Na próxima sexta-feira, 15, começa a segunda edição do Encontro de Bioarquitetura (EBA). O evento – que acontece em Nova Friburgo, até domingo, 17 – coloca a Região Serrana no centro da discussão sobre saúde, preservação e ambiente projetado. Para sabermos um pouco sobre o assunto, o Light entrevistou Michelyne Silveira, produtora do Encontro.
Light - Como surgiu o Encontro de Bioarquitetura?
Michelyne - A ideia surgiu durante o I Seminário de Economia Criativa, em maio de 2012. Vimos que seria interessante desenvolver um projeto que abordasse arquitetura e urbanismo e a bioarquitetura é um excelente caminho para aliar temas antagônicos: desenvolvimento e sustentabilidade. No mesmo ano, em novembro, realizamos o I EBA, que recebeu público de Brasil inteiro e da América Latina.
Como a bioarquitetura contribui para o desenvolvimento e a sustentabilidade?
Na realidade, contribui mais para a sustentabilidade. Num projeto de arquitetura que usa os conceitos da bioarquitetura há, por exemplo, aproveitamento da água da chuva, que passa a ser destinada ao uso nos lavatórios e na irrigação de jardins. Tem ainda a captação de energia solar e estação de tratamento de esgoto própria. Pode-se utilizar o chamado teto verde, de grama, que proporciona uma economia de energia com refrigeração artificial de até 45%, em relação ao teto de cimento. Os vidros temperados nas janelas também diminuem o uso de ar condicionado, já que permitem a entrada de luz com conservação térmica. Esses conceitos contribuem para o uso eficiente de recursos naturais, gerando economia a médio e longo prazo. Mas o maior benefício fica com as gerações futuras que sofrerão menos impacto pelo mau uso destas energias.
O uso dos conceitos da bioarquitetura na construção civil tradicional pode interferir positivamente na saúde do morador e usuário da edificação, como afirmam alguns especialista?
Acredito que sim. Desconheço os estudos científicos sobre o tema, mas o que se sabe é que os materiais usados nas construções tradicionais trazem elementos químicos tóxicos que ficam em contato permanente conosco. Na bioarquitetura se evita esses materiais. Quando um projeto é feito 100% dentro desse conceito, as paredes, por exemplo, são de adobe, matéria-prima natural sem química, composta por terra, água e esterco. Portanto o ambiente se torna mais orgânico, limpo.
A bioarquitetura é a arquitetura do futuro?
Difícil saber o rumo da história, mas sem dúvida seus principais conceitos – reaproveitamento de água, tetos verdes, iluminação natural e tratamento de esgoto próprio – serão fundamentais para viabilizar o crescimento das cidades. Se não pouparmos energia haverá um colapso no abastecimento e aí a vida vai complicar, principalmente nos grandes centros urbanos.
É viável popularizar esses conceitos em municípios de pequeno e médio porte, como Nova Friburgo, onde percebemos menos os impactos do consumo excessivo de recursos naturais?
O fato é que essas cidades não estão imunes a esses impactos. É preciso pensar que a água que sai da torneira vem de algum lugar, assim como a energia elétrica vem de uma hidrelétrica que também atende aos grandes centros. O importante é pensar micro para beneficiar o macro. O Brasil é constituído em sua grande parte de pequenas e médias cidades, sendo assim, o consumo gerado por elas acaba sendo maior do que o das grandes cidades juntas. O ideal é que as cidades da Região Serrana façam a sua parte. Pense suas edificações com a mente aberta aos próximos 30 anos, no mínimo. Se pudermos hoje, preservar nossos recursos naturais e as fontes de energia, as gerações futuras sofrerão menos eventos naturais como a tragédia de 2011, por exemplo.
Fale um pouco mais sobre o EBA.
Este ano o EBA conta com apoio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente através da Superintendência de Território e Cidadania, que trará uma oficina do projeto "Eco Moda”, visando o reaproveitamento de resíduos da indústria têxtil e de confecção de Nova Friburgo, numa parceria com o Sindvest (Sindicato do Vesturário). Segundo Marcelo Porto, presidente do sindicato, esta é uma parceria oportuna, já que o setor está se mobilizando para encontrar solução para o volume de resíduos sólidos gerados diariamente pela indústria.
O evento abordará o tema lixo?
Não profundamente. Esse tema merece uma abordagem mais contundente. No entanto quando se fala em bioarquitetura, agroecologia e permacultura está se tratando do tema lixo e resíduos o tempo todo. Todas as informações sobre os temas abordados estão na pagina www.eba.eco.br.
O II Encontro de Bioarquitetura acontece no Hotel Plaza Dominguez, do dia 15 a 17. Classificação: 18 anos
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