O Gama na minha vida e na vida de Nova Friburgo

sexta-feira, 01 de novembro de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Paulo Carvalho

Um barulho enorme, repentino e desconhecido me "ressuscitou” da cena em que eu, um improvável Jesus Cristo, me crucificava nos braços de Augusto Muros. Naquela hora, achei que o Teatro Municipal de Niterói estava desabando sobre a gente e sobre os espectadores que se amontoavam no chão, nos corredores, em tudo quanto é canto.

Eu estava de olhos fechados, de costas para plateia, e preocupado, perguntei ao Muros, que estava de frente: "O que está acontecendo?” E ele, que sempre foi mais calmo do que eu, respondeu emocionado: "Está todo mundo de pé, batendo palmas, gritando e jogando flores no palco pra gente”...

Acho que ano era 1970 e apresentávamos "A História do Zoológico”, de Albee. Faltavam ainda uns 20 minutos para o fim do espetáculo, quando vivi a maior emoção da minha vida nos 47 anos que tenho como fundador e integrante do GAMA.

Pois, naquele momento, através da arte, conseguimos a "glória” que qualquer ator sonha em viver: o aplauso uníssono em cena aberta! Conseguimos tocar, revirar a alma e o coração de 800 pessoas, instantaneamente, sem truques, sem claque, sem nenhum outro incentivo que não seja a emoção que surge descontrolada, feliz, integral!

Fiz questão de lembrar esse momento, ao aceitar o desafio de escrever algo sobre o GAMA. É impossível falar do grupo que ajudei a fundar, sem ficar emocionado. O GAMA faz parte da minha vida desde 1966 e, de lá pra cá, são cerca de 30 espetáculos e muitas outras emoções. Algumas mais intensas, ao assistir minha mulher Cil e nossa filha Luisa no palco, integrando o GAMA. Falta agora a Bia para manter a tradição teatral da família.

Mas, apesar da importância fenomenal que o GAMA tem na minha vida, tenho certeza absoluta que ela é mais fundamental ainda para a cidade e para os cidadãos de Nova Friburgo.

Acredito que se vasculharmos pela internet, dificilmente encontraremos uma entidade cultural de atividades tão variadas, com 47 anos de estrada em uma cidade do interior brasileiro, com tão pouco (ou nenhum) apoio oficial e que representa o município com espetáculos de sucesso, Brasil afora.

Falo sobre isso (a falta de apoio) sem me preocupar com o risco de ser mal entendido ou desmentido. Na verdade, o GAMA só conseguiu caminhar 99% de suas estradas culturais, graças ao esforço de seus integrantes e, principalmente, pela saudável loucura de um sujeito que se chama JABURU.

Tendo usado letras maiúsculas para apenas duas palavras em todo o texto, deixo ao GAMA, entidade jurídica premiada e reconhecida em todo o país e ao JABURU, entidade múltipla e utópica que orgulha a nossa cidade meu sincero agradecimento por tantos momentos de emoção e orgulho que pude viver, graças a eles.

(Paulo Carvalho é jornalista e apresentador do SBT)

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