda não tem nome), que apareceu após a catástrofe de 2011. Tem os gatos Alfredo e Ana e a cachorrinha Mel, que apareceu após a enchente de 2006. Além, é claro, dos muitos passarinhos que vivem soltos e são alimentados por ela, diariamente. "Ainda bem que meu marido me entende”, diz Sueli.
As tartarugas completam a alegria da casa de Sueli
(Foto) Endyara e Lucas não dispensam a companhia da cachorra Hana
A "vocação” de Endyara de Souza Herdy para adotar bichinhos abandonados veio, segundo ela, da mãe. Hoje, esta técnica de enfermagem tem uma gata, e um casal de cachorros, todos vindos de situações bastante adversas. Branca Letícia, a gata, foi encontrada na rua, pela irmã de Endyara e passou a ser o xodó da avó delas. Já Pluto, era o companheiro de um alcoólatra, que vivia vagando pelas ruas da Ponte da Saudade. A dona de um bar, vendo a situação do animal, contou a história do cão para a Endyara, que resolveu adotá-lo. Hana morava em São Pedro da Serra, com uma família muito carente. "A mãe dela tinha sido atropelada e morreu. Ela vivia com esse pessoal, que nem tinha como se sustentar. Acabei pegando. Ela ainda era um bebê e hoje tem sete anos. Meu filho Lucas, que tem seis, diz que ela é irmã mais velha dele. Virei mãe de um menino e de uma cadelinha vira-lata autêntica”, brinca ela. "Os dois brincam muito.”
A paixão pelos animais acaba superando tudo, inclusive os custos para mantê-los saudáveis e confortáveis. Mesmo quando estão doentes. Endyara conta que já teve um cachorro muito doente, que acabou tendo que ser sacrificado. "O ‘Marrom’ foi deixado na minha casa pelos antigos donos. Eles se mudaram para Cabo Frio e deixaram o bichinho na casa. Ele sempre foi muito doente, frequentemente tinha que passar por punção para retirar líquido de seu corpo. Tomava omeprazol e diurético. Enquanto estava feliz, fomos levando. Mas foi piorando até chegar um dia que não deu mais. Estava sofrendo muito. Não podíamos só pensar na gente, no nosso sofrimento em perdê-lo. Foi sacrificado.”
(Foto) Com problemas decorrentes do atropelamento que sofreu, Alice cumpre o papel de mãe e amamenta seus filhotes
Ao ouvirmos Laila Namen dizer "as crianças”, "meus filhos”, logo pensamos se tratarem de seres humanos. Mas, são seus animais de estimação, a maioria, adotados. Aos 24 anos, Laila diz ter muitas histórias sobre seus bichos, mas resolve contar a que mais a marcou: a da cachorra Alice, que foi encontrada por ela, dentro de uma caixa, atropelada e grávida. "Em vez de ajudá-la, colocaram-na numa caixinha e a abandonaram. Levei-a ao veterinário, ela ficou internada e foi liberada, embora não conseguisse dar um passo. Cuidei dela melhor do que cuido de mim”, conta Laila. "Depois de duas semanas consegui que ela desse alguns passos. Dezesseis dias depois os filhotes começaram a nascer. O primeiro não teve problemas. O segundo não conseguia sair, tive que puxá-lo, mas ele nasceu muito mal. Não respirava. Eu comecei a massageá-lo e nada. Aí tive uma ideia, fazer respiração boca a boca, ou melhor, boca a focinho. Foi o que fiz até ele respirar. Foi a coisa mais emocionante da minha vida”, diz ela, que ainda teve muito trabalho nos outros partos. "O outro bebê ficou agarrado, não dava para puxar. Eu passava a mão na barriga da Alice, contava até três e mandava ela fazer força. E ela fazia. Nem todos acreditam nisso, que ela estava me entendendo, mas para mim houve uma conexão entre nós e o cãozinho nasceu. Os outros dois acabaram morrendo. Mas se Alice tivesse continuado na rua todos morreriam, inclusive ela”, afirma. "Cuidei de todas as crianças, castrei, vermifuguei, vacinei e consegui doá-las, mas fiquei com Alice. É por causa dela que estou indo realizar o meu sonho de infância, ser veterinária. Começo a faculdade ano que vem. Fiz três períodos de Direito, mas não gostei. Depois fiz cursos de cabeleireiro e maquiagem, que é a minha profissão. Estou abrindo até um salão, mas vou deixar com outros profissionais. Com Alice vi que tenho coragem para enfrentar situações muito tristes, como a dela e de seus filhinhos”, conta Laila que, atualmente, tem quatro cachorros e cinco gatos, incluindo o Suri, encontrado no lixo, no Rio de Janeiro.
(Foto) Ana Paula não mede esforços para dar o melhor para a sua "filha” Nina
Ana Paula Silva Gregório não achou sua cachorrinha Nina na rua, mas brigou muito para ficar com ela. Ganhou a poodle de uma amiga, mas como já tinha outra cachorra, a mãe foi contra. "Nina tinha 20 dias quando eu a peguei, ela estava muito doente, foi rejeitada pela mãe que não quis amamentá-la, quase morreu. Tive que dar leite de cabra para ela”, conta Ana Paula, que é costureira. "Ela tem epilepsia. De vez em quando passa mal, quando ela tem um ataque viro a noite cuidando dela”, conta.
Apaixonada pelo baixo, instrumento que toca na banda "Os Largados”, Ana Paula usa o dinheiro que ganha, com aulas de música e os cuidados e mimos para sua cachorrinha. "Ela é vegetariana. Adora frutas, principalmente banana. Toma leite, come cenoura e outros vegetais. Compro bifinho, palitinhos, tenho conta na loja de ração”, afirma ela, que mora em Varginha. "Minha mãe, que tinha sido contra, agora fala pra Nina: "Vem cá com a vovó”. Não me lembro como as coisas eram antes dela chegar, há seis anos, na minha vida. Meus melhores anos têm sido com ela. É incrível como ela sente quando estou triste. Nina é minha amiga, minha filha”.
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